5 de dezembro de 2010

retrato de meu pai

apelido de meu pai, dado em criança, é passarinho. diz a lenda que ele corria de braços abertos e daí veio. azarado, ferrado na vida, sempre tenho a impressão de que somos iguais. que repito um caminho aberto por ele. outros pés, outras ideias. mesmo caminho. não é sina, nem destino. o que seria? não sei. é um cara muito teimoso, alegre, ora calado, ora expansivo, ora generoso, ora nem tanto. e é uma crônica ambulante. dava um livro. tem cada história. guardo comigo muita coisa, cenas, frases, coisas que me marcam e não esqueço. meu pai é único. quem mais nesse mundo poderia cantar como ele? do nada, ele começa aquela dos beatles...

-- "Hey Jude....

E para aí. porque não sabe o resto e só isso fica bom.
meu pai com sono é engraçado. vai dormindo, olho miúdo
você fala algo, ele chacoalha a cabeça, braços cruzados, como se concordasse
qual! nem sabe do que você tá falando.
às vezes ele fica calado, olhar perdido.
o que pensa nessas horas? em problemas, talvez. ou em nada.
e dos apelidos, ele gosta. me chama de dugo. só ele me chama assim.
de qualquer outra pessoa, a alcunha soaria ridícula.
meu pai preocupado é uma imagem bonita.



meu pai?
é o Passarinho,
tem uma barriga grande
mas seus olhos
são pequeninhos

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