31 de agosto de 2008

"Esses teus olhos"

Esses teus olhos,
tão frios, cheios de miados e ganidos seguros
fitam-me, enlaçam e remetem meu coração
à primeira fila do sub-desentendimento.

Esses teus olhos estranhos
procuram os meus por um motivo masturbante,
menina selvagem travestida de porcelana chinesa,
Porcelana vagabunda com requintes de gata no muro

Esses teus olhos frios, mendigos
estendem suas mãos e recusam e devolvem o troco:
olhos de brasa angélica, gélica de gelo ardente.

Como um soneto sem versos,
Esses teus olhos, se teus mesmo,
Assustam-me, pois não fazem sentido.

Internato

Uma porta atrás de mim se fecha,
mas o vento vem pela frente.
Pequenos elos destoam,
ferrolhos se esgueiram pelos beirais e rodapés.
(A luz pisca, reafirmando a continuidade do tempo)
Trancado. Preso. Enlabirintizado
Dois passos se cruzam e se cumprimentam,
o chão tem ares de parede,
e o meu sentimento é da cor do teto.
(Confesso-me todo sábado, mas nunca confirmo meu endereço).

A pia

(Em minha gramática matinal, o sujeito oculto cai logo ao primeiro toque)

Na pia,
as mentiras ontem implantadas,
hoje laminadas,
amanhã repostas.
Produtos da idade:
anos-bebuns,
anos-vagabundos,
anos-felizes.
Anos idos. Partidos.

A vida de sempre, de volta ao ralo.