11 de janeiro de 2021

a natureza joga sem choro

a perda e metamorfose

Não há mais rinocerontes negros ocidentais

Nem rinocerontes brancos do Norte

Mas há em compensação

abelhas coloridas com fipronil

ideais para se misturar

aos cereais diarreicos matinais

Não há mais ursos polares

posto que não há mais polos

o gelo que por acaso resta

é mera quimera de pinguins 

embriagados de tiacloprido

Não há mais meros, 

e com eles a noção de medo e perigo

perdeu o mar a sensualidade e as festas que só

em águas profundas se podiam forjar

dia triste cheios de ais

para poetas e vendedores de picolé

que veem minguar os encontros, as imagens e as tatuíras 

a lira está em promoção 

só hoje!

enquanto durarem os cardumes

Não há mais imensos tigres

mas cada vez mais

eletroinsetos peixetilenos dinotefurões

tomando corações de assalto

contra o céu paraquático  

plana o belo glifosato

com suas asas cancerígenas

abençoando a chuvachumbo e as sulfoxaflores

a natureza toma em silêncio

a saída discreta pelos fundos

ciente de que sumir 

também é se transformar.