28 de fevereiro de 2014

quanto tempo falta
para eu não esperar mais nada?

quantos dias faltam para chegar o
quando-der-a-gente-se-vê?

quem é que sabe
de todos esses quem-sabes
que a gente lança todo dia?

quem paga a conta
por todas as vezes
em que apostamos no acaso
e perdemos?

e as coisas que deixamos pra lá
quem é que,
lá,
as junta e organiza?

como em lixões,
existem gentes que passam os dias lá
a revirar o que deixamos
em busca de pequenos tesouros?

quantas palavras a gente tem que dizer até que os outros enfim compreendam
que naquele momento
não estamos a fim de falar?

quanto tempo falta
para eu não esperar mais nada?

15 de fevereiro de 2014

coração caixa preta
forte
registradora
coração caixa de pandora
repleta de coisas e bichos maus e
lá no meio
um pandeiro
um coração pandeiro
onde se bate bate
bate até dizer chega
onde quanto mais se bate
melhor fica
de se ouvir
e nunca chora
não
o coração de pandora
nunca chora na hora
tem vergonha
e guarda e chora
noutro espaço
e hora
tarde da noite batem no teu coração
e vc nem se levanta
é trote
e vc chora
mas não agora
é ali que batem mas
não é ali que se chora
como o pandeiro
que apanha e apanha
e não chora
o choro sai
lá do outro da banda
pela cuíca
assim como
pelo olho
noutra rua
do corpo
desagua o que
dói no peito
coração olho
registradeiro
que vê sim
como vê o cego
a seu modo
coração olho cego
a tudo vê
e por isso tudo sente
registradeiro
aleatório
coração de pandorga
que só voa
em que dia em que não chove
(chora)
lá fora

gravidade


Aqui estamos
a contrariar as leis da física
soltando
         perguntas muito pesadas
que insistem em ficar
                no ar

14 de fevereiro de 2014


a intimidade e a solidão:
ela chega, tira um dos fones do ouvido
ele também tira um de seus fones
e ficam os dois meio conversando, meio ouvindo música.