volto a tomar meu medicamento
minha resistência a amigar-se com outra droga
meu ódio à sensação de embotamento
ponho de lado por um tempo
em prol do casal de noias
Diagnóstico & Tratamento
volto a não ler bulas
volto a promover misturas
não recomendadas pela ciência
abro mais uma garrafa de vinho do porto
desviando do abuso e inconsciência
comemoro o fato de que não estou morto
tô vivo e isso não é pouco
comemoro pequenas alegrias e dias
enquanto a paz plena não chega
a saúde mental saiu para comprar um cigarro
e ainda não veio
o fato de que tudo mudo e gira o tempo todo
acerta minha bike psicodélica em cheio
as pessoas dizem:
é preciso cuidar com a
banalização das doenças mentais
dizem isso com a maior desfaçatez
e sem mais
voltam a submergir em suas redes sociais
é preciso cuidar de um SUS que não satisfaz
um diagnóstico por vezes é caro, custoso, lento
corta pra minha mãe acordando cedo no relento
pra conseguir um médico que lhe cuide dos mil problemas
por ser pobre, mulher, idosa
precisando mentir sentir dores fortes
em pleno outubro rosa
porque do contrário
medirão sua pressão, e a pegando pela mão
a convidam a tentar consultar outro dia
é esse o sistema de que dependo
e por isso que não entendo
quem perde tempo fazendo fios e reels
cagando regra moral sobre saúde mental
enquanto o conselho municipal
de saúde vai ficando vazio
lá tiktoker de saúde não brota pra dar um pio
Eu quero saber
se a bupropiona
funciona
se a ritalina mais atina
que desatina
se a libido pode vir
em comprimido
se posso misturar vida
com drogas e drogas
assim por tantos anos
sem graves danos
se o doutor que as prescreve
em vinte anos se atreve
a fazer consigo o inventário
de efeitos colaterais
a quem interessam
poemas sonoros e virtuais
o ser e tempo da poesia?
certamente não ao poeta
paciente na sala de espera
de sua agonia.
Eu quero saber que horas chega a minha paz
Eu quero saber
quando vão banalizar política pública
quando as bobagens que nas redes e ruas são escutadas
serão pela escuta verdadeira confrontadas
por que isso sim curaria
mais escuta, mais costura,
informação, acolhimento, terapia
e enquanto a paz não chega,
vale o conselho da mãe da WD,
vai, seja forte, e volte viva