30 de junho de 2013

eu não aguento mais esse safety car que há anos está na minha pista a incrível história do atacante que está há cinco anos em posição de impedimento meu coração incediado por tantas largadas queimadas e bebo e me dopo e choro mas nego tudo e sorridente aceno para as câmeras de tv para vc do outro lado da rua

8 de junho de 2013

Há símbolos demais no mundo
e a tua fala é gorda de crenças como uma árvore de natal.

Tudo significa e leva a outras coisas e outros tempos
tudo é tanto que
às vezes não vejo a hora de entrar no museu do google
e olhar para alguma natureza morta.

Que quer tua mão para mim estendida?
talvez queira ajuda
talvez queira que lhe passe a margarina.

Em tudo eles veem falos
em tudo eles veem traumas da infância
e até hoje querem saber como estava o humor da monalisa no dia em que a estupraram.

Há símbolos demais no mundo.
Na cama, fumamos dois pintos marlboro e então apago o abajur.
Poucas coisas significam tanto quanto o preto o escuro a noite
e quando apago a luz não sei como dormimos.
Pela manhã acordarei cedo e prepararei para nós
uma deliciosa vitamina de banana com pecado .
novela das sete

ontem capotei meu carro
no corredor da sala
e enquanto eu e as coisas
perdíamos os sentidos
vi minha vida inteira
passar em um minuto

e eu não sei se vc vai acreditar mas
quase todo o filme
era feito de acidentes
de outros acidentes
de acidentes.

1 de junho de 2013

Posto aqui porque li há um bom tempo, mas sempre tô relembrando esse trecho.
(De uma carta do Flaubert a não sei quem. tá naquele Cartas Exemplares, da Imago.)

"Procuro passar o tempo da maneira menos tediosa, e achei como. Faça como eu: rompa com o exterior, viva como um urso - um urso branco - deixe que tudo se dane, tudo e você junto, mas não sua inteligência. Existe agora um intervalo tão nítido entre o que sou e o resto do mundo, que me espanto às vezes de ouvir dizer as coisas mais naturais e mais simples. A palavra mais banal me deixa às vezes em singular admiração. Há gestos, sons de vozes dos quais não me recupero, e tolices que me dão vertigens. Você já escutou alguma vez atentamente as pessoas falando numa língua estrangeira que você não entendia? Comigo é assim. à força de querer compreender tudo, tudo me faz sonhar. Parece-me no entanto que essa estupefação não é estupidez. O burguês, por exemplo, é para mim qualquer coisa de infinito. Você não pode imaginar o que o apavorante desastre de Monville me causou. Para que uma coisa seja interessante, basta olhá-la durante muito tempo."