27 de abril de 2014

um poema de Roberto piva

ANTINOUS 

                                     (movimento de árvores)




são questões

                    terça-feira eu prefiro você bem

                                                                   louco

minha palavra & nada que você acredita

poderá acontecer: ostras olhos injetados Hegel

durma com suas violetas do subúrbio

                        a cidade tosse como

                        um índio com febre

São Paulo acorda em suas coxas

                 docemente

       banho quente com vapor

           em espiral flocos de

           samambaias eróticas

assim que você espreguiçar eu estarei

                                                         sangrando


*

Roberto Piva. In: Antologia Poética. Editora L&PM, 1985.

21 de abril de 2014

a farpa nasce
e é sua própria morte

vem de onde
não se espera
de madeiras
e braços
insuspeitos
como horizontes.

vem de onde
não se espera
desconhecida
por sua própria
superfície.

não é espinho.
sem função
senão ferir e morrer
ou ser
para sempre
ignorada parte
da porta.

você mesmo
possui farpas no olho
e não sabe.
aperta aperta
a lata
e nada.

se pêssegos ou sardinhas
o rótulo diz
o que ali se guarda.

até que se abra
e se revele
encerrará
antiga
uterina angústia

ao primeiro rasgo,
surge uma réstia
um respiro.

14 de abril de 2014

Esta égua que pasta a geografia
de meu túmulo
deu-me
o leite dos infernos.
Na emboscada do cio
seu fogo
fustigou-me o fígado
e fê-lo
estigma, lama. E a sina,
do verbo corrompido fez o signo-fruto
corroído
que ela enterrou e canta.
SEU COICE FOI INFINITO.

*

Max Martins
Extraído de "Não para consolar", Edições CEDUP, 1992.

8 de abril de 2014

são cinco horas ainda
sob o teu nariz
meridiano
a cortar
o mundo que é
seu rosto

sopro sobre
seus
cabelos
e faço girar
milhões de
castanhos
cataventos

mas você
não se move
nem mil trompetes
poderiam te acordar
se ainda não é a hora

o teu corpo
como todo e qualquer mundo
nunca será bagunça
por mais bagunçado pareça

cinco e meia.
um pouco de remela
ao leste avisa:
mais um dia nasce
no mundo que é
seu rosto

**

isso aí vem de uma brincadeira do daniel , que consiste em montar poemas que tenham determinadas palavras. nesse caso, era preciso fazer um poema com as palavras meridiano, remela, cata-vento e trompete.
tem mais uns, mas não acho que ficaram muito bons, por isso só mostro esse :^
não faço a menor ideia de como resolver o caso daquela página que pede um poema com  "almôndegas", "guilhotina" e "ouriço".