30 de setembro de 2009

os poemas de antes

Gostei dessa história de postar poemas antiguinhos. Ótima tática para situações como a que eu me encontro: cheio de coisas a fazer e pouco tempo.
Enfim, aí vai mais um. O anterior era uma brincadeira com o A. de Azevedo e esse faz referência a um poema do Manu Bandeira, "o poema retirado de uma notícia de jornal".

POEMA RETIRADO DA SEÇÃO DE OBITUÁRIO

Joinville, 1º de Janeiro de 2008

Ontem, no horário de sempre (à meia-noite)
faleceu josé. Morreu na casa de sempre
vítima de causas habituais
O falecido será reenterrado, hoje,
no cemitério do bom ano
O morto deixa, dessa vez, cinco filhos e a esposa.
De sempre.

Vida eterna para josé.

27 de setembro de 2009

O novo mal do século

olá pessoas. Em tempos de pouca criação, ando desenterrando uns poemas velhos, do ano passado e do retrasado. Muitos carregam grandes defeitos ou escorregam em clichês. Ainda estou cheio desses defeitos, mas pouco a pouco, tenho me desfeito. Mas de alguns eu gosto, e por isso postarei.

Abaixo, um deles. Uma brincadeira com o nosso amigo Álvares de Azevedo.
Abraço.


O NOVO MAL DO SÉCULO

-- Vês, querida, minha febre lenta...
minha fronte lívida,
o suor gelado de meu corpo,
minha agonia doentia,
meu respirar titubeante..
só tu! só tu podes curar o meu sofrer!
-- O que queres, meu poeta? Um beijo quente?
Um afago róseo?
-- Depois, agora quero que me traga um antitérmico, um xarope, um antibiótico e outros comprimidos coloridos...

24 de setembro de 2009

Pressa Pressa

Pressa Pressa, vamos nessa. Depressa depressa, não me estressa. Vai, vai. Café com pão café com pão. Eu preciso ser rápido. É meia-noite. Já estou dentro da segunda-feira. Ó, meu Deus, como o tempo passa. Preciso ser rápido; acabar esse texto. Preciso dormir. Antes, preciso escovar os dentes. Tomar banho. Preciso amar. Mas calma. Vou devagar. Devagar como um louco. Sereno como um assassino puro.

Vida. O que temos feito dela. O que temos feito com ela. O mundo tem girado cada vez mais rápido. Time is money. Hurry is money. Nunca o tempo foi tão contado. E nunca foi tão perdido. Vive-se o amanhã, o dia depois de amanhã. O mês que vem. Financiei minha vida em suaves prestações. Juro? É especial: um pouco de morte vai se somando.
Foi-se a espera. Foi-se a paciência. Jantamos o porvir todas as noites. Jogamos fora todo o nosso hoje. O passado é sempre museu.

A poesia resiste. O erotismo cedeu. Pornografia é o negócio. Mais rápido, depressa, sem enrolação. Time is money. Sex is money. Pra que tirar? já venha sem! Pra que pensar: aja, faça. A noite resiste, O dia insiste. Troca-troca. O dia resiste, a noite insiste. Insônia insônia: dia e noite se comendo.

Insônia, cada vez mais funda. Acorde, levante. Pense. Não pense. O que você deixará para seus netos? Você deixará netos? Você se deixará?. Previdência. Ciência: tudo novo de novo. Pense, repense. Aja, reaja. Corra corra. Morra morra. Tempo, tempo, mas que porra.

Calendário. Despertador. Hora do remédio. Da novela. De lavar a louça. Ano que vem, vou comprar um carro. Vou ter um filho. Hora para escrever. Hora para estudar. Acorde-me às sete. Não se atrase. Em ponto. Daqui a dois anos, serei famoso. Vou ter um carro. Comprar um filho.

Crônometro. Tabelinha. Ampulheta. Sol. Vamos nessa, entre no ritmo. Cada vez mais rápido. Mais rápido. Dane-se a calma, meu chefe é exigente. Esquecer a calma do louco. Abandonar a serenidade: mato e pronto. Rápido, barulhento. Ser normal é correr, ter pressa. Somos felizes. Sim, somos. Formigas loucas, baratas tontas. Vamos vivendo, levando, correndo.

A vida é o passar do tempo: passatempo. A vida no fio. Na fila. Vamos, palavras, vamos que tenho pressa. Quero o amanhã, queremos o depois de amanhã. Infinito mais um. A morte é o brinde. Não tenho tempo. Corte linhas desse texto. Acelere mais fundo. Vai vai, time is time. Amanhã amanhecerei. Mais rápido. Fast-food. Fale mais rápido. Case mais rápido. Cadê meu café? Amanhã faço bodas de prata. Sim, eu serei famoso. Depressa, depressa. Três minutos de acréscimo. Últimos lances. O banco fecha, sempre, às quatro. De quatro. Tire logo essa saia. Follow me. Follow me on twitter. De novo. Mais rápido. Rapidshare. Rapidinha. Vamos, mulher. Seja breve, tenho pressa. Precoce. Ela já tem quinze anos. Estamos em 1999. Cinco, quatro três... três, sim, eu disse três. Três pães, menina! Ande logo! Tenho pressa, meu chefe é exigente. Vamos lá mundo, em sequencia, perfilados, café com pão café com pão. Pressa pressa, vamos nessa.

Pressa pressa eu tenho pressa




OBS: esse texto foi postado, tempos atrás, no blog Academia de Escritores. Mas como esse é o meu blog de textos literários, estou passando ele para cá.

22 de setembro de 2009

a blues poem

eu queria fazer a blues poem
azulzim azulzim
daqueles que, enquanto se lê,
vai-se batendo o pezinho...

dois poemas concorrendo na cabeça
e ela se reparte
e vira duas,
duas cabeças
uma para cada pé
e todo poema é blues
e vice-versa
e o poema blues é nonsense
pois não tem nem pé nem cabeça
Nem precisa.

Sabe do que falo, né?
do blues poem
aquele que provoca riso involuntário
que provoca o morde-língua
(o bater de palmas na sala repleta de silêncios)

do que você ri mesmo?
Pare com isso! Olha o vexame!

gentes, blues poem
isso é poesia
e a chuva de olhos assustados dos outros
é música também

dancemos

19 de setembro de 2009

nada sei dos algures

nada sei dos algures
não quebrei copo algum, não recolherei os cacos

sei do que sinto
e sei que é pouco

tarde da noite ela quer contar estrelas
pensar no sabor que tem o jantar dos vizinhos
no jogo de luzes e membros das discotecas
pensar e refazer o tontear dos boêmios

Não dá.
Mal sei o que trago no bolso.

Semáforo milhão
(o verde amarela que avermelha que nunca deixou de ser verde)
e teto poça poltrona caneta música

Milhão milhão, prismas ou espelhos descontrolados
poste algures
pernas milhão

que sei de tudo isso?
não sinto. é o que ela diz.

Conspiraçao ilusão
nessa hora, choram comem gozam riem dormem acordam escrevem
milhões de algures
(o copo fica tinindo na cabeça)

Reservei todos os momentos quando abri os olhos, hoje de manhã
que sei eu das esquinas?
e triângulos?

se eu parar para pensar nisso
já serão outros algures
outros rostos
outros desesperos e pensares

milhão milhão
todos os momentos existem
toda hipótese
todo mito
religião e sonho:
vale-tudo em campo aberto

Mãos no bolso como quem abre uma porta
(de repente, uma vontade de ter sede)

que sei eu das coisas?

E o que trago à tona já é outra casa

16 de setembro de 2009

Posfácio

Revirei todo o livro:
só fiz mais e mais bagunça

Ficou uma palavra solta:
romântica e pornográfica
como um seio abandonado fora da blusa

Ficou uma frase sem sentido:
meti-a na capa e fiz uma pintura

Não há ecos
Se um livro não diz agora
não mais dirá

Mas esse livro disse
é pedra

O livro falou e deixou buracos:
enchi-os de invisibilidade e silêncio

As palavras se comungam:
uma cumpre a falta da outra
e assim, se faz uma teia

revirado, o livro. Intacto, passou.

Ficou a guerra

Ficou o leitor
sobre a pedra,
a pensar.

13 de setembro de 2009

São Paulo

I

DO CÉU

No céu cinzento de São Paulo
as estrelas são regidas pelos dedos das crianças

No teto caiado de São Paulo
as estrelas se chocam
se fundem
queimam e são trocadas pela companhia

Novas estrelas a piscar:
é a cidade, em eterna vigília,
velando seu próprio sono
sob e sobre o céu cinzento.

II


AVENIDA BANDEIRA

Em São Paulo o tempo tem tudo
(é uma outra civilização)
Eis um processo certeiro
de evitar a reflexão

III

PRAÇA PRESSA

Aqui uma bandeira fina
plantada na lua
Acolá um bandeirante
que - dizem -
um dia cortou caminho pela lua

IV

BAR JIM MORRISON

Em São Paulo
as músicas não acabam:
sempre haverá uma luz acesa

(Na janela, uma menina solitária aguarda o silêncio)

V

AVENIDA PAULISTA

o ponto final?
ocê pega ali o horizonte
passa ele
vira a direita nos dois semáforo
aí vai, infinito a dentro,
paralelo ao arco-íris
e pega a marginal

Depois?
Depois pare e peça pra outro
que eu só sei até lá

VI

VIAS E DUTOS

Menino Brasil ganhou um presente todo embrulhado

VII

BOATE OSWALD'S

noite vagalumeia
um pouco grito um pouco mordaça
chuva e garoa
o mar lançou os pescadores para as calçadas e marquises

o som do carro vira a esquina
e bate na fome do menina

uma guitarra toca na cabeça do poeta
e sirene
e chuva e garoa

chuva-garoa
yeahyeah
chuva-garoa

ciganos e cigarros
mapas e dedos
e o jogo das lâmpadas

chuva-garoa
oh-oh
chuvoa chuvoa

rebola
evola
o poeta se esconde da poesia que o persegue
chove chuva choverando

e o poeta quer dormir nas marquises

esquinas cheias
ambulâncias cheias
bares cheios

o poeta sabe que se fechar os olhos
continuará em São Paulo

chove chuva
chuva-garoa

e a noite está apenas choverando

VIII

ROTINA

Ele acordou sem calças
sobre um telhado que não era o seu

IX

JORNAIS E BILHETES SOBRE A MESA

A bolsa caiu
ajunte-a
Mataram mais 2
quero que limpe isso antes de eu chegar!
*lembrar de aumentar os impostos e limpar o teto
O papel higiênico acabou, revela pesquisa do instituto
Vai chover. recolha a roupa.
Choverá.
As novas tendências!
As novas pendências...
Vai chovê. Recolha-se.
Choverá. Tampe as goteiras.
Comércio quente: hora de bater pernas por aí.
O ano de 2010 promete grandes mudanças.
Vc só promete. Só quer saber de abrir as pernas por aqui.

E as mudanças?

Ass. X

X

PIQUE-ESCONDE

Ninguém sabe o que procura, mas todos se acham
Ibirapuera? Esconderijo óbvio do pique-esconde paulista
Santos? Armário lotado de crianças
No escuro? Achei!

XI

DOS VALORES

Em São Paulo,
a criança o pão a bala a bala-bala o esquema a esquina a buceta a carne a vaga o aluguel o jogo a partida a revista
É tudo vendido
tudo caro

Em cada esquina tem um, dois (mil) poemas gratuitos

mas ninguém olha
todos querem um pedaço
um naco, que seja

da criança do pão da bala da bala-bala do esquema da esquina da buceta da carne da vaga do aluguel do jogo da partida da revista
pois aqui tudo é vendido
tudo é caro

e o querer é lei.

XII

EPÍSTOLA-BILHETE-EMAIL-PIXAÇÃO-POEMA para São Paulo

trago de ti fotografias escritas
e poemas desenhados
que telegrafei em cada um dos teus cantos sujos

Eu sou poeta
EU CANTO POR QUE O CANTO EXISTE!

sou poeta
E tudo isso que se foda
ninguém quer meus desenhos artesanais a vinte reais

Deixo em ti, São Paulo,
tantas outras fotografias anônimas:
películas alternativas
das pessoas-cinemas

Deixo também uma olhacópia do meu rosto pálido
a ser colado no muro maior
de tua babel de faces

São Paulo,
tantas vezes outra
São Paulo,
sempre a mesma outra

Coração da terra sem coração
Acendi mais uma estrela em teu céu

É noite.

(A sirene passou correndo e entrou dentro da boca do menino)

Eu fico aqui Paulo
Continue indo, vc.

Deixei uma estrela acesa
Deixai, deixai
é capaz de a companhia esquecê-la ligada
Deixei uma vela acesa
Deixai, deixai
mais uma para a romaria:
milhões de círios a correr no metrô

É noite,
Chove.
E não há nada de novo em teu subsolo.

Sei muito bem que os muros são pixados
por que tu não tens tempo para ler epístolas

Não peço resposta
Volto para o céu cinzazul de Joiville
te virei de cabeça pra baixo
Verso e Reverso e Inverso e Versos
E continuastes a ser sempre São Paulo

São Paulo, terra de outros,
saio de ti sendo outro
mais um entre teus milhões de outros
Não amas ninguém pois não reconhece ninguém
Sabe de teus braços. Mas não os domina.
São Paulo, já outra terra
São Paulo sirene
guitarra
bueiro
São Paulo papel de bala e mendigo no chão

É noite
Estou com sono
e ainda tonteio
sou medíocre,
esperei o sinal abrir
procurei um sorriso
paguei tudo o que devia

mas
não achei muros, São Paulo
e esse poema é só uma tentativa inútil

Atenciosamente,
Eu
12-09-09, São Paulo, dentro do ônibus.

11 de setembro de 2009

Encontro

tu que te julgas egocêntrico
compareça à tua própria margem - no último ponto em que os pés tocam

apareças na última hora
último momento
trajando tua última veste
lágrima
carta
chuva

na boca do ultimato,
traga às costas teu único e último peso
sonho
sede
estória

tu que te encenas tão urgente
surja no útimo verso
na última das esquinas
na ponta da linha que sustenta dois corpos

tu,
o centro de tudo
senhor do agora-e-sempre-amén
embarque no último trem,
sente ao lado da última moça
feche sem receio tem último adeus do olhar e
saboreie teu primeiro encontro íntimo

10 de setembro de 2009

Quando as músicas acabarem

estrada amanhecida
se abrindo como sorriso largo de criança
nuvens e pedras
socos e chuvas:
notas que se sucedem mecanicamente

estrada amanhecida:
tentativa última de minha triste língua

estrada amanhecida,
balões precipitados no ar - se perdem nos socos da chuva

Eis o ritmo:
pedaços recortes signos de tantos tempos
em louca vontade de inflar o silêncio

Torta e louca
(petições ao escuro que se sucedem)
segue a estrada - amanhecida

Eis o ritmo
Eis a estrada

Sê dançarino:
busque a lâmina.

6 de setembro de 2009

(E) História (s) da (s) Pátria (s)

notas de rodapé para um livro grosso e amarelo, repleto de desenhos e traças.

1 É tal a pobreza da contemporaneidade, que já fazemos paródias de paródias. Já nos faltam originais para gozar.

2 Para entendermos melhor o pensamento demoderno do brasileiro, é válido consultar uma obra rara que serviu de base para a formação - ideológica, moralógica, sexualógica e ilógica - do país. Chama-se Bíblia(data, editora e autores desconhecidos). Livro raro (há variações), pode ser encontrado em alguns museus móveis e arquivos históricos (alguns recentemente construídos).

3 À guisa de prefácio: esse livro que tens em mãos, não-leitor, é útil (modéstia à parte) por ser um compêndio sem qualquer palavra. Um livro cheio de desenhos e traças. Em resumo: um livro bem-traçado.

4 O continente americano é dividido em três regiões: a televisiva, a cartográfica e a porsisó. Regiões repletas de subsubsubdivisões, exceto a última. América Porsisó: pedregulho cheio de rachaduras a rolar pelo planeta.

5 Quando tomou essa decisão máxima, consumia-o uma forte apreensão. E ele - o líder-mor - sempre sóbrio em sua ociosidade, tomou sua decisão. Dose única. Mas embriagadora.

6 O lema de D. Manuel era 500 anos em 5.

7 A ditadura refletiu a fragmentação das classe sociais do país.
A ditadura (dura para uns)
A ditadura (dita dura somente, para outros)
foi um período de redeocompressão. Nesse sentido, é interessante obervar o caráter prefixal da memória do povo brasileiro, que às vezes parece esquecer o radical dessa palavra dita tão dura.

8 Há outra variação (mais brasileira) para essa frase: futebolis et televicenses (sem panis)

9 Ibidem. Idem. demo. Nota Benne. Abissus Abissum invocat.

10 História ou Estória do Brasil?

11 Talvez quem trilhe o melhor caminho para chegar às raízes da violência que acomete o ser humano seja o romanciólogo Nelson Rodrigues.

12 Menino Brasil jogou punhados de sal sobre a lesma Paraguai e ficou se rindo.

13 Se Malthus tivesse conhecido o Brasil, revisaria (ou queimaria) seus escritos.

14 farda fardo
fado fado
estou farto, eles estão fartos

Se o povo brasileiro soubesse o mínimo de gramática, a história seria outra.

15 Um paradoxo brasileiro está na pergunta-chave:
Se há tanta violência gratuita
por que, então, há tanta pobreza?

Leben Leben

A palhaçada durou dois dias, e olhe lá

Vou postar de novo.

:P

4 de setembro de 2009

Aviso de corte

A companhia de poesia Eduardo S/A avisa que, durante o espaço de alguns dias, não haverá atualizações frequentes nesse blog. Talvez uma aqui, outra ali.
Motivo: falta de pagamento.
Tenho muitas coisas a fazer nos próximos dias, e por isso terei que deixar de pagar alguma conta por um certo tempo. Escolhi deixar de pagar a conta do Sujeito Oculto.

Se você entrou nesse blog por engano
solicitamos que esse aviso seja terminantemente ignorado.

Esperamos voltar a postar aqui o mais breve possível.
(Amanhã ou mês que vem. Não é possível estabelecer)

A companhia de poesia Eduardo S/A agradece a sua ausência e se despede reafirmando o compromisso de não ter compromisso com ninguém.

Dúvidas sugestões e reclamações: www.aspalavrasmortas.blogspot.com