16 de fevereiro de 2021

A sala da febre


aqui é a sala da febre

não se aceita outro estado senão a sezão

não se aceitam outros corpos sequer os febris

se aqui queres estar, venha ardendo

do contrário, mandamos todos para casa

não nos interessa o atropelamento

o edema o trauma o miocárdio apodrecido

salvo esteja o coração envolto em chamas

salvo seja a febre a esquina o motor o choque e a sepse

há mesas cadeiras paredes mas não energia

é preciso que a pessoas a tragam de casa

essa é a sala da febre

um conjunto de salas compõe um parque febril

aquilo que faz a febre é o corpo

as pessoas apenas a trazem e por isso não interessam

essa é a sala da febre

favor deixar apenas a febre entrar

as pessoas são acompanhantes

e devem aguardar lá fora



Arte: "A Clínica Agnew" (1889), de Thomas Eakins.

7 de fevereiro de 2021

J. R. R. Tolkien fala sobre os contos de fada

 Por ora só direi isto: um "conto de fadas" é aquele que toca ou usa o Reino Encantado, qualquer que seja seu propósito principal, sátira, aventura, moralidade, fantasia." (p. 10)

"Há uma ressalva; se houver alguma sátira presente no conto, há uma coisa da qual não se deve zombar: a própria magia. Naquela história ela deve ser levada a sério, sem escárnio nem explicações que a invalidem. Dessa seriedade o conto medieval Sir Gawain e o Cavaleiro Verde é um exemplo admirável."(p.12)

"A magia do Reino encantado não é um fim em si, sua virtude reside nas suas operações, entre elas a satistação de certos desejos humanos primordiais. Um desses desejos (como veremos) é entrar em comunhão com outros seres vivos. Assim, uma história não poderá tratar da satisfação desses desejos, com ou sem operação de máquina ou magia, e na medida em que tiver êxito aproximar-se-á da qualidade e do sabor do conto de fadas." (p. 13)

Perguntar qual a origem das histórias (não importa como estejam qualificadas) é  perguntar qual é a origem da linguagem e da mente." (p. 17)


Em "Árvore e Folha", de J. R. R Tolkien, 2013, Editora Martins Fontes.

Tradução de Ronald Eduard Kyrmse