1 de novembro de 2008

O coveiro

Varre a terra,
Atento à sua movimentação.
A hora incerta
(é sempre meia-noite?)
Convida-o a não pensar em nada,
E mais do que isso,
O silencio incita-o
(deslumbramentos de menino):
“Aqui é tudo tão frio, tão largo, tão boca aberta...”
Sentado num túmulo,
A enxada apoiada;
Descansa o bom homem,
Enquanto terra e ar noturno,
(dois lábios assimétricos)
Atraem-se, e exalam sobre ele,
O quente e doce hálito da memória...

"M"

A
todos
que me
perguntam,
eu apenas digo:
ela foi tão-somente
um vago acontecimento,
mas no meu peito
trago imagens
imemoriais
cravadas
por ti.