
militarmente cansado
como se não descansasse mais do que duas horas
desde 1964
bolsonaro entra no quarto, banha-se, janta &
antes de fechar os olhos
em algum quarto de hotel brasiliense
dedica à família um último pensamento:
será possível se criar
no calendário nacional
um dia só para a laura?
então adormece e sonha com seu pai e sua mãe
& acorda e sonha e acorda e sonha e decide
após vinte polichinelos
sua primeira ação:
a criação de um semáforo para os cães
atravessarem a rua sem danos
toma café, dá despachos, dá ordens aos outros
depois se tranca no banheiro e dá ordens a si mesmo
e almoça, dá entrevistas, recebe abraços e tapinhas
depois se tranca no banheiro de novo e chora um bocadito
e antes que se esqueça
(sua cabeça é muito ruim coitado)
rabisca num papel toalha uma novo lembrete
vai bem a ordem
vamos bem com progresso
na branca faixa da bandeira nacional daqui pra frente se lerá
ONÇA PINTADA & TAMANDUÁ
e volta ao gabinete, usa telefones, dá ordens aos outros
depois se tranca no banheiro para ver vídeos do zap zap
até a hora de ir embora
e aí janta, ouve e manda áudios aos filhos queridos &
antes de dormir
pergunta ao carlos como se manda tomar no cu em inglês
fuck you @trump talquei
então bloqueia o telefone, ri consigo mesmo seu melhor riso, reza
& adormece e sonha e adormece
& quando enfim abre os olhos resolve:
é preciso criar o Ministério das do Gueto, da Fome,
o Ministério dos Pobres o Ministério Trans, o Ministério da Laura
é o melhor o brasil ir se acostumando a olhar pra si mesmo
Imagem: "Papa-vento" (1956), de Cândido Portinari