30 de novembro de 2022
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15 de novembro de 2022
Se eu sei cantar o amor
se sei o nome de cada músculo da face do meu amor e o melhor modo de acaricia-los
mas recebo com desconfiança suas conquistas
com medo de vê-lo voar para longe
de minhas mãos covardes,
... Então... não há liberdade.
Se eu esquecer o fato elementar
De que vivo provisoriamente
Sobre terra indígena
E que o sonho da casa própria para meu filho
É um sonho branco e desmatado
Então... então, não há liberdade
Se eu largar tudo,
Jogar trabalho e família pro alto
viajar loucamente pelas estradas
mas nunca deixar de avisar
meus seguidores da ousadia
das minhas dores de algoritmo
Então, não há liberdade.
Se e quando eu chegar aos 84 anos...
Não estiver com o desejo de
aprender uma nova língua
de aprender um novo trampo
de dar bananas ao capital
de novamente me apaixonar por um estranho
Entao, então não há liberdade.
Se eu criar um parque lindo e amplo
Para as pessoas da cidade
Mas não garantir comida barata
e transporte público de qualidade
para quem mora nas margens
poder viver a cidade
Então que se exploda esse parque de merda
Se sempre saem versos loucos e livres de minha lavra
mas nunca uso o poder da palavra
para pedir Liberdade aos irmãos
trancafiados sob um sistema injusto
Então... então sou um grande covarde.
Se eu nunca de fato me engajar na luta
Se eu falhar em convencer cada companheiro
que se acha pouco criativo
que se acha sem graça
Que se acha azarado ou perdido
que cada um a seu modo modo fortalece a luta coletiva, que precisamos da criação e beleza de cada um, de cada um.
Então, poderei vencer batalhas, poderei obter algum destaque
Mas ao fim não haverá liberdade.
Se tarde da noite eu concluo tudo isso
E delicadamente me abstenho de ligar para o meu amor
E lhe contar como cresci e amadureci longe dele,
E contar como sobrevivi ao enterro dos meus erros... ah...
Se eu respeitar a distância e o silêncio
o tempo e o vento
Se eu amar esse alguem a ponto de amar o vento que o leva leva leva leva leva leva
para bem alto e aprender a me amar e amar
o velho amor em novos rostos e nomes
Aí... talvez.. para esse velho amor, seja muito tarde.
Mas dos sonhos de cinzas e chamas que lembrarei essa noite
certamente emergirá o pássaro azul da LIBERDADE.
11 de novembro de 2022
Truque
A) eu quero subverter o desejo,
de ti não posso nada mais esperar
se não o impossível
como todos que se põem às
camas mesas e banhos
eu quero o mesmo
um sentido, um motivo
eu quero subverter o desejo
até que esteja ele todo em riscos
B) por conta de um derrame,
não posso sair de casa ainda.
se tens pressa para o amor
deslize pra esquerda minha foto
por favor
C) eu tenho um metro e noventa e quatro
sempre que possível deixo esse aviso
sair com alguém e não vê-la estragar tudo
mais bonito é o corpo rebelde e insubmisso
D) meu amor demi te quer sempre por perto
viciado pelo capital, apaixonado pela liberdade
busca, se amando mais em dias inconstantes,
reconhecer, no zunido da brisa, sinais de afeto
E)
sem antes saber, não gasto minha tinta
você sabe aqui, em mim, o que quer?
vou repetir, me importa que não minta:
sabes, por si, o que faz teu querer aqui?
Z) eu quero... quero embaralhar o desejo,
de ti não posso nada mais esperar
se não o impossível
corpo envolvido
em nuvem nenhuma
a explodir em mínimos toques
num bailado, num rastilho
eu quero subverter o desejo
até que esteja ele todo em riscos
6 de novembro de 2022
Quando a saúde mental tá por um fio
equilibro o coração na ponta da caneta
sempre na vanguarda que não escolhi
a de ousar e experimentar de sempre criar
novos modos de apesar de tudo ser feliz sertralina, ritalina, psilocibina
Se dependesse de mim... era só pão com margarina...
o trabalho nos afasta, obrigações nos afastam...
mas é nossa falta de engajamento
nas discussões sobre saúde pública
o que mais nos mata!
se vc não pode estender a mão agora
tudo bem, eu espero
mas lembrança de afeto
pq é setembro amarelo
eu não quero
precisamos de políticas públicas
mão com mão e
organização política
do contrário não vamos
não vamos não vamos
salvar essas vidas
se vc não pode estender a mão agora
tudo bem, ³eu espero
mas campanha virtual
stories com prazo de validade
pq é setembro amarelo
eu não quero
nada cura mais do que políticas públicas para todes,
medicamento e terapia pelo sus, toda semana!
nada cura mais que café quente pão com margarina
na companhia de quem se ama
5 de novembro de 2022
Devir
há um golpe em curso, nas ruas
e é preciso ir às mesmas ruas dizer não
mas que ruas se nunca mais as
juntos ocupamos, desunidos, senão?
haja copas dos mundos para
unir as pessoas, há muito distantes
separadas por uma pandemia, ou antes
separadas pelo vazio de um mundo virtual
sem toques, sem abraços e rompantes
pesada jornada de trabalho semanal
jornada de trabalho materno um eterno
abre e fecha levanta e cozinha e canta
canções de ninar operários
jornada de trabalho de 44 otários semanais
contado nos dedos do chefe o horário do lanche
tempo para a cultura para ocupar as ruas jamais
acompanhando o protesto o passeio a fanfarra
podíamos ser e fazer muito mais
mas a gente trabalha e trabalha e de noite se esbarra
nas igrejas nos estádios nas festas em casas noturnas
nas ruas não muito, fosse a gente o que pode ser:
mais, mais, muito mais
nossa luz interior parcelada em cinco vezes no cartão
a gente trabalha e trabalha e de noite se encurrala
em camarotes pistas premium sem os parques ver
no trânsito nos bares nos motéis nos cruzamos
nas ruas não muito, fosse a gente o que pode ser:
mais, mais, muito mais