A) contas coisas, amig,
e as coisas que diz não
ocupam espaço
pelo contrário
parece que arejam
o próprio passo, um atrair
e dançar de meus
planos e ideias
há tanto adormecidos
estrela cortante
você se foi e ficou a espera
parece que te vejo voltando
papai noel atrapalhado
saco entulhado às costas
tropeçando em caixas de dizer
cada caixa um conto
que vai sendo tecido
em volta do meu corpo
até sumir no ouvido
que é no fim o verdadeiro
coração das coisas:
te amo te ouço
até os ossos
e nunca te olvido
B) os objetos todos dispostos à mesa
cada coisa em seu lugar, tu, meu par,
quero dizer e posso mas não digo e não posso
se escondo, transpareço, se me abro em discurso
dos outros mero responso,
de ti espero as melhores fofocas,
corpo feito fonemas, corpo feito cama em si,
dispensando cortejos, nem pensar cantilenas,
nem pensar desabafos, que aí me sinto
fora da paisagem, peixe pura mágoas
não mais objeto, não mais personagem
nem pensar bater cabeça com as palavras
numa cantilena de dores, tu falas falas falas
e eis-me aqui fora da cena
tenho a faca e o queijo nas mãos
o queijo parece delicioso e a faca, também
empapuçado de vazios, nem por isso abandono
nosso jogo de dar e receber
oi, tudo bem? com minhas raízes
elevadas ao ar e em paz,
da terra me despeço, até mais,
mas antes não sabes da última: