23 de setembro de 2018

bandeira II (colagem)

adão atravessa a rua, numa tarde qualquer de 2018,
vestindo a camisa de um poeta negro,
isso em 1887, à espera da primeira caravela
isso em Baltimore, 1940,
isso no Carandiru, 1992
isso sempre uma ventura

manuel levanta-se da cama, ainda de pijamas,
e mostra à janela, a quem quiser ver,
seu corpo magro,
seu pênis tímido
sua tosse amarela,
suas melhores bandeiras

florbela lambe, com máxima delicadeza,
o sexo de sua amiga
cujo nome desconhece
e pelo qual não se interessará
até que ela vá embora.
horas depois, moderna que é,
escreve um poema sobre a rosa mais rosada
vai ao orelhão mais próximo,
liga pra seu primeiro e casto amor
marca um encontro de saudade
& o espanca.

gertude
cruza a avenida central
entre tiros e vírus
pra tomar uma água de coco
de mãos dadas com alice-bi-tocas

(tudo isso porque os corpos se entendem
mas as bandeiras não)

bandeira I


o plano A é aceitar
que esquecemos nossas mãos
em algum ponto da História
e que não há mais o que se fazer
a não ser lançar do alto do mar de névoa
nossos votos de amor, comunhão e política

o plano B é pegar
um Biplano
e arrastar uma faixa onde se lê
vamos fugir desse lugar, beibê
por dentro de todos os asilos
por dentro de todos os presídios
por dentro de cada barraco
onde beibê faz amor com outras pessoas
& declara apoiar candidatos que desejam nossa morte

o plano C é Cair
o biplano
por falta de autoaceitação e
gasolina
na última das ilhas desertas
&
para desespero
de Crusoé
fazer-lhe cia
declarar-lhe antigo amor
dar-lhe apoio e asilo
político