17 de dezembro de 2011

amo muito tudo isso

There was and old man of Khartoum
 Who kept two tame sheep in his room,
 To remind him, he said
 Of two friends who were dead
 But he could not remember of whom

-- William Ralph Inge

15 de dezembro de 2011

nenhuma vontade de escrever

11 de dezembro de 2011

esse blog se chama bibliófilo pobre, pq de fato o sou, mas a bibliofilia e' coisa de que menos trato aqui. a bibliofilia e' um exercício do ego, solitário e egoísta, e faz pouco sentido um apaixonado por ter os livros, o livro físico, falar sobre sua paixão, salvo se estiver entre seus pares, cada com seu nariz e sua poeira.

9 de dezembro de 2011

Edward Lear

There was an Old Man of Whitehaven,
Who danced a quadrille with a raven;
But they said, 'It's absurd
To encourage this bird!'
So they smashed that Old Man of Whitehaven.

23 de outubro de 2011

um poema de patrícia hoffmann

Quebro ampulhetas.

Aviso às borboletas:
cuidado ao voar

Há areia na vida,
cacos de vidro no ar.

16 de outubro de 2011

vai, risca um fósforo
na minha boca
a ver se foi la'
o teu naufrágio

vai, alma

se encharca com esses versos de wallace stevens>

Today the air is clear of everything.
It has no knowledge except of nothingness
And it flows over us without meanings,
As if none of us had ever been here before
And are not now: in this shallow spectacle,
This invisible activity, this sense.

12 de outubro de 2011

ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o 

ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o  

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ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo

ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problemaproblema ritmo é o  
ritmo é o problema ritmo é o problema ritmo é o problem
que susto,
a tua fala e' mais que teu corpo

como se seguisse facas nao lancadas,
espreito cada prisma,
busco os risos apertados
e adio a hora da carne,
do gozo e seu revés
me diz,
isso não te dói? 

11 de outubro de 2011

entre as duas falas,
impera a lei da
gravidade
grávidos de outros
mundos permutamos
as claves dessa noite

cada fato, um agudo
uma taca oscilante
num cair inexato
de chuva arrebolada

quem me dera, enxurrrada, a alegria dos que morrem pela boca

8 de outubro de 2011

o twitter e' o nascedouro de varias modas linguísticas muito curiosas

eu adoro isso aqui, essa afirmação-questão. acho ridiculamente transgressor

porra eu acordei e tavam cantando parabéns aqui achei que fosse por eu ter levantado da cama mas não era?

@
BALZAC 20 mg.

5 de outubro de 2011

(picasso, "os dois saltimbancos")

se a gente subisse na mesa,
somasse a pedra da fala
com o duro da tábua

se a gente desse um outro nome
 para essa noite

ficaria a mesa
menos vazia?

1 de outubro de 2011

estive lendo algumas vezes "snows of kilimanjaro", do hemingway, e agora me dei conta do quão limitada, circunscrita e' sua prosa. os protagonistas de hemingway, não todos, mas os principais> harry, santiago, ou aquele de "the sun also rises", cujo nome me foge, irmanam-se, como se múltiplas de uma unica pessoa, que e' o próprio hemingway, atormentado homem. todas as faces incomodadas com a frivolidade da vida > aqui deve-se excluir santiago?> frivolidade que a guerra parece enaltecer, mas que e' próprio do homem. todos angustiados pelo tempo perdido, mas -desiludidos- não buscam nada. reiterar, recuperar o tempo perdido? raro. Harry chega a tentar, acompanhado Helen a um safári, mas logo cai por terra. Um espinho o tira a vida, desmancha sua ideia de retorno ao tempo, 'a velha forma, algo que nitidamente seria impossível. Um espinho em um arbusto.
e' limitado, muito limitado, todavia isso não o torna repetitivo. o que ha entao de radical em hemingway, que o faz tao forte em sua limitação? A linguagem, concisa e seca, bruta como o interior de seus personagens? A simbologia de sua obra, os contos dentro dos contos? alguns falam na sinceridade da sua escrita, no fato de ele se fazer escrita, ampliar sobre diversos modos, seu modo cínico  de ver a vida. isso, aliada ao manejo perfeito dos elementos narrativos, seria a grande explicacao para sua obra tao simples e interessante. nao sei, acho isso muito redutor, mas aceito. e me sinto ta'o ignorante. 
ainda ha tempo para ler purple land? 

vdd

RT @malvados o pum colorido combateria uma das formas mais antigas de hipocrisia

27 de setembro de 2011

poema de Rubens da Cunha


El perro

I
a casa cercada por cachorros

por dentro
un perro se remorde

remorso ancestre

dos tempos em que
as quatro patas
sabiam a terra

sabiam os pelos da barriga,
do sexo, das costas.

II
a casa cerrada para os cachorros

à porta,
olham para o bípede
ladram ao traidor

el perro se ressente
senta-se no sofá
e escreve um poema elevado

homem que é

24 de setembro de 2011

eu nao
fosso

pazer nada, honey
ou sera que eu
tenho esse foder?

carlito azevedo, via facebook dele.

* Um dia ainda gostaria de refletir um pouco sobre essa espécie muito única de idiotia que nos toma diante de uma prateleira de sebo e que é capaz de nos fazer dispensar certos livros incríveis, a preço ótimo, e cuja falta só começa a nos doer quando chegamos em casa. Muita noite de insônia já passei torcendo para que o dia seguinte chegasse logo, pra o trânsito estar bom, para a loja já estar aberta, para ninguém ter reparado naquele livro ali. Quase sempre o livro não se encontrava mais por lá. Um pouco dessa idiotia, suponho, vem do fato de uma boa estante de sebo transmitir contínua e subliminarmente para o seu cérebro a informação de que nada é impossível, nada se perde

18 de setembro de 2011

Limericando

Começo a deter-me no estudo dos limericks, um dos gêneros poéticos que pretendo usar no meu projeto de estágio ano que vem. é um gênero de poesia humorística típico da cultura inglesa. poemas de cinco versos, com um esquema de rimas fixo (A/A/B/B/A), cujo conteúdo era geralmente obsceno ou satiresco, e que é uma expressão do nonsense, algo que adoro.

para dar uma aquecida, um limerique da tatiana belinky, que é a autora que mais cultiva esse gênero por aqui. É preciso observar que aqui no Brasil - e noutros países também - o limerick tornou-se, quase que totalmente, um gênero para crianças, sendo que sua origem está na 'cultura adulta' inglesa, como velhas anedotas obscenas.

ei-lo:

A vaca que botou um ovo
Deu grande alegria ao povo
Mas certo petiz
Torceu o nariz
Dizendo - Isto não é novo!

(do livro "Um caldeirão de poemas", organizado por tatiana belinky. Ed. Companhia das Letrinhas)

Como é um gênero pelo qual nutro grande simpatia, espero trazer bastantes limeriques nos próximos posts.
se alguém tiver alguma referência sobre o tema limerique, ou nonsense, será muito bem-vinda.
tenho algumas questões centrais a discutir, mas, por ora, apenas pergunto:
vocês gostam do que é nonsense?

17 de setembro de 2011

Ansiedade Lanches

ela não espera.
quem insiste em abrir a noite
na página 19,5?
não espera: fazes da fila tua diversão
uma motocicleta disparada contra as costas, um cheiro de óleo,
o hangar do futuro, onde se guardam verdes frutas, foi incendiado.

quem foi?
quem encheu o copo da noite,
se ainda não passamos da porta da sala?

cresce na rua vazia um bar que embota os olhos,
cinema particular que se inaugura três vezes por dia, como um cigarro,
velha anedota
difícil de se recordar

é o dna da obsessão: horas e horas
de inter
mináveis creditos
um gesto de peixe atirado à lama
ou
um constante canto
para ninar adultos
em sua faminta
espera

11 de setembro de 2011

retiro o que disse
e então duas dores ali aparecem
insetos nus, um par de fetos na lama
a palavra, uma pedra

pois coma:
as mágoas
fazem bem aos olhos
caída e fria na tarde rarefeita
a xícara exibe seu fosso nu,

falta-lhe a forma suspensa,
o não ser tambor, vidro, desespero
ser um objeto vivo, como
são essas paredes

hermético só o breve instante
por isso abra a porta
esqueça o café
e olha teu gozo:
isso que agora escapa é
tudo o que temos

,

8 de setembro de 2011

OK, OK. Chega de postar textos dosoutros aqui, né? Cabá com essa palhaçada.

achei por acaso na net:

O BIBLIÓFILO

Ó ambições!... Como eu quisera ser
Um pobre bibliófilo parado
Sobre o eterno fólio desdobrado
E sem mais na consciência de viver.


Podia a primavera enverdecer
E eu sempre sobre o livro recurvado
Sorriria a um arcaico pecado
A uma medieval moça e qualquer.


A vida não perdia nem ganhava
Nada por mim, nenhum gesto meu dava
Um gesto mais ao seu profundo
E eu lia, a testa contra a luz acesa.
Sem nada querer ser como a beleza
E sem nada ter sido como o mundo

Álvaro de Campos (f. pessoa)

7 de setembro de 2011

esta alma, que sedenta em si não coube,

bocage

4 de setembro de 2011

"COM A MÃO CHEIA DE HORAS, assim tu me
[vieste - e eu disse:
o teu cabelo não é castanho.
Fácil o puseste na balança da dor: era bem
[mais pesado que eu...
Eles chegam de navio e o carregam, eles põem
[o teu cabelo à venda nos mercados
[do prazer -
Tu me sorris bem lá no fundo, e eu choro para
[ti da concha leve da balança.
Choro: o teu cabelo não é castanho, eles
[oferendam essa água do mar, e tu lhes
[dás os cachos dos cabelos...
Murmuras: já preenchem o mundo comigo e,
[para ti, eu sou apenas uma
[passagem no peito:
Dizes: assume a folhagem dos anos - já é
[tempo de te aproximares e me beijares!
A folhagem dos anos é castanha, mas o teu
[cabelo não."

Paul Celan
Tradução: Flávio R. Kothe

30 de julho de 2011

cartas

"A correspondência em si mesma já é uma forma de utopia. Escrever uma carta é mandar uma mensagem para o futuro; falar a partir do presente com um destinatário que não se encontra ali, que não se sabe como estará (em que estado de espírito, com quem) enquanto lhe escrevemos e, principalmente, depois: ao ler-nos. A correspondência é a forma utópica da conversa, porque anula o presente e faz do futuro o único lugar possível do diálogo". 

(Ricardo Piglia, “Respiração Artificial”)
 
---
 
catei a citação lá do blog do ítalo, o um-sentir

solidão, solidão.
a protagonista em constante movimento, encontrando-se com desconhecidos ou não,
compromissos marcados ou surgidos ao acaso. mas todos têm em comum a aura de solidão, como se o filme dissesse, estamos todos aqui, nos encontrando, mas estamos sempre sozinhos. a solidão está também na própria escolha dos cenários, muitas vezes abertos, dando a impressão de vazio. Nunca há um ambiente com muitas pessoas. Nos trens e nas próprias estações, há pessoas, mas muito poucas. Não há cenas de rua. Não há aglomerações. e há muito a solidão dos hotéis. o filme é bem lento, mas bonito, e mui bonita é esta aurore clemént. a última cena é linda (e triste) demais.


(OBS: comentário sobre filmes começarão a aparecer aqui, até que o filmow, essa defeituosa rede social para cinéfilos passe a permitir que resenhas e comentários sejam salvos e guardados. Sim, porque sou dessas pessoas que gostam de guardar tudo, qualquer nota ou espirro sobre um livro ou filme, acho que há um pouco de neurose nisso, não sei, um abraço)


29 de julho de 2011

As pessoas se empolgam e acham incríveis certas coisas e seus amigos, vizinhos de existir, não veem a graça, a beleza, que tédio, não entendem, pois elas se empolgam e acham incríveis outras coisas, bem diferentes, e assim sucessivamente, todos amigos e nenhum entendimento; é isso que move o mundo, gosto de pensar, essa nossa mania de ciclos

26 de julho de 2011

fuck

"My kids will have computers, of course, but they will have Kindles first"
Bill  Gates
eu quero um Lewis Carroll na minha vida

20 de julho de 2011

revolva-se, clarice. revolva-se.

(impressão minha ou é uma universidade?)

O ÁPICE DOS TEXTOS FALSOS
VIVA A INTERNET.

9 de julho de 2011

às vezes, paro de frente a uma palavra e me espanto bobamente. cor de rosa.
cor de rosa. é como se, por indefinido intervalo, eu tivesse esquecido o que há por trás do nome.
cor de rosa.
dar um F5 nos sonhos,
antes um trem a rasgar as campos da infância
and now we have a big wave of
placas
e sobram estradas
bueiros
não há mais volta
os passageiros apenas vem
e agora entre um looping e outro
a gente ri dos trens
chamam isso de montanha russa
eu não sei
onde estão os campos
se somos outrens

organização é tudo




até o fim do ano devo lançar meu futuro best-seller
 "como organizar sua biblioteca"

6 de julho de 2011

(reinaldo moraes falando sobre a flip 2010)

"De qualquer forma, sempre volta a pergunta: o que isso tudo tem a ver com literatura? A resposta, bem ao estilo tucano-uspiano, bem podia ser: e o que é que não tem a ver com literatura? De fato, tudo parece caber nesse generoso saco de gatos. Literatura é como as igrejas de antigamente, que viviam de portas abertas e abrigavam todo tipo de gente, das altas e prósperas figuras, a bêbados, miseráveis, loucos e assassinos, sem falar na cachorrada que sempre aparecia para farejar incenso e, eventualmente, morder a canela das beatas."

o post completo (bem grandim, aliás) está aqui
a julgar pelos tweets ( @raqcozer , @flip_se , @ProsaEVerso ), a fala do Antonio Candido sobre oswald na flip foi linda.
vou fingir que estive lá.

3 de julho de 2011

na última vez que vi Ruim, o poeta, ele estava
sentado na rua repetindo
me dá um trocadilho, me dá um trocadilho

2 de julho de 2011

a literatura e seus mistérios

Ontem à tarde, no trabalho, me peguei pensando em "morte em veneza",do thomas mann.
e não sei por quê. Li essa pequena novela há uns meses e na época achei um livro perfeito, mas não considerei-o um livro favorito.
Mas de alguma forma a história do Gustav Aschenbach ,um escritor atormentado, que se apaixona platonicamente pela beleza de um garoto, e que morre ao fim do livro, mexeu muito comigo. Se não tivesse mexido, não viria me assombrar numa tarde de sexta no meio do trabalho. E agora, depois de um sonho que se sonha acordado, fico tentando achar o porquê, algum sentido subliminar. se é que existe.

25 de junho de 2011

inquebrável poema,
paulcelanato
 divã para os corpos
bisturi para as almas
muita coisa se faz
sem as devidas armas

24 de junho de 2011

é bom pensar em ti como imagem
esquecida duquesa pelo baralho
a morar para além dos ônibus e hospitais

e assim,
virtual vírgula
a morar na imperceptível pausa do orador
você se equivale a qualquer um que não vejo
à figuras móveis a deslizar pelo salão de conveniências
como se o não visto não fosse
(e não é)

invisível
talvez faça amor com outro homem ou mulher
na ranhura do tabuleiro, esquecido quintal, uma casa mexicana
quase-ímpar, você existe,virtual,
desvirtuosa maneira de amar
a ponte o pênis o pênsil

22 de junho de 2011

e quem vai cumprir o impossível mandamento
de amar adeuses sobre todas as coisas

21 de junho de 2011

algo parecido com a felicidade

"Ao cabo de três assaltos o treinador parou o combate e desapareceu dentro da casa seguido por Merolino.
-- O massagista está esperando, disse o jornalista.
-- Quem é o massagista? -- perguntou Fate
-- Não o vimos, acho que nunca sai ao quintal, é cego, entende?, cego de nascimento, que passa o dia inteiro na cozinha, comendo, ou no banheiro, cagando, ou estirado no chão do quarto lendo livros no idioma dos cegos, aquela linguagem, como se chama?
-- O alfabeto Braille -- disse outro jornalista
Fate imaginou o massagista lendo num quarto completamente escuro e teve um leve estremecimento. Deve ser algo parececido com a felicidade, pensou."


Roberto Bolaño, 2666, (pg 272)
Tradução de Eduardo Brandão,
Companhia das Letras, 2010

19 de junho de 2011

e essa vontade de amar
pessoas do outro lado do oceano
do outro lado do tempo, talvez já mortas
a beleza conservada na tela do cinema,
ai auden,
enquanto joões e marias, tão vivos, na rua
corpos desinteressantes, areia pesada
inimaginável dormir sob
e então de novo a ansiedade me assalta sobre o chuveiro
essa vontade, e breton diz a beleza será CONVULSIVA, ou não será

será?

(se houvesse onomatopeia pra amar,
talvez piaf, piaf)

 e então paris volta a boiar,
um banho quente

como se isso matasse
urgentes vontades

17 de junho de 2011

quisso, Alfaguara?



E chega às livrarias o livro "Peregrinos", antologia de contos de Elizabeth Gilbert.
Sai pela Alfaguara, que vem publicando muita gente boa.
Gilbert é autora dos livros "Comprometida" e "Comer, rezar, amar"

Pergunta: diante disso, é possível que gilbert seja uma contista de qualidade?
Meu preconceito literário não acredita nessa possibilidade.
na contracapa, trechos de resenhas elogiosas do times e outros jornais.

Mais uma vez, digo
se alguém ler, mande notícias, purfa.

11 de junho de 2011

em flannery o'connor, o céu nunca é somente o céu

(claro, na tradução de J. R. O'Shea, Editora Siciliano, 1991)


do conto "Salve sua própria vida":

"A lua gorda e amarela apareceu nos galhos da figueira, como se fosse se empoleirar ali com as galinhas."

do conto (frase final) "Um templo do Espírito Santo":

"O sol era uma imensa bola vermelha, como uma hóstia elevada, encharcada de sangue, e quando afundou, desaparecendo de vista, deixou uma linha no céu, como uma estrada de barro vermelho boiando acima das árvores" 

(essa merece que eu busque o original. Ei-lo!)

"The sun was a huge red ball like an elevated Host drenched in blood and when it sank out of sight, it left a line in the sky like a red clay road hanging over the trees."

do conto "O rio":

"Ao pé da colina, a mata se abria bruscamente em um pasto salpicado aqui e ali com vacas de pêlo preto e branco e que descia, nível por nível, até chegar a um riacho largo e alaranjado, no qual o reflexo do sol se sobrepunha como um dinamite."

do conto "O círculo no fogo":

"O sol queimava tão avidamente que parecia disposto a atear fogo em tudo que estava à vista"

novamente, o conto "O círculo no fogo":

"A menina se embrenhou pela mata, e as folhas caídas soavam ameaçadoras sob seus pés. O sol subira ligeiramente e não passava de um buraco branco em um céu escuro, como uma abertura por onde o vento podia fugir, e os topos das árvores eram negros em contraste com o clarão."


-------------


É claro que a leitura desses trechos é bem diferente se inserida dentro do contexto dos contos...

(Aliás, é interessante como em muitos desses contos, a metáfora do céu (na verdade, o sol, a lua, as nuvens) está intimamente ligada aos enredos. Caso da metáfora de "o círculo no fogo", conto que termina com uma cena piromaníaca, ou ainda a metáfora de "um templo do espírito santo", no qual a descrição do sol feita pelo narrador, "como uma hóstia ensanguentada", dialoga com uma cena anterior, na qual a protagonista observa um padre erguer a hóstia.)

mas a intenção foi mostrar a alta carga metafórica do texto da flannery.
e que carga.

7 de junho de 2011

I

viagem ao centro do quarto:

acabo de comprar mais uma passagem secreta
para atravessar a nada
esse vestíbulo

vocábulo perdido,
este quarto será eternamente do filho
ainda que filho não seja mais,
para sempre da palavra filho
para sempre gesto vago nas festas, estátua nos retratos

filho agora é homem feito

pedra
no meio do quarto,

II

viagem ao núcleo
da família:

furioso o penitente escava
es (cava) lo
atrás da porta trancada
a sete chaves, dentro de outros sete molhos
a tremelicar sob a lâmpada,
como se raios escuros de um sol inverso
penitenciária do desejo,
vou te contar como eram aqueles tempos em quadrilha
eu era jovem
e queria
contar às ondas onde se escondem os portos

III

do meu vô guardei arte de rimares
"o que passou passou/azar foi seu"
meu avô deitado
sob as cobertas dizia: estou fazendo malabares
só vivia deitado meu avô
faquír dos ossos de minha vózinha
um dia ele sumiu
foi viajar
disse meu pai

azar o dele,
me ocorreu


IV

tá comigo tá com ateus, taxei o bordão
a bordoar a cara gorda de minha tia rezadeira
anjo da guarda, meu bom amiguinho
guia esse minino
quantos cavalos no sonho
faltam-me dedos
para escavar

5 de junho de 2011

"Todos los días se cumple el aniversario
de un atentado"

- marina mariasch

(lembrando que,
se estivesse vivo,
fulano estaria fazendo hoje
seiláquantos anos)

4 de junho de 2011

"a quantas anda a vida"

vou deixar que minha mesa conte por mim:


da publicidade




O que diz ali no selo azul, no alto da capa: "O livro do ano, e do século" - The Guardian


(como pode um livro lançado em 2010 (ou 2009, agora não sei), ser considerado o livro do século?)

esse livro me cheira a "romance-assusta-classe-média-americana"

se alguém ler, avise-me. atualmente franzen ocupa a posição número 232353545 da lista de porler.

29 de maio de 2011

uhum!

RT @lencocorderosa Oswald de Andrade é o maior tuiteiro da literatura :D

28 de maio de 2011

desgraçadinho, pensava justino, enquanto o carimbo descia com força contra a certidão.
taki, minha sinhora,
tá registrado?
sim, sinhora, a partir de agora temos um novo cidadão (filho da putinha) na cidade.
o pequeno dormitava no colo gordo da mãe e justino dava um xauzinho,
lá se ia mais um nascido no século XXI
Ah, meus 21! Meus 12, ah, minha quimera!
Que merda, ando tão velho.
E esses filhos da putinhas que insistem em nascer em 2011. Não para.
Porra, não para.
Pra onde olho,
Para onde olhava, Justino via documentos
vias que diziam: marinaldo dos santos, felipe gabriel de souza, amanda de castro,
nascidos na maternidade de tal,
no hospital da cidade xis. Eu envelhecendo e esses putos nascendo.
Porra, não pará, carimbava justino.
Mas a vida de justino não era assim tão deprimente.
A vida, como todos sabem, é uma boquinha cheia de presas
sempre nos superprendendo. Se de um lado atormentavam-no as rechonchudas crianças, rebentos de rechonchudos pares de peitos,
justino encontrava satisfação nos olhares tristes ou indiferentes de outros:
então foi câncer de fígado a causa, meu sinhor? ,
(como uma barata tonta, a certidão de óbito)
que coisa né, sorrisinho sob o bigode,
carimbava justino

Uma nova editora

selo novo na área: Tordesilhas

Lançaram um livro da Pizarnik!

22 de maio de 2011

listas, listas

as famigeradas listas: sempre há quem as critique.
eu adoro. onde há uma, eis eu e minha caneta anotando sugestões.
o enzo potel fez há pouco, um top 3 para romances e contos lidos lá na coluna dele
deixo o meu:
1º Crime e Castigo, do Dostô.
2º O ajudante, de Robert Walser


3º O apanhador no campo de centeio (salinger), O grande Gatsby (Fitzgerald), Inferno (barbusse)? Breve romance de um sonho (schnitzler), O processo (kafka)?

Empate, vai. Não sei precisar qual.

Obs 1: O critério que utilizei foi o mesmo do enzo: obras que vão fundo, que mexem com a gente.
porque há várias obras, dentro dos meus "favoritos", que estão lá por outros motivos. Caso do louco "Macunaíma", ou do enfadonho "O ciúme", do Robbe-Grillet, um livro raso como uma poça que não recomendo a ninguém, mas no qual aprecio a cara de pau do autor.

Obs 2: Desculpem-me pelo primeiro lugar óbvio, mas tem que ser. Ele pôs um machado na minha mão.

Obs 3: Se fosse para considerar "A obscena senhora D", da hilst, como um romance, então ele deveria estar aqui. Mas vou contá-lo como uma narrativa curta, prosa poética. Deixo a lista para os romances mais tradicionais.

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E quanto aos contos, céus, que dificuldade. Não consigo definir 3, nem precisar qual o favorito. Alguns:

 - Bliss - katherine mansfield
 - Casa Tomada/As fases de severo de J. Cortázar
 - Nota de pé de página, de Rodolfo Walsh
- A queda da casa de Usher, Poe.
 - A prodigiosa tarde de Baltazar, de Gabriel G. Marquez

teu namorado bobo, etc

você me desculpe por se meter na tua vida
se assim faço, é porque eu queria meter na tua
você me desculpe por

21 de maio de 2011

sra. poetisa está invitada

tenho café
vamos fazer uma renga
lá em casa

entrada free até às
quarto

ou escolha:

open mouth
mulher desacompanhada
só paga
se quiser.
nonsense vc sabe mas te amo
mulher
tu és a pedra
no meu chapéu

A cummings' poem

if you like my poems let them
walk in the evening, a little behind you

then people will say
"along this road i saw a princess pass
on her way to meet her lover(it was toward nightfall)with tall and ignorant servants."



In: Etcetera: The Unpublished poems of E E Cummings. Liveright, 1983.

18 de maio de 2011

diante de minhas cartas repletas
de patas
e malabares
escritas com mão de amante desastrado
daia se faz silêncio:

ousada
me manda uma carta
em branco

14 de maio de 2011

carta pra ti

nem tanto carta, mais pra bilhete.
estou passando por uma fase ruim. Mal componho uma lista de compras. Mas talvez não tenha dificuldade nessa carta, pois a carta, quando resposta, não vem do nada. é conversa no papel, ela parte de um primeiro dizer. geralmente, se aceita esse tom, escolhe-se um ritmo e se responde. ou não, posso ler tua carta por cima e mandar uma resposta que não é resposta, uma carta despreocupada, falando de outras coisas, respondendo a perguntas que você não fez: aí seriam dois papos concomitantes. muita coisa se perderia, né?. é controverso, mas me parece agradável, bobo, vivo.
certeza que este bilhete, já longo, virando carta, há de te pegar de surpresa. primeira vez que te escrevo carta, agora vc saberá o que há tempos sabem meus destinatários amigos: me perco nos escritos. sou preguiçoso, desorganizado para com conversas, cartas, promessas, combinados, apostas. Mas carta, graças, não tem validade. Demoro anos, mas respondo. Quando se atrasa, o papo se perde, é isso?
Sim, se perde. E quando vamos procurar, achamos outras coisas pra falar. Coisas que não acharíamos se houvéssemos respondido a carta de pronto. Aliás, carta e prontidão não combinam.
Queria te escrever para falar pelo meu amor por telegramas, mas estou meio ruim, como já disse. Guardo para outro dia.
Contento-me em te responder, esperando que receba esta com o carinho de quem a escreveu.
só agora digo o que queria dizer logo no início: agradeço tua atenção, tuas leituras. gostei muito de receber tua carta virtual, embora tenha demorado a responder (mas quanto à demora, creio que você compreenderá a explicação que lhe dei)

escrita à mão tem caído em desuso, nós sabemos.
nossas gavetas andam feias e tristes, repletas de canetas e papéis de bala,
pois não trocamos mais cartas. Em compensação, empanturram-se nossas caixas de email, nossos blogs, nossas redes de contRatos.

Nova função social dos bilhetes e das listas de compras: lembrar-nos que temos caligrafia.

Tão bonito desenhar letras. Como a gente se permite ficar batendo em botões o dia inteiro, como macaquinhos amestrados?
A, para a letra A.
B, para a letra B
CÙ, às vezes me desanimo, pois quase todo assunto cai nesses poços sem fim chamado "discussão sobre a passagem do tempo" ou "a velocidade da que a porra de nossa vida, carrosel pseudoselvagem, tomou tem tomado. (mas a vida é linda, não se esqueça disso)

mas onde eu estava?
céus, que bilhete mais longo. outra coisa que sabem meus destinatários: sempre me perco. sempre escrevo muito menos ou mais do que gostaria.
ah, tua carta não ficou nonsense, não.  muito clara e bonita. passa amor pela vida, como sempre.
aliás, não é só vc, tenho reparado isso em outros amigos. o que é ótimo, pra quem escreve e pra quem recebe.
hoje escrevo muito â mão? não,
pouquíssimo.
como tenho feito poucas limonadas ou ouvido pouco the pretenders.
a gente sabe mas não aprende, né? adoro controvérsias, oxímoros, balas de gomas com cara de docinhas mas enormemente azedas.

mas onde eu estava? acho que perdi de novo nesse escrito,  o que ótimo, maravilhoso, é meu eterno desobjetivo
te agradeço por isso,

porque lulu bergantim não atravessou o rubicon

um autor fantástico que merecia mais fama do que tem hj:
josé cândido de carvalho.

8 de maio de 2011

[2]

RT @rilkeshake TORRO ano 2011 pouco uso única propr. troco p/ ano anterior + dinh.

7 de maio de 2011

um poema de Sá de Miranda

(poeta português, contemporâneo de camões.)


ESPARSA

Cerra a serpente os ouvidos
à voz do encantador
eu naum, e agora com dor
quero perder meus sentidos.
Os que mais sabem do mar
fogem d'ouvir as sereias;
eu não me soube guardar:
fui-vos ouvir nomear
fiz minh'alma e vida alheas

1 de maio de 2011

    espelho inverso,
    hidra de brinquedo,
   
    os namorados tristes
    se abraçam no shopping
    sem segredo

um poema de camila fortunato

sem querer



que às vezes você fere

sem querer ferir



e sem saber

destrói

o que há de ti

em mim



ai de ti, meu bem

que em meu peito morrerá

no fim

sem querer
 
 
------
 
clique AQUI para ler o poema em seu habitat natural

30 de abril de 2011

se estou com o vento, me dessarrumo

pois então, seu eliot
abril também sabe ser cruel
para as bandas do sul

confuso tempo este,
de frutos podres
e sabida doçura
de ruas apinhadas de pessoas com pressa
a tomar os mais longos caminhos
para suas cascas

mas,
como tudo, abril passa
e cede lugar a verões fora de época
perdidos fogos sem estrebarias
aladas sementes sem norte

e como toda chuva,
abril passa
abril poça
escuro caldo de memória e desejo, seu eliot

17 de abril de 2011

rosa me dizendo que amizade dada só pode ser amor,
mas o que dizer desses encontros furtados
choques cotidianos de gentes com pressa
esse oi tudo bem
sim, tudo ótimo
onde o amor nessa retórica torta
contra a qual não se reclama
como não desarmar-se, sorrir
diante de quem
pergunta tá tudo bem
sim
até mais ver

a palavra lançada não volta
só traz dor
a busca pelos dardos

não há autópsia possível
não há marca evidente do tiro
a palavra lançada não volta

pássaro imortal
a palavra lançada
não há

três somem

três somem
no escuro do quarto

e deste ballet
de impossível sincronia
é preciso um afogado

para que o amor escape
mais uma vez
                       por um tris
                                                     te

16 de abril de 2011

poema de Alcides Buss

De ler e andar


Há dias em que há

mais sentido nas ruas

do que nos livros.

Nesses dias se deve

de casa sair

e, dentro de si,

caminhar à escuta

da vida.



Há dias,

porém, em que mais

sentido há nos livros.

É preciso, então,

trancar-se em leituras

e, numa entrega de sonho,

misturar-se ao mundo


Alcides Buss

 
In: poesia para gostar de ler poesia. editora letradágua.

11 de abril de 2011

amores de vanguarda morrem cedo:
essa paixão,
dançada na corda
de bambas pernas,
já nasceu queda

e eis o bar
essas duas cadeiras sem mistério algum
esse jogo de persianas

acudam-nos garçons
piratas
e deuses
de última hora
que
vamos repensar a rota desse barco
essa sala de ausências:

onde pôr o amor
se não há vagas
no mar?
onde, sol, se põe
o amor
onde o sal,
onde o ciúme
essa tequila dos olhos?

precisamos propor
exercícios aos corpos:

(não sonhar com cavalos
a correr
em verde campo
imagem por demais pintada
e já sem agruras)

(descansar braços pernas
fazer da língua sutil arma branca
contra nossa arvorosa
 correnteza)

(desaprender
(os cílios
(joelhos
(e ouvidos
(voltar a ser cinema de sustos
imitação da chuva
singradura contra as pedras

oh, sim,
precisamos desarmar esses corpos
que amar também é ruir aos poucos
e casais se alimentam das migalhas de outros amantes

o amor canonizado
ai dele,
coitado
zeus nos livre fazer da paixão
um ponto de referência

tratemos de sorver aqui
nosso cálice de absintimentos
brindar o gratuito
saudar o banquete dessa época
viver essas ruas
a profusão de meninas
nosso
barco de cristal

10 de abril de 2011

rosas se agitando
jerry lewis na vitrola:
o rock ou o vento?

9 de abril de 2011

Um homem entra numa escola e mata várias crianças. Graças às suas caixas mágicas, todos no país passam a saber do ocorrido rapidamente. e não há quem não se comova, ainda que não queira pensar no fato. Porque se pensarmos um pouco só sobre o ocorrido, se desenharmos na mente, ainda que de forma tosca, um grupo de crianças sendo mortas; se imaginarmos, ainda que precariamente, que vida levava apenas uma dessas 12 crianças (do que gostava, como era seu rosto, o que pretendia fazer nesse fim de semana) cairemos num fosso interminável. notícias assim levam um pedaço da gente de forma silenciosa. roubam alguma coisa nossa que não tem nome. e, por não ter nome, sentimos o furto delas mas não reclamamos, pois impossível. as famílias das crianças que se foram desmoronaram. os outros, o resto do país, continuam de pé. nós continuamos de pé, seguindo. Apenas ruímos um pouco. E por quê? Porque já temos fardos suficientes, agruras diárias, pequenas tragédias. Não podemos atolar diante de cada tragédia que nos fere. O que seria de nós se carregássemos às costas todas as mortes que nos comovem? Por isso a dor breve, o furto sentido mas não reclamado. Por isso essa pequena ruína. Por isso já ligamos o rádio, abrimos um livro de contos. Por isso já combinamos de dançar hoje à noite e quem sabe passear na praia amanhã (se der sol). Ah, o esquecimento, essa faca de mil gumes. Se nesse momento ainda retumba na mente o assassinato das crianças, é certo que irá passar. Logo uma outra tragédia irá tomar seu lugar. Quem sabe um famoso goleiro matando de forma cruel uma mulher. Ou talvez um pai que atira sua filha pela janela do apartamento onde moravam. Certo é que há de vir. Enquanto isso, prossigamos ruindo, que a vida não pára. "Dá-me mais vinho que a vida é nada", disse Pessoa.

6 de abril de 2011

falou Bolaño

“Soy mucho más feliz leyendo que escribiendo.”


Roberto Bolaño

3 de abril de 2011

um velho drama moderno

Avatar 1:
"Acho essa comunicação via internet problemática, as pessoas em geral não tem compromisso (por exemplo, de responder uma msg, ou sente uma necessidade real de partilhar), é tudo muito superficial, 645 amigos, imagina, não fazemos sequer 10 amigos verdadeiros ao longo de toda a vida, os que derem sorte talvez 20... O que passa disso é outra coisa qualquer, porque amizade é como amor, exige dedicação, que se arranje aquele tempo que não se tem, que se esteja disponível e necessitado ao mesmo tempo. "




Avatar 2:
"vc tem razão, é muito difícil que das comunicações pela internet (sempre muitas, e sempre muito rápidas) saia algo sequer próximo de uma amizade como a que temos com nossos amigos na "vida real". porque a presença, o toque, é algo fundamental que a internet não possibilita. somos avatares que conversam. existimos nisso que escrevemos? sim. mas será uma existência virtual, frágil, que dificulta muito amizades, coisa que vc definiu muito bem."

extraído de uma conversa internética, numa dessas várias redes sociais nas quais a gente se perde.


PS: não quero soar fatídico, pessimista. acho, sim, que da troca de e-mails, cartas, recados,sei lá o quê, podem surgir amizades, que podem ser mantidas por anos. mas é raro.

entrevista com lídia jorge




Bruno, rapaz muito gentil, mostra-me esta entrevista com a escritora portuguesa Lidia Jorge.

um tanto longa, mas interessante.


um trecho da fala de Lídia:

"eu gosto imenso dos leitores que leem lentamente porque são aqueles que são capazes de respeitar na leitura aquilo que é o movimento interno de nosso pensamento."

2 de abril de 2011

Enfim, mais Walser

O público brasileiro contava com apenas um livro do suiço Robert Walser: "O ajudante", editado em 2003 pela Arx, em tradução de Zé Pedro Antunes. Apaixonei-me pelo romance que acompanha os passos de Joseph, um jovem que vai morar na casa de seu patrão, o engenheiro Sr.Tobler (o enredo do livro é mínimo. a graça está no modo como o autor apresenta os dramas íntimos e as reflexões do jovem em face da realidade falida que o cerca.)

Desde então eu vinha torcendo por novas edições no brasil, já que em portugal há várias traduções de walser (esses gajos, sempre na frente...). E agora ela veio: JAKOB VON GUNTEN - Um diário, que sai pela Companhia das Letras, com tradução de Sérgio Tellaroli.


Um viva pra Companhia! :))))))
Outro viva pro meu bolso furado!  :((((((

27 de março de 2011

Re:

miniiiiiiiiiiiiiiina
que loucura devia ser  para os poetas
pegando em penas pra falar de suas coisas muy dolorosas
pois agora te escrevo aqui desse tectec super confortável
e meus problemas parecem um samba de tão ritmados

amada, menina, não sei por onde

começo: cascos ou carícias?
ando seviciada
e pari uma expressão: tomar dórres: tomo altos (e fico extremamente fébria)

brincar de amar tem me cansado
fui à caça de pontes estratégicas
eis o mapa:
pular num fosso imenso até estourar a bunda no SUL

faz sol aqui embora eu não veja
este computador, sempre este sofá de minha mãe
esse cheiro de mofo nos olhos,
vou abrir as janelas
vontade de dar uma festa
simples como se faz um café
amar como quem estende uma xícara que,
na mão do amigo
se estilhaça

desisti das troças - (divertidas, mas depressivas)
ando fazendo trovas, amiga
ando fazendo chás
e às vezes canto

e falando em coral, te conto uma:

hermoso rapaz
atravessa meu coração
pra pedir água

o que disse a ele?
ORA VÁ PRA PUTA QUE TE PARIU,
vá se eunucar!
eu quero um amigo logaritmo
quero um amor sedento
pra chafurdar nesse monte de areia que sou

um amigo pra brincar de tabela periódica
que entendesse meus verbetes

AMOR: 1- O mesmo que seara 2- O mesmo que Saara 3- amor é tudo que chamamos de amor 4- Amor é tudo que se ara e fenece e os cavalinhos comem.

E eu aguento?
que amor não é coisa para se conseguir
inapontável

amor é coisa que se ganha no palato
se leva nas coxas
se mata no mar

por isso a paixão: adorável jogo de piratas

é tão bom ignorar tudo, amiga
é assim que leciono
jogada no sofá de minha mãe
colecionando cartas e pontes de todas cores e tamanhos

o que você me conta de inútil?
tens trepado, sua samambaia?

segue em anexo minha razão
te mando minhas mais gozosas vibrações
te beijo


amália

26 de março de 2011

de castigo

sábado, 9 da noite, o telefone toca. é minha tia.
o que ela quer?
uma ajuda. minha prima tem uma tarefa (tá na oitava série) que não consegue fazer. é um poema. e como eu gosto de poesia e tal...
pode fazer um poema?
eu: ah, claro. (menino solícito)

aí eu pensei, ah, dá-se um jeito.
do outro lado da linha, a tia diz: tem uma condição. há palavras obrigatórias, que devem constar no poema. TODAS devem  constar (não sei como).
são elas:

PUREZA
CRIANÇA
VIDA
VIVER
FELIZ
CANTAR
BELEZA
APRENDIZ
DEUS (valei-me, saramago.)
BONITA
IRMÃO
CORAÇÃO
ALEGRIA
AMOR

SAÚDE
SORTE

pode uma coisa dessas?
pensai no estrago.

23 de março de 2011

ai, ai ai, Cosac

editora de porte como o da Cosac Naify não pode deslizar desse jeito:

http://desengripando-a-ficcao.blogspot.com/2011/03/como-engripa-ficcao.html

poemas de kaváfis



 esperava mais dessa primeira leitura de kaváfis, poeta grego.
 há uma possível explicação, que está na pequena introdução do livro: esses "segredos" são 13 poemas sensuais que kaváfis não renegou mas que também não selecionou para publicaçao enquanto vivia. Algo como "não para publicação, mas pode ficar aqui", diz-se na introduçao. A tradução foi feita direta do grego por três tradutores, mas como se trata de uma pequena editora (edições nephelibata, de florianópolis. Lembrou-me a extinta Noa Noa, se bem que esta fazia edições bem mais sofisticadas.) fica a dúvida quanto à qualidade da tradução.
 Achei que são poemas muito simples, beirando o óbvio às vezes. Um que se pode destacar, que é mui bonito,  chama-se "E toquei e deitei em seus leitos". Posto ele aqui:


E TOQUEI E DEITEI EM SEUS LEITOS

Quando entrei na casa do prazer,
não fiquei na sala onde comemoram
com alguma ordem amores reconhecidos.

Fui aos quartos ocultos
e toquei e deitei em seus leitos.

Fui aos quartos ocultos
que os tem por vergonhosos e para os apontar.
Mas não vergonha para mim - pois então
que poeta e que artista seria?
Melhor se fosse um asceta. Estaria mais de acordo
muito mais de acordo com minha poesia;
do que me deleitar na sala tão banal.


Curioso como a ideia que passa no poema parece ser justamente contra o que eu disse: a poesia banal, muito simples, que beira o óbvio. tomara mesmo que a poesia de  kaváfis, os outros poemas, seja estes dos ocultos quartos, e não como "amores reconhecidos".

Este livreto (plaqueta, segundo a editora) é bom, mas nada fantástico. Mas continuo curioso para ler mais kaváfis, os poemas principais, especialmente se forem aqueles "poemas" com tradução do josé p. paes (acho que saiu pela ed. josé olympio)

- "Segredos". Edições Nephelibata. Tradução de M. Sulis, M. Jolkesky e A.Nicolacópulos. 2010.

9 de março de 2011

geração

rugas a conversar
de falas afiadas
e falos erguidos
como se juventude fosse brado como se
fosso impossível
como antebraços contra o sol
come meninos

eis nosso lote:
na mesma raia
afogamo-nos

8 de março de 2011

roda-gigante

quem metralhou?

quem metralhou
alta maré noturna
na boca do ocaso
(o vento)

dentro da noite
as meninas se acenam
e já entram no parque fluvial

final de domingo
comichão de medo
se na noite houvesse mais meandros
não descarrilavam as cordas,
e lá do alto as meninas veriam a pequena boca laranja

mas mui corrente o escuro
engole o degelo
e
entre
ra
  ja
da
   de
 ri
sos
revoam
      os
          casacos

uma placa dentalmetálica se solta:
(por que sussuram as meninas isoladas?)

pois papéis de balas,
céu de repicadas imagens
xaubeijam-se as meninas
sob noturna
enxurrada
e a rua
agora ganha dois tiros
no escuro.

chão batido,
campo sem flores a vender luzes
a flor não-sei-o-que-é
foi metralhada,
quem metralhou?

chove pelo chão.
se todos a favor da chuva quem contratempo
quem meninas
se ferinas
não cabem
quem noturnou?


(foi o vento)

dear

Let's sin

g
uess the name of the muse
c

1 de março de 2011

"Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguagem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse."




d'"O conto da Ilha Desconhecida", de josé saramago. editora Companhia das letras.

27 de fevereiro de 2011

our sex as a cumming's poem:


our legs are wordSword

and

THIS ___________________ bed

(THIS p-a-g-e)


:

the
world

26 de fevereiro de 2011

explicação sem ninguém pedir

um tanto descabida, eu diria.

no comecinho de janeiro, caí de cama.
tomei uma saraivada de sintomas, e foram tantos, que foi difícil esclarecer a causa de tudo.
A princípio: stress. mal moderno. acúmulo de fadiga e preocupações em 2010.
O negócio é mudar os hábitos nesse ano! Céus, ainda resisto à ideia de que o stress pode derrubar alguém da forma como fez comigo.

Agora, quase dois meses depois, me sinto bem. Disposto. Com vontade de fazer todas as boas coisas que não fiz nesse tempo.
Isso inclui escrever mais aqui, visitar os colegas de blogosfera, estudar, entre tantas coisas.

Então é isso. Acho que esse comentário é o pontapé, um pouco tardio (mas sempre é tempo), para 2011.
essa postagem, claro, de nada serve. achei preciso, ainda que descabido.
mas, para a leitura valer a pena, recorro à adélia e sua poesia maravilhosa:

abraços

----


EXPLICAÇÃO  DE POESIA
SEM NINGUÉM PEDIR

Um trem de ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia
atravessou minha vida,
virou só sentimento.

Adélia Prado


In: Bagagem. Editora Record.

14 de fevereiro de 2011

juventude

"Todos esses anos, falou ela em seguida, todos esses belos anos! Como todo aquele passado havia sido bom e justo. E os erros, todos aqueles erros: justos também. E as loucuras: quão necessárias! Ser jovem era errar, falar, agir sem pensar adiante; senão, onde ficaria o progresso? E as experiências vividas, teríamos o resto do tempo para refletir sobre elas, aprofundá-las. A vida, de qualquer modo, era longa demais para asfixiar a juventude."




Robert Walser –
In: O Ajudante. Editora Arx. (Trad. de zé pedro antunes)

13 de fevereiro de 2011

inferno

repleta de pombos
você corta a praça

parados, te observam sem susto ou fome.

10 de fevereiro de 2011

lenhadores

você me pergunta o que houve nesses últimos meses.
há alguma coisa diferente. vc me pergunta o que há.
Minto:

indaga algo sobre nuvens, sobretudo
acerca de nadas
sobre cercas que jura ter posto durante o sonho
e que já não limitam

mas é como se dissessse "que fez o tempo? que fez o tempo enquanto rachávamos lenha no quintal?" E eu lhe respondo, na mesma língua de lascas, que tens razão, que a culpa é sempre do tempo,
esse apartamento sem paredes onde moramos
como elétrons sem quem nos aparte
se batendo
e, no susto,
batizando soco de sexo
comemorando cada susto
como se convidados da noite

isso, amor, foi ele, o tempo, o nosso vizinho de porta, o que veio jejuar. foi ele, o malandro, sempre ele a nos espreitar. sempre ele, fechadura pela qual nos olhamos, eu e você, a gozar sem nossos corpos, eu e vc a gozar
contra a porta, gozo duro, seco, o que é bom, oh, sim, muito bom, rende o suficiente para o rigoroso inferno austral que faz por essas bandas. e
enquanto recolhemos gravetos te falo da formação das nuvens,
de como anda a construção das colméias e quantos amigos perdemos essa semana.
e você, companheira, pede sugestões sobre o menu: o que vamos jejuar esta noite?
sobre que belo prato fixaremos nossos olhos sem fome?
há de ser especial, pois ele vem hj, amor, o nosso vizinho, o tempo,
(esse a quem vc chama "o desgraçado", "o todo-ouvidos" ou simplesmente bufa, quando seu nome esquece.)
mas deixemos isso de lado; ele está aí
ele, querida, foi ele, tenho certeza:
que recolheu a chave escondida sob o tapete e vasculhou nossa  casa enquanto lenhávamos.
por isso essa confusão

por isso o suor doce a cama larga
por isso nossa lâmina de depilar desafinada
nosso gato agora sem nó
nossas coisas sumidas, antes pelos cantos, agora sobre a cama, agora tão larga
agora tão cedo que até nos lembramos de olhar o arrebol após o café.
por isso essa rotina mudada.

foi um ladrão um ladrão um ladrão
você repetia enquanto pratos se guardavam sozinhos
enquanto o vizinho, o tempo, caía sobre a mesa de jantar,
eu e vc a nos olhar assustados.
quem fez essa bagunça. não fomos nós. estávamos fora.
foi ele.
foi um ladrão um ladrão, vc diz, um tanto neurótica,
procurando onde se encostar
e o ventilador a levantar as folhas secas
e eu com receio de delatar os verdadeiros culpados
começo rápido
a falar sobre o duro trabalho das abelhas,
a fala a sobrepor a falha
e discorro sobre a nossa cota de lenha alcançada
e eu a te esconder, discorrendo pelos cantos,
a ameaça das nuvens
então um prato imaturo erra, vai ao chão:

céus, nós não temos quintal,
vc diz.

3 de fevereiro de 2011

doença de ler

"Porque a doença de ler, uma vez tomando conta do organismo, enfraquece-o a ponto de torná-lo fácil presa desse outro flagelo que habita no tinteiro e supura na pena. O desgraçado dedica-se a escrever."
 
 
 
Renée mandou-me, via skoob.
Trecho de "Orlando", de V. Woolf.
Parece fantástico.
 
Tradução de Cecília Meireles. Editora Nova Fronteira.

29 de janeiro de 2011

autógrafo

Paulo Francis e os romances


"Desisti de ler romances. Valery tinha razão. É impossível aguentar algo que começa "A Duquesa X acordou às 4 da tarde". Que que eu tenho com isso?"

Paulo Francis


A impressão que tenho ao ler hoje os escritos do Francis (não é da minha geração, infelizmente. Nunca vi suas reportagens para a televisão, nem li seus romances), é de um cara com um ego DESSE TAMANHO, e ao mesmo tempo com uma inteligência (com um baita conhecimento político/sociológico) DESSE TAMANHO, apresentados, quase sempre, com um humor muito peculiar. Gosto dele.



Obs: o trechinho  acima é de uma coluna de Francis, no jornal O Pasquim.
Extraído de  "O pasquim - Antologia - Volume III - 1973-1974. Editora Desiderata

PS: (para um draminha básico)

tenho escrito tão pouco aqui =( !
problemas humanos.
(naturais?)

15 de janeiro de 2011

um poema de adília lopes

uma moça me mostrou, por isso dessa vez não tenho a referência e não sei o texto tá exato. deve estar.
adorei o poema. primeiro dela que leio.

O Luna Parque

Eu julgava que aquilo era

um Luna Parque

saía-se como se entrava

e não acontecia nada irreversível durante

é o que é um Luna Parque

quando se é adolescente

mas não

quando dei por mim

já lá estava dentro

e não me lembrava

de ter entrado

quando disse agora quero-me

ir embora

riram-se ah minha rica

deste Luna Parque não se sai

quem cá vem não volta

não se volta atrás

então comecei a pensar

que ia passar o resto dos meus dias no Luna Parque

acabas por aprender vais ver

a fazer das tripas coração

habituas-te vais ver

nos primeiros tempos dói

dá vontade de vomitar

depois percebe-se que no Luna Parque que é

um sítio triste

pode não ser triste

sai muito caro

mas poder pode-se.
      "As paixões humanas são misteriosas, e as das crianças não o são menos que as dos adultos. As pessoas que as experimentaram não as sabem explicar, e as que nunca as viveram não as podem compreender. Há pessoas que arriscam a vida para atingir o cume de uma montanha. Ninguém é capaz de explicar por quê, nem mesmo elas. Outras arruínam-se para conquistar o coração de uma determinada pessoa que nem quer saber delas. Outras, ainda, destroem-se a si mesmas porque não são capazes de resistir aos prazeres da mesa – ou da garrafa. Outras há que arriscam tudo o que possuem num jogo de azar, ou sacrificam tudo a uma idéia fixa que nunca se pode realizar. Algumas pensam que só podem ser felizes em outro lugar que não naquele onde estão e vagueiam pelo mundo durante toda a vida. Há ainda as que não descansam enquanto não conquistam o poder. Em suma, as paixões são tão diferentes quanto o são as pessoas.

      A Paixão de Bastian Baltasar Bux eram os livros."



- A história sem fim, Michael Ende.

Editora Martins Fontes. Tradução de Maria do Carmo Cary.