26 de fevereiro de 2012

Um brinde a uma seção desaranhada da nossa garagem

me esforço pra ser original para você,
mas tomo o mesmo café todo dia
e aperto o passo quando chove,
então, não sei.

23 de fevereiro de 2012

22 de fevereiro de 2012

faça de conta que isso é um telegrama imenso: se faltarem explicações, se palavras forem cortadas, foi para deixar mais barato. telegrama imenso, haicai de três folhas, trevo de cinco dedos e oh meu deus, nunca consigo dar as respostas que você quer, sempre te ofereço esse buquê de saídas, portas que levam a novas perguntas, e assim passam-se as horas e os dias e parece que nunca saímos daquela conversa no telefone, vc me dizendo o quanto-me-gusta-and-how-disgusting-is-it, e eu ali coçando a ponta dos meu dedos, essa arte que vc sempre ignorou, e eu ali dizendo sim, também te gosto, sim, meu nome é amália, e eu agindo como se do outro lado estivesse um atendente de telemarketing qualquer, e talvez seja um pouco disso, talvez do outro lado vc me convencesse, por meio de elogios e anedotas a comprar algo que não queria, e eu não sei meu cpf, aguarde na linha um instante, sim?
e vc aguardou, e guardou isso na testa como um troféu, veja como sou paciente, como se isso garantisse qualquer coisa: amor não é maratona, querido. e vc me pergunta na carta se sei o que é o amor: se soubesse estava longe e rica, vc sabe. não o entendo e não sei como se chama: o que sei do amor é aquilo que ele não é, e isso sempre me bastou
te deixo uma lista:




eu não sei, claro que não sei. como não sei o que me move a te escrever e procurar duas ou três respostas que acalmem essas 18 perguntas (eu contei) que vc manda na sua cartinha. gosto de vc e te quero bem, e é uma pena, eu tenho vontade é de escrever carta maldosa e sarcástica, sempre sonho com brigas homéricas, sonho com gente puxando briga comigo por carta, irmãs e amigas, só para eu poder mandar algo à altura. mas isso quase não acontece: a maioria é gentil, como vc é, um poço de gentileza, um poço seco de gentileza cravado num deserto de gentes. o mundo é gentil. falsos ou sinceros, o mundo borbulha de gente bacana, bonita e gentil. seu pária, não é disso que preciso. 
(acho que com essa última frase eu respondo 4 ou 5 das tuas perguntas).
tua carta toda é um convite a olhar pra trás e ver o "que deu errado",
embora eu não goste desse teu jeito prático de ver os erros:
amor não é carro que vc levanta o capô, mexe no motor e logo encontra
as falhas. [o amor não é tanta coisa, me lembra meu avô que saía 
de madrugada pra jogar cartas e voltava seis da manhã para uma 
chuva de imprecações de minha vó, a dizer vc não é uma formiga,
um cocozinho de barata, vc é menos que areia, seu puto, mas isso
é uma história velha e vc chegou num ponto que não quer mais ouvir
minhas histórias. vc quer saber onde tem erro, vc quer okays
e continências, ok, vamos lá], vamos à sessão espírita, pq nisso acredito: isso de olhar pra trás é ver nossas vidas passadas:
à cada dia nos reinventamos,
somos outros no dia seguinte,
então pare de olhar pra trás e me apontar: aquela não sou  eu.
é fotografia, carcaça alegre de cobra,
um casaco que larguei no banco da praça
porque o calor estava imenso
como este telegrama
Sim, houve alegria
E dias toscos, noites sem sentido e algum sexo,
E discussões mornas e dias em que a luz acabou, e tardes de chuva, piadas sem-graça que seu tio contava nas vezes em que te visitei. Houve milhares de eventos e cada um deles tem um pedaço perdido, e se unidos talvez explicassem porque estamos assim um contra o outro:
teu nome num lado da carta e o meu nome na outra
Mas não dá para montar, o tempo vai roendo, imperturbável, essa porta que um dia escancaramos naquela conversa de telefone. Nossos erros, como o amor, não tem nome, bebê. Faça de conta que a vida é um telegrama imenso, repleto de palavras e ainda assim cheio de lacunas. O que não entender, invente pt saudações

21 de fevereiro de 2012

a esfinge sempre ganha: o enigma é sempre um outro além deste que ela canta

18 de fevereiro de 2012

Um poema de Jeffrey McDaniel

The quiet world, na tradução de Mauro Faccioni Filho
Catei da Revista Babel, nº 1.

Especialmente pra Samia Schiller, que tava afim de conhecer um poema novo.
Acho que já mostrei esse poema pra Roberta Bittencourt e ela não gostou.
Então se vc passar por aqui, Roberta, ignora, queridinha.
Acho que o Hobbyson R. dos Passos iria gostar desse tbém.

ó:

O MUNDO SILENCIOSO
num esforço para que as pessoas 
olhem mais nos olhos umas das outras, 
e também para satisfazer os mudos, 
o governo decidiu determinar 
para cada pessoa exatamente cento 
e sessenta e sete palavras por dia.
quando toca o telefone, ponho-o ao ouvido 
sem dizer alô. no restaurante 
aponto para a canja de galinha.
estou me ajustando bem ao novo jeito. 
tenho estampas para todas as ocasiões. 
cada manhã invento uma nova frase 
que imprimo numa camiseta, 
como Os Seres Humanos Estão Vindo 
ou Karaokê Para Mudos.
tarde da noite, ligo para meu amor distante, 
orgulhoso digo somente gastei cinqüenta e nove hoje.
guardei o resto para você.
quando ela não responde 
sei que usou todas as suas palavras 
então sussurro lentamente eu amo você 
trinta e duas vezes e um terço. 
depois disso, ficamos junto à linha 
ouvindo um o respirar do outro.

15 de fevereiro de 2012

anibal cristobo

amei,

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PUZZLE DE MONTANHAS CHINESAS
 
Uma chuva dispersa, disposta
no nonsense: sobre a alfombra
tomávamos o chá e ordenávamos
desde nossa destreza, os fragmentos
de bruma. "O olho, a sensação
da memória recente: tudo isso
 
como uma porcelana
ou um bambu, crescendo sob o ritmo da conversa,
nosso próprio ideograma."
 
Outro idioma: a relação, revelação
do trabalh e a forma.
A cabana no alto.
 
Nosso jogo: uma acumulação
de diferenças,
uma imagem perdida,

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anibal cristobo.

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obrigado, samia! 

5 de fevereiro de 2012

Isso não é uma resenha, tá. É só uma conversa de msn.

kawa, bata.
deixa eu colar um pedaço aqui pra ficar claro o que vou dizer.
é uma leitura muito diferente, este kawabata
por ser oriental, japones, ele meio que me pega com olhos habituados a livros ocidentais
daí estranho esse livro, o jeito como ele narra, as coisas as quais o narrador da valor, enfim.
a verdade é que acho sem graça.
te entendo muitíssimo
Mishima é o cara
baby
Eu acabo comparando com o livro que li do mishima
e ele, mishima, apesar de tbem promover esse "choque" de cultura
pq esses japoneses adoram falar de templos e costumes deles, nunca vi
vc nao leu o melhor do Mishima
eu insisto
EU SEI
só um.
O MARINHEIRO QUE PERDEU AS GRAÇAS DO MAR
ok.
nunca esqueça diss
o
ok
eu ia dizendo que o mishima ainda desce bem
apesar das peculiaridades, se aproxima do jeito ocidental de contar histórias
é
ele me lembra Lispector
pq ele faz analise psicologica dos personagens
ISSO
mas o kawabata não.
é como se ele não conhecesse por dentro os personagens
e ficasse descrevendo seus movimentos e intuindo, aqui e ali, os sentimentos deles.
não é nada introspectivo.
esse livro é todo de imagens.
ligadas à natureza, sobre tudo. ele é minucioso.,
e totalmente afeito a descrever coisas, costumes, festas, pratos
daí eu choro.
OLHA

>
"O enrolado do yuba assemelha-se ao enrolado de enguia - que inclusive leva o mesmo nome -, mas o dessa casa consiste em bardana enrolada no yuba. o yuba-de-peonia traz sementes de ginkbo envolvidas em laminas de yuba e tem um aspecto que lembra o hirousu"
pqp
só faltou dar o tempo de preparo e quantas porções rende.
tem mto disso no livro
essas descrições de costumes e habitos japoneses, des festas, hierarquias, enfim.
isso é horrível nao?
(assim como achei excessivas os comentarios sobre templos e hierarquias religiosas no livro do mishima. Mas isso é japao, acho que aqui eu que estou errando)
SIM
e enfim
nada acontece nessa porra
E TEM MAIS CRITICAS
eu sei
japoneses são contidos
é uma cultura totalmente diferente
a forma como eles demonstram as emoções
mas mesmo sabendo
não consigo deixar de estranhar, né.
o livro conta a historia de Chieko
que foi abandonada na casa de dois comerciantes burgueses
que criaram ela com mto amor etc
um dia
ela descobre que tem uma irma gemea, meio pobrezinha
AGORA VEJA A CENA.
a chieko andava desconfiada
ja tinha vista a moça uma vez e tal
e um dia encontra ela de novo e se aproxima dela
veja como kawabata narra
duas irmas gemeas
se reencontrando pela primeira vez
[chieko se aproxima da moça. elas nunca se falaram nem se olharam de frente antes disso]
"A jovem encarava chieko como se quisesse devorá-la com o olhar. --Porque orava tanto? Perguntou Chieko. / -- Estava me observando? -a voz da garota tremia- É que queria saber o paradeiro da minha irmã mais velha... Oh!... Mas... Mas é minha irmã! Foi a graça dos deuses que nos ajudou - As lágrimas transbordavam dos olhos dela.
Não havia dúvida, tratava-se daquela jovem da aldeia dos cedros de Kytayama
"
meus olhos ocidentais acharam isso tão cafona.
extremaly!
fuck
mas enfim
devo terminar
preciso ler mais japoneses. me habituar.