25 de outubro de 2008

Meu coração de Neandertal

Meu coração de Neandertal
joga-se em nevasca sem receio ou vontade:
vai porque é hora,
vai porque o tempo que se move
e é preciso alcançá-lo.
Meu coração de Neandertal
ignora a razão e os atalhos da evolução,
invade terras,
desmanchas limites,
é escravizado pelo vento.
Meu coração embevecido de ilogismo
ri de si mesmo,
come a si mesmo,
e se ensimesma
em pensar por que razão ainda resiste.
Por que resiste meu coração?
Por que não pensa,
não conjuga o tempo em suas multi-eras?
Esse meu coração,
tem a coragem firme de quem abriu mão do amor,
possui o frio infantil de quem se isola, em pensar que nada precisa.
Nada preciso. Tudo me é abstrato.
Meu coração de Neandertal
passa, árido, por mil outros corações subdivididos
em várias classes e órgãos,
e passa por eles,
como quem atravessa uma neblina
(Se está com os outros, está sozinho; Se está sozinho, está com os outros a seu lado...)

Esse meu coração ignorante,
sente prazer com o frio da solidão,
crendo que isso é heróico,
sei que caminho para a morte
em plena segunda-feira,
mas não ligo,
pois todo dia é a mesma rotina:
olho a linha afiada do horizonte,
afugento Deus, Diabo, mulher e filhos,
e corro,
não por medo, nem por vontade;
corro porque tenho que ir;
corro por que é o único caminho que resta.
(Os outros estão iluminados, abrindo passagem para as procissões).
Minha mente violentada,
assiste imóvel ao coração me levando para o precipício,
mas ela não chora, não se irrita,
não se abala,
simplesmente acata, subserviente,
sem pensar se abraça o bem, ou se beija o mal;
ela, mais do qualquer outro sabe,
que ninguém explica,
meu coração de Neandertal...