26 de novembro de 2018

bolsonaro sonha





















militarmente cansado
como se não descansasse mais do que duas horas
                                                                                   desde 1964
bolsonaro entra no quarto, banha-se, janta &
             antes de fechar os olhos
em algum quarto de hotel brasiliense
dedica à família um último pensamento:

será possível se criar
no calendário nacional
um dia só para a laura?

então adormece e sonha com seu pai e sua mãe
& acorda e sonha e acorda e sonha e decide
após vinte polichinelos
sua primeira ação:
a criação de um semáforo para os cães
atravessarem a rua sem danos

toma café, dá despachos, dá ordens aos outros
depois se tranca no banheiro e dá ordens a si mesmo
e almoça, dá entrevistas, recebe abraços e tapinhas
depois se tranca no banheiro de novo e chora um bocadito
e antes que se esqueça
(sua cabeça é muito ruim coitado)
rabisca num papel toalha uma novo lembrete
vai bem a ordem
vamos bem com progresso
na branca faixa da bandeira nacional daqui pra frente se lerá
                                       
                                                        ONÇA PINTADA & TAMANDUÁ

e volta ao gabinete, usa telefones, dá ordens aos outros
depois se tranca no banheiro para ver vídeos do zap zap
até a hora de ir embora
e aí janta, ouve e manda áudios aos filhos queridos &
                                                                  antes de dormir  
                   pergunta ao carlos como se manda tomar no cu em inglês 
                                        fuck you @trump talquei
                       então bloqueia o telefone, ri consigo mesmo seu melhor riso, reza
                                       & adormece e sonha e adormece   
                                & quando enfim abre os olhos resolve:
                                       é preciso criar o Ministério das do Gueto, da Fome,
o Ministério dos Pobres o Ministério Trans, o Ministério da Laura
                            é o melhor o brasil ir se acostumando a olhar pra si mesmo


Imagem: "Papa-vento" (1956), de Cândido Portinari

16 de novembro de 2018

ping pong galaxy

                                      pro loren


aceitar, por fraqueza ou força desmedida, no mito.
acreditar que há por aí algum outro espaço
onde não há armários
e só a terra
nada de homens nada de homens
eu repito nada de homens nada de homens
onde só a terra se pisa e repisa
enrolada ao vento

acreditar que
além do horizonte
embaixo da ponte
existe um lugar

um lugar do caralho
pra se gente se amar

acreditar que
depois do arco-íris
existe a cidade X
onde fawcett 
corre e dança nu
todas as tardes

aceitar a imaginação como parte do mundo
em eterna guerra contra a ciência e o certo
pasárgadas, atlântidas, shangrilás, eu sei lá
porque a paixão cega pelo inverso
canaãs, wonderlandes, paraísos, e é por isso
que na cabeça eu carrego
meus próprios mapas 

somos alienígenas, meu amor
o verdadeiro mundo se chama ping pong galaxy
ping pong galaxy!
ping pong galaxy!
ping pong galaxy!