25 de dezembro de 2023

Ele

ombros largos feito montanha

desço seus braços em estado de 

formigamento     

cordilheira a noite inteira

a lhe devorar aos pouquinhos

o firmamento.


cai a chuva toda feita de espinhos

delicado, ele foge de cada gota

como se fossem sempre outras

pequenos barulhos lhe assomam

e eu, meu rosto de homem outro,

anuncio amor com os pés cheios de guizos

o esforço para não lhe ferir, no quarto,

os vestíbulos.

fracasso, feneço e tropeço à sua beira.


cordilheira a noite inteira

o melhor que faço é me fazer formiga

agora grito grito e não sou mais

ouvido nem firo

com paciência, reinício meu retiro

coloco o amor por ele nas costas

oitenta vezes mais pesado

do que meu próprio amor

e retomo pelos tornozelos

o desejo em ferrões

os zelos sob a forma 

de deslizes e atropelos.