25 de junho de 2011

inquebrável poema,
paulcelanato
 divã para os corpos
bisturi para as almas
muita coisa se faz
sem as devidas armas

24 de junho de 2011

é bom pensar em ti como imagem
esquecida duquesa pelo baralho
a morar para além dos ônibus e hospitais

e assim,
virtual vírgula
a morar na imperceptível pausa do orador
você se equivale a qualquer um que não vejo
à figuras móveis a deslizar pelo salão de conveniências
como se o não visto não fosse
(e não é)

invisível
talvez faça amor com outro homem ou mulher
na ranhura do tabuleiro, esquecido quintal, uma casa mexicana
quase-ímpar, você existe,virtual,
desvirtuosa maneira de amar
a ponte o pênis o pênsil

22 de junho de 2011

e quem vai cumprir o impossível mandamento
de amar adeuses sobre todas as coisas

21 de junho de 2011

algo parecido com a felicidade

"Ao cabo de três assaltos o treinador parou o combate e desapareceu dentro da casa seguido por Merolino.
-- O massagista está esperando, disse o jornalista.
-- Quem é o massagista? -- perguntou Fate
-- Não o vimos, acho que nunca sai ao quintal, é cego, entende?, cego de nascimento, que passa o dia inteiro na cozinha, comendo, ou no banheiro, cagando, ou estirado no chão do quarto lendo livros no idioma dos cegos, aquela linguagem, como se chama?
-- O alfabeto Braille -- disse outro jornalista
Fate imaginou o massagista lendo num quarto completamente escuro e teve um leve estremecimento. Deve ser algo parececido com a felicidade, pensou."


Roberto Bolaño, 2666, (pg 272)
Tradução de Eduardo Brandão,
Companhia das Letras, 2010

19 de junho de 2011

e essa vontade de amar
pessoas do outro lado do oceano
do outro lado do tempo, talvez já mortas
a beleza conservada na tela do cinema,
ai auden,
enquanto joões e marias, tão vivos, na rua
corpos desinteressantes, areia pesada
inimaginável dormir sob
e então de novo a ansiedade me assalta sobre o chuveiro
essa vontade, e breton diz a beleza será CONVULSIVA, ou não será

será?

(se houvesse onomatopeia pra amar,
talvez piaf, piaf)

 e então paris volta a boiar,
um banho quente

como se isso matasse
urgentes vontades

17 de junho de 2011

quisso, Alfaguara?



E chega às livrarias o livro "Peregrinos", antologia de contos de Elizabeth Gilbert.
Sai pela Alfaguara, que vem publicando muita gente boa.
Gilbert é autora dos livros "Comprometida" e "Comer, rezar, amar"

Pergunta: diante disso, é possível que gilbert seja uma contista de qualidade?
Meu preconceito literário não acredita nessa possibilidade.
na contracapa, trechos de resenhas elogiosas do times e outros jornais.

Mais uma vez, digo
se alguém ler, mande notícias, purfa.

11 de junho de 2011

em flannery o'connor, o céu nunca é somente o céu

(claro, na tradução de J. R. O'Shea, Editora Siciliano, 1991)


do conto "Salve sua própria vida":

"A lua gorda e amarela apareceu nos galhos da figueira, como se fosse se empoleirar ali com as galinhas."

do conto (frase final) "Um templo do Espírito Santo":

"O sol era uma imensa bola vermelha, como uma hóstia elevada, encharcada de sangue, e quando afundou, desaparecendo de vista, deixou uma linha no céu, como uma estrada de barro vermelho boiando acima das árvores" 

(essa merece que eu busque o original. Ei-lo!)

"The sun was a huge red ball like an elevated Host drenched in blood and when it sank out of sight, it left a line in the sky like a red clay road hanging over the trees."

do conto "O rio":

"Ao pé da colina, a mata se abria bruscamente em um pasto salpicado aqui e ali com vacas de pêlo preto e branco e que descia, nível por nível, até chegar a um riacho largo e alaranjado, no qual o reflexo do sol se sobrepunha como um dinamite."

do conto "O círculo no fogo":

"O sol queimava tão avidamente que parecia disposto a atear fogo em tudo que estava à vista"

novamente, o conto "O círculo no fogo":

"A menina se embrenhou pela mata, e as folhas caídas soavam ameaçadoras sob seus pés. O sol subira ligeiramente e não passava de um buraco branco em um céu escuro, como uma abertura por onde o vento podia fugir, e os topos das árvores eram negros em contraste com o clarão."


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É claro que a leitura desses trechos é bem diferente se inserida dentro do contexto dos contos...

(Aliás, é interessante como em muitos desses contos, a metáfora do céu (na verdade, o sol, a lua, as nuvens) está intimamente ligada aos enredos. Caso da metáfora de "o círculo no fogo", conto que termina com uma cena piromaníaca, ou ainda a metáfora de "um templo do espírito santo", no qual a descrição do sol feita pelo narrador, "como uma hóstia ensanguentada", dialoga com uma cena anterior, na qual a protagonista observa um padre erguer a hóstia.)

mas a intenção foi mostrar a alta carga metafórica do texto da flannery.
e que carga.

7 de junho de 2011

I

viagem ao centro do quarto:

acabo de comprar mais uma passagem secreta
para atravessar a nada
esse vestíbulo

vocábulo perdido,
este quarto será eternamente do filho
ainda que filho não seja mais,
para sempre da palavra filho
para sempre gesto vago nas festas, estátua nos retratos

filho agora é homem feito

pedra
no meio do quarto,

II

viagem ao núcleo
da família:

furioso o penitente escava
es (cava) lo
atrás da porta trancada
a sete chaves, dentro de outros sete molhos
a tremelicar sob a lâmpada,
como se raios escuros de um sol inverso
penitenciária do desejo,
vou te contar como eram aqueles tempos em quadrilha
eu era jovem
e queria
contar às ondas onde se escondem os portos

III

do meu vô guardei arte de rimares
"o que passou passou/azar foi seu"
meu avô deitado
sob as cobertas dizia: estou fazendo malabares
só vivia deitado meu avô
faquír dos ossos de minha vózinha
um dia ele sumiu
foi viajar
disse meu pai

azar o dele,
me ocorreu


IV

tá comigo tá com ateus, taxei o bordão
a bordoar a cara gorda de minha tia rezadeira
anjo da guarda, meu bom amiguinho
guia esse minino
quantos cavalos no sonho
faltam-me dedos
para escavar

5 de junho de 2011

"Todos los días se cumple el aniversario
de un atentado"

- marina mariasch

(lembrando que,
se estivesse vivo,
fulano estaria fazendo hoje
seiláquantos anos)

4 de junho de 2011

"a quantas anda a vida"

vou deixar que minha mesa conte por mim:


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O que diz ali no selo azul, no alto da capa: "O livro do ano, e do século" - The Guardian


(como pode um livro lançado em 2010 (ou 2009, agora não sei), ser considerado o livro do século?)

esse livro me cheira a "romance-assusta-classe-média-americana"

se alguém ler, avise-me. atualmente franzen ocupa a posição número 232353545 da lista de porler.