20 de abril de 2019

febre amorosa

malditos mosquitos
como é que explico
a quem amo
o medo que tenho
de todo tipo de malária
sem me complicar
sem me assumir
sem dizer que morro
romantizo e me deprimo
e o amor no meio disso tudo
arde entre outros sintomas
em confuso amortecimento
e quanto mais minguado fico
mais minto
mais morro
mais sofro
de males e dores diversas
padeço somatizo definho
ao meio me divido
num amor de plástico que
quebrado em mil pedacinhos
volta à forma só após 3 dias
       de atestado
sádico
ai a misteriosa marola de passagem pelos dias
pudesse eu me declarar honestamente diria
te amo com toda a minha hipocondria

7 de abril de 2019

rascunho acaze nº boom

eu sou poeta
encaro sem enfado
a página em branco
e digo: hoje não tenho nada a dizer

amo o silêncio
e aceito a falta de imaginação
como parte do fado.

escolha a palavra com cuidado
com peso redobrado
uma por mim
outro por cada polícia
que não a utiliza
antes de no pobre atirar

eu sou poeta
leio os gregos do jeito que posso
com todas as crises e limites
e toda minha ignorância
imagino os africanos
os poemas somente cantados
para sempre presos
na borra do café

sou muito amigo daqueles que
por aqui nunca serão traduzidos
dos que pensam em versos de pé no ônibus
e esquecem ao primeiro beliscão do patrão

acredito sobretudo nos que se movem por paixão;
antes de qualquer ofício, nome ou diploma
o afinco e amor pela forma
do bolo, dos pães, dos poemas, dos raps,
das vendas, plantações e matemáticos sistemas
sou amigo do Michelangelo dos portões eletrônicos
e amo a obra completa do X-salada
(aquele ali ao lado da danceteria)

o bardo vaidoso talvez dissesse,
"eu trabalho com a linguagem,
e como poucos outros
posso conter o mundo em mim"

o bardo vaidoso é o fura greve da arte;
alguém precisa contar a ele
que foda mesmo só arquimedes
e sua alavanca
o resto é literatura...

eu sou poeta
acaze é poeta
jesus cristo era poeta
e amava o silêncio
      - não mais que o vinho o pão os peixes & maria madalena
mas amava