ombros largos feito montanha
desço seus braços em estado de
formigamento
cordilheira a noite inteira
a lhe devorar aos pouquinhos
o firmamento.
cai a chuva toda feita de espinhos
delicado, ele foge de cada gota
como se fossem sempre outras
pequenos barulhos lhe assomam
e eu, meu rosto de homem outro,
anuncio amor com os pés cheios de guizos
o esforço para não lhe ferir, no quarto,
os vestíbulos.
fracasso, feneço e tropeço à sua beira.
cordilheira a noite inteira
o melhor que faço é me fazer formiga
agora grito grito e não sou mais
ouvido nem firo
com paciência, reinício meu retiro
coloco o amor por ele nas costas
oitenta vezes mais pesado
do que meu próprio amor
e retomo pelos tornozelos
o desejo em ferrões
os zelos sob a forma
de deslizes e atropelos.