25 de dezembro de 2010

notícias

e de repente a luz se apagou e eu ali na sala rodeado de livros e sem nenhuma vontade de ler (novidade), oh tédio que enche de chamas especialmente as saídas de incêndio. lendo vários livros ao mesmo tempo, todos com pouco ânimo, então me ocorre abrir outro, um terceiro, embora não sejam 2, mas 8, as leituras em curso, e esse terceiro era um livro de poemas ingleses do século XIX, oh brave and nervous time, fazendo aquela associação-livre (livre?) ridícula: poetas ingleses velhos - castiçais - leitura à luz de velas, o que logo abandonei pois tomei banho no chuveiro elétrico, o que me remeteu de novo a esse marasmous year, 2010, quase 2011, que hoje é dia 25, de São Natal.
se desisti dos velhos poetas, não desisti da leitura, ainda que esteja enfastiado de ler, é ainda a única saída. que mais poderia fazer em noite de natal sem luz elétrica e sono, será? então escolhi, dentre os livros da pilha o mais divertido - aparentemente - o menos sério, que é da sylvia orthof, historieta sobre Zoiúdo, um monstrinho composto unicamente por um par de olhos - que sorriem e falam. Simpático.
peguei essa folha pra me distrair enquanto não melhoro do estômago/enquanto a luz não vem. eu ia contar o caso dos cupins cremados na chama da vela, mas agora me ocorreu algo que nada tem a ver com o momento, pois agora me lembrei de um certo costume, que é o dizer "ah, mas ISSO  (qualquer coisa) é que nem andar de bicicleta: depois que a gente aprende nunca mais esquece". e isso é uma baita canalhice, quase sempre essas comparações são mentirosas, que para aprender a andar de bicicleta basta 10% de força/impulso e 10% de manutenção dessa força/impulso e 10%  de primeira coragem antiqueda e 10% de equilíbrio e os outros 60% não-sei-o-que-é.   ----> (existir?)
canalhices à parte (há como deixar as canalhices à parte? gangorra falha), meu estômago continua malvado. isso afeta a respiração, e ficar sem ar tem o mesmo gostinho de ver a tal luz branca no fim do túnel, pode crer. Bem, e vai que daí não deveria tomar café, pq café faz mal demais, e o próprio leite também nesses casos faz, pq é de difícil digestão, creio. mas que papo aborrecedor, opa, a luz voltou, e deixa o caso dos cupins e fogo, etc, pra outra hora e chama, vou, café

18 de dezembro de 2010

antimonotonia

fim de ano, muito cansaço, quero me enredar.
o Daki-Dali tá em hibernação até algum mês de 2011.
E quanto a este, sei que a poesia está sendo repensada.
tempo de silêncio, remoer umas ideias, abandonar outras. arrumar os erros, se é que dá.
mas falar de leituras é coisa que amo, então isso não vai faltar.
escrevendo aqui e ouvindo música, coisa que não recomendo, e sempre faço. té mais.




simples e bom, o monbojó.

11 de dezembro de 2010

aos pés dela

e abro e reabro um dois vinte e sete livros de poesia. que grande merda de estante oh que seleta.
há algum tempo aboli o verso, que aí ninguém pensa que é poema, daí fica ruim mas nem tanto. jogo tudo na cama, inclusive meus olhos corridos sem se ater em nada. ler é muito bom e bonito meu filho, como isso me aborrece.

dias assim sem remédio não me aguento. só consigo abrir o livro da ana que parecia não aguentar nem a si mesma se jogando a cada duas palavras do próprio texto, os poemas como se fossem sacadas, balcão daquele apê em que se debruçou e pediu um drinque ao ar, e só tinha o éter, e devia estar delicioso. e que putas sacadas ela tinha, era ela e nem parecia. ou parecia tanto que deixava de ser.

6 de dezembro de 2010

ritmo é o problema.
cena de faroeste:
alguém fica a atirar na ponta de meus dedos enquanto escrevo um poema.
alma gêmea, sim
nós both
de frente pro espelho
enforcados
em  novelo felino

assim:
dois bofes
dormindo no incesto
de fogo de palha

corações canalhas
a empatar carinhos
somos
gêmeos do
primeiro ovo

oh, sim,
gema
minhalma
alma que gêmea bem alto
nonada de novo
mesmos vizinhos

5 de dezembro de 2010

nunca encontrarei minha alma-gênia
porque ambos
abominamos lugares comuns

vinte anos

tava quase dormindo já diante do meu computador, esse sofá velho de minha mãe, a morena do outro lado do balcão quis puxar conversa. procuro desesperadamente algo pra esperar desse ano porvir.
-- meu namorado é arquitédio. tem um escritório no centro.
nessas horas sempre penso em foder como resolução para os problemas da juventude. saco do bolso meu celular pra olhar as horas mesmo tendo relógio no pulso que bate bate, tudo bem, só tens vinte anos, essa arritmia é sinal de bonança, diz-me o doutor. e a moça mexe que mexe o whisky triste dessa noite. penso em parabenizá-la, afinal, o tal namorado poderia ser um advogado ou médico, essas coisas que enojam:
-- preciso mijar.
falei assim, logo que vi meia-noite, como se cinderela precisasse mijar a pedido da malfadada corri pro banheiro, apostando chegar antes da meia noite e um cara tava lá gemendo. no espelho desse computador meu rosto envelhecido 18 anos, os melhores pra beber sozinho segundo meu pai.
a morena me aborrece, não posso sacar um chocolate que ela há de me olhar de soslaio. a boite tá estrelada e sem nuvens e na pista a música da moda. olhando pro teto da noite é que penso na idiotice de meu pai a recomendar bebidas e fodas como as melhores coisas a fazer nesse idade que não volta porque volta sim, regurgitada nessa barriga de chope dos quarenta anos. e dá-lhe tapas nas costas e risos, e no ar a fumaça da morena que fuma. que nojo detesto cigarros e esse chocolate amargo que comprei enganado pela embalagem, bonito vestido esconde suas pernas.
-- vamos nos casar em março, diz quando volto, ainda o mijo porvir nesse 2011.
tumtumtum, bate o coração no centro da pista. grandes merda ter um mictório no centro
mijar todo dia do décimo sexto andar na cabeça dos passantes. e de tumtumtum passa pra tectec, esses teclados são todos iguais, já não se fazem mais onomatopéias como antigamente. que mundo mais plástico, meus domingos morrendo assim distraídos, enganados por invólucros parecidos. morena amarga, queria ao leite. meu pai me queria médico.
a morena espirra e eu aproveito para desejar saúde aos noivos.

suspirão

saiu no Anotícia de Domingo os textos premiados, incluindo o meu em 3º. E os caras em vez de publicarem da forma como o texto chegou, decidiram revisá-lo. E revisor não curte neologismo, porque eles não figuram no dicionário. Daí  porsissó apareceu entre aspas (pense na cena: Grande Sertão: Veredas com as aspas em cada neologismo do Rosa) e eles trocaram o neologismo desmotevada (sem mote, sem tema) por desmotivada. Essa última cagou com a frase. Transformaram a personagem numa desanimada. hijos. paciência.
diga-me com quem andas
e eu te direi quem rês

retrato de meu pai

apelido de meu pai, dado em criança, é passarinho. diz a lenda que ele corria de braços abertos e daí veio. azarado, ferrado na vida, sempre tenho a impressão de que somos iguais. que repito um caminho aberto por ele. outros pés, outras ideias. mesmo caminho. não é sina, nem destino. o que seria? não sei. é um cara muito teimoso, alegre, ora calado, ora expansivo, ora generoso, ora nem tanto. e é uma crônica ambulante. dava um livro. tem cada história. guardo comigo muita coisa, cenas, frases, coisas que me marcam e não esqueço. meu pai é único. quem mais nesse mundo poderia cantar como ele? do nada, ele começa aquela dos beatles...

-- "Hey Jude....

E para aí. porque não sabe o resto e só isso fica bom.
meu pai com sono é engraçado. vai dormindo, olho miúdo
você fala algo, ele chacoalha a cabeça, braços cruzados, como se concordasse
qual! nem sabe do que você tá falando.
às vezes ele fica calado, olhar perdido.
o que pensa nessas horas? em problemas, talvez. ou em nada.
e dos apelidos, ele gosta. me chama de dugo. só ele me chama assim.
de qualquer outra pessoa, a alcunha soaria ridícula.
meu pai preocupado é uma imagem bonita.



meu pai?
é o Passarinho,
tem uma barriga grande
mas seus olhos
são pequeninhos

um poema de pablo neruda.

(esse é outro daqueles pra ler e suspirar pela vida toda)


ACONTECE


Bateram à minha porta em 6 de agosto,

aí não havia ninguém

e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira

e transcorreu comigo, ninguém.



Nunca me esquecerei daquela ausência

que entrava como Pedro por sua causa

e me satisfazia com o não ser,

com um vazio aberto a tudo.



Ninguém me interrogou sem dizer nada

e contestei sem ver e sem falar.



Que entrevista espaçosa e especial!


In: últimos poemas. editora LP&M. tradução de luiz miranda.

3 de dezembro de 2010

noite de quinta, tava lá na univille, no 7º prêmio expressão literária
fiquei em 3º, categoria conto/crônica.
texto selecionado foi o "carta pra ti é uma coisa engraçada...."  gosto dele até.
o encontro foi bem bacana, e saí de lá bem contente.
se bem que meu id (ou é ego?) ficou dizendo.... "buuuuuhh, é a maldição do terceiro lugaaaahhhr",
isso porque em 2008, então com 18 anitos, fiquei em terceiro, categoria poesia.
mas estar lá, ser reconhecido, isso é muito bão.
que venham mais!
e bora escrever. de vez em quando me revolto, e acho tudo uma merda sem fim (mas boa parte é)
aí estar lá no prêmio dá uma acordada. pra trabalhar. reescrever. pra ser feliz. se pá.