27 de outubro de 2010

não bato bem da cuca:
pra bocarra
do bicho
corro
quando à noite
maluca
ela vem me pegar

24 de outubro de 2010

questão de pontuação

um é pouco
dois é bom
três é demais

- vai um ponto de exclamação ali, professor?

um poema de mário de andrade, mais uma nota do diário ínfimo

MODA DOS QUATRO RAPAZES

(Campos do Jordão)

Nós somos quatro rapazes
Dentro duma casa vazia.

Nós somos quatro amigos íntimos
Dentro duma casa vazia.
Nós fomos ver quatro irmãos
Morando na casa vazia.

Meu Deus! si uma saia entrasse
A casa toda se encheria!
Mas era uma vez quatro amigos íntimos...
(mário de andrade)

 
ps; das Suas Poesias Completas, editadas pelo Círculo do Livro.
ps2:  no sétimo verso, é "si" mesmo. mário escrevia "si", "milhor". nunca me dei ao trabalho de verificar se isso era jeito dele ou se era assim antes. deve ser jeito, que mário é da turma dos inventadeiros.
ps3:sugestivo, o poema, não?
ps4: não liguem pra essa repentina enxurrada de poemas. gosto muito de guardá-los, mas nunca achei o lugar ideal. estou pensando em algum tipo de caderno, algo assim. Nos blogs não tem dado certo. além disso, nunca sei até quando plataformas como Blogger e Tumblr irão durar. caderno é uma boa, mas e a disposição pra escrever à mão? nhé

23 de outubro de 2010

dois poemas de chico alvim

JEJUM

Cuspiu no prato em que comia
Tiraram o prato

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QUIFOIQUIOUVE RAPAZ

 Me raparam o olho

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In: Passatempo e outros poemas. ed. brasiliense. 1981


- gosto muito desses poemas-minuto. às vezes, como uma cena, rápido relato. às vezes, uma sacada, um jogo com uma palavra ou frase. Oswald tem um livro fantástico - pra quem gosta desses poemas - chamado "Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade". Esse poema-minuto, ou seja lá que nome se dá, é apenas um modo de fazer poesia, coisa infinita.
falando nisso, dia desses eu pensava: cadê os poemas longos? perdemos o fôlego? e agora, josé?

16 de outubro de 2010

poemas para rezar

PROVINHA BRASIL

--Última Pergunta, meninada: O Estado é....?
-- Laaaaaaaaaaaaaaico.
-- Amém


NOTÍCIAS DE CANAÃ

nada de novo sob o sol, amor:
a mesma praia nudista
de sempre


ESTOPIM

esqueçam o tal do fruto
esse papo de pecado
tudo danou mesmo
quando a cobra
mordeu o seu rabo



BEST-SELLER

vida longa aos contos do vigário.


CHÁ DE BEBÊ

noite quente
piruetando entram
de repente
três ilusionistas

eis os presentes
beijo josé maria
pra gente
três donativos

é urgente
vamos indo
simples hotel
três estrelas

OITO OU OITENTA

deus e diabo:
dois
manequins

 mas o que siginifica isso?
-- maniqueísmo


POLÍTICA

na eleição dos profetas
seu judas foi
o mais votado


TELEVISÃO

muita sorte de jesus
ter sido crucificado
naqueles tempos


10%

dizimar é um ato muito justo
já diziam as escrituras


SÃO RIMBAUD

noite girândola
por aqui belas colunas
o inferno é lindo
pura e doce
tâmarazul
da cor do deserto.

MANDAÇÃO

Não cobiçarás a religião do próximo.


CONCLAVE

papa contra o verso
pudera
quem é que se orienta
com 119
 pontos cardeais?


PIPOCALIPSE

que azarado!
quando cheguei no cinema
o mundo já tinha acabado.

9 de outubro de 2010

Estou ficando mocinho

Próxima segunda-feira completo vinte anos.
Eis um trechinho de Rimbaud sobre a juventude. um auto-presente.



JUVENTUDE (trecho)

II - Vinte anos

As vozes instrutivas exiladas... A ingenuidade física amargamente serenada...Adágio. Ah! O egoísmo infinito da adolescência, o otimismo estudioso: como estava o mundo cheio de flores este verão! Os ares e as formas evanescendo-se... Um coro, para acalmar a impotência e a ausência! Um coro de vidros de melodias noturnas... Realmente os nervos vão saltar depressa.

-- Rimbaud
(Trad. de Ledo Ivo)


-- Já Saltaram, Rimbaud!

Já saltaram!

3 de outubro de 2010

 para a daia


salta no tanque, a rã:
grito de minha mãe
espanta a poesia

2 de outubro de 2010

Breve entrevista com Dona Forca

Os anos passam, métodos suicidas se tornam arcaicos, outros surgem, mas o velho laço de corda não sai de moda. qual o segredo do sucesso, Dona Forca?

- Eficácia e plasticidade, sem dúvida. E não dar corda à algumas falsas tecnologias é algo importante.
- Com isso a senhora quer dizer que armas de fogo, drogas, gases, lâminas (para corte de pulsos) e outros são instrumentos-adversários?
- Também.
- E quanto à defenestração, que não pede nenhum instrumento?
- Coisa de miseráveis sem-graça. pão-duros.
- Mudando de assunto...  a Senhora gosta de sua função? Gostaria de ser outra coisa, caso pudesse?
- Adoro o que sou! Não trocaria meu feitio nunca. Forcas são kamikazes. Sua utilização, sua glória, é também seu fim. Mas é uma bela vida. Enrolada, mas muito fime e bela!
- Logo, a Senhora é uma das que ainda aguardam usuário...
- Naturalmente. (uma piscadela)
- Aproveitando essa última palavra proferida, que pensa a Senhora da ideia de suicídio? Algo natural? Loucura?
- Essa é uma grande dúvida das forcas. Todas morrem de curiosidade de entender. A saída seria perguntar ao suicida, antes do ato. Entender por que ele está tencionando aquilo. Mas, obviamente, nenhuma corda jamais fez ou fará essa pergunta ao enforcando (termo que - no vocabulário próprio das forcas - designa aquele em vias de cometer o ato). Seria burrice.
- Perdoe a ignorância... mas por quê seria um ato tolo?
- Já pensou se, por conta da reflexão originada pela pergunta, o cara resolve desistir? Seria frustrante para a forca! Seria o fim da carreira dela!
- E que fim levam as forcas daqueles que desistem de se matar?
- Viram corda para as crianças brincarem de pular. Horrível, não?
- ....ah. Bem,  falemos de História. Antigamente a Senhora ocupava outros cargos. Além de instrumento para suicídio, as forcas também eram usadas para execuções...
- Ah, meu jovem, bons tempos....  após essa época, a situação ficou difícil. Reduzidas à função suicida, ficamos mais requintadas, sem dúvida, mas faltou trabalho.
- E qual a consequência disso para o grupo das forcas?
- Tiverem de desatar-se, infelizmente! Viraram lixo. Brinquedos. Lamentável.
- Lamento sinceramente. Dona Forca, antes de terminar essa entrevista, uma curiosidade particular... Há alguma relação familiar das forcas com as gravatas?
- Por favor, não toque no nome daquelas vendidas! safadas!
- Desculpe-me. muito obrigado por sua generosa entrevista
- De nada. Você sabe que estou sempre à disposição...