Há dois tipos de bons poetas:
os que nos comovem
e os que nos fazem rir
Comoção engraçada,
compaixão de mãe.
Riso triste, vago, melancólico.
21 de maio de 2009
17 de maio de 2009
Um trem
Um trem é uma imagem solitária.
vento
deserto
tão perto...
tão longe...
Cortando a cidade,
a noite,
a tela do cinema,
sobre os telhados, os trilhos, os sonhos sem cura
ele passa.
E a paisagem assiste.
Ou é a paisagem dos meus olhos que roda roda roda, enquanto o trem do sonho repousa?
Um trem é uma pergunta.
Sem resposta.
vento
deserto
tão perto...
tão longe...
Cortando a cidade,
a noite,
a tela do cinema,
sobre os telhados, os trilhos, os sonhos sem cura
ele passa.
E a paisagem assiste.
Ou é a paisagem dos meus olhos que roda roda roda, enquanto o trem do sonho repousa?
Um trem é uma pergunta.
Sem resposta.
10 de maio de 2009
Alcool
Há uma mesa.
Sobre a mesa, há um copo que transborda borda borda borda.
Tento agarrar-me a uma das bordas.
E a mesa transborda.
O quarto transborda borda borda borda.
E transbordando, me agarro em algo, em qualquer borda.
Mas sinto que me afogo e morro.
morro morro volto volto: afogo afogo.
E quero uma palavra seca.
Borda borda,
a fala transborda
e falo falo
falo falo
e surge no quarto um buraco,
abre-se um ralo,
entram mulheres e homens
e entram luzes e cores e sons
mas o que eu preciso é sede, e nada mais.
Há uma mesa dentro de mim
E uma garrafa. E duas mãos. E uma folha de papel.
E um copo
Que transborda
borda borda borda
Sobre a mesa, há um copo que transborda borda borda borda.
Tento agarrar-me a uma das bordas.
E a mesa transborda.
O quarto transborda borda borda borda.
E transbordando, me agarro em algo, em qualquer borda.
Mas sinto que me afogo e morro.
morro morro volto volto: afogo afogo.
E quero uma palavra seca.
Borda borda,
a fala transborda
e falo falo
falo falo
e surge no quarto um buraco,
abre-se um ralo,
entram mulheres e homens
e entram luzes e cores e sons
mas o que eu preciso é sede, e nada mais.
Há uma mesa dentro de mim
E uma garrafa. E duas mãos. E uma folha de papel.
E um copo
Que transborda
borda borda borda
Amar
para Daiane
amar é não saber dizer o que é amar.
Pois amar é bem querer,
e amar é fogo que arde sem se ver
mas amar também é guerra
é treva fria
criança correndo
caroço de fruta
amar é sujeito.
amar é também objeto.
amar é direto: certeiro.
E indireto: invisível.
amar é verbo sem trânsito, verbo que para o trânsito.
Amar é verbo que devora todos os nomes, todas as frases.
amar é o mar.
amar é armar-se, amarrar-se, amassar-se.
Amar é amar.
amar é palavra perdida, que não se reconhece:
mil vezes dita,
mil vezes mudada,
mil vezes esquecida.
amar é repetir-se, chegar, fluir, roubar, cantar, nevar, trabalhar, investigar.
E amar é amar.
E amar pode ser amar.
E amar deveria ser amar.
Ai! Se amar fosse, pura e simplesmente, amar!
E um dia, num dia sem horas, num dia sem espaço,
amar será amar.
amar é dizer amar.
amar é dizer cinco vezes amar amar amar amar amar.
amar é não dizer nada, e ainda assim amar.
Amar é falar de amor e ser ridículo.
Pois, amar é não saber o que é amar.
amar é não saber dizer o que é amar.
Pois amar é bem querer,
e amar é fogo que arde sem se ver
mas amar também é guerra
é treva fria
criança correndo
caroço de fruta
amar é sujeito.
amar é também objeto.
amar é direto: certeiro.
E indireto: invisível.
amar é verbo sem trânsito, verbo que para o trânsito.
Amar é verbo que devora todos os nomes, todas as frases.
amar é o mar.
amar é armar-se, amarrar-se, amassar-se.
Amar é amar.
amar é palavra perdida, que não se reconhece:
mil vezes dita,
mil vezes mudada,
mil vezes esquecida.
amar é repetir-se, chegar, fluir, roubar, cantar, nevar, trabalhar, investigar.
E amar é amar.
E amar pode ser amar.
E amar deveria ser amar.
Ai! Se amar fosse, pura e simplesmente, amar!
E um dia, num dia sem horas, num dia sem espaço,
amar será amar.
amar é dizer amar.
amar é dizer cinco vezes amar amar amar amar amar.
amar é não dizer nada, e ainda assim amar.
Amar é falar de amor e ser ridículo.
Pois, amar é não saber o que é amar.
2 de maio de 2009
Romance das pernas
I
Às vezes, à janela de um edifício qualquer
deparo-me com uma situação qualquer:
a de se matar.
Janelas abertas são convites
à reflexões impulsivas
filosofias irracionais
e tantos outros oxímoros.
Defenestrar-se ou não. Eis a questão.
Seria engraçado, se não fosse tão comum.
II
Elas tremem.
Não por medo,
nem dor
(cansaço parece, mas não é)
e também não é um ataque de riso.
Elas vibram.
Não é gozo, nem soluço, nem choro, nem febre.
O que é então que se manifesta nelas?
Todo o mundo lá embaixo...
E eu não pulo! E eu não pulo!
Sinto tudo o que poderia ser sentido nelas.
-- Nelas quem? São as idéias?
Não, meu querido, romance errado...
Elas... elas são as pernas.
(Início de 2008)
Às vezes, à janela de um edifício qualquer
deparo-me com uma situação qualquer:
a de se matar.
Janelas abertas são convites
à reflexões impulsivas
filosofias irracionais
e tantos outros oxímoros.
Defenestrar-se ou não. Eis a questão.
Seria engraçado, se não fosse tão comum.
II
Elas tremem.
Não por medo,
nem dor
(cansaço parece, mas não é)
e também não é um ataque de riso.
Elas vibram.
Não é gozo, nem soluço, nem choro, nem febre.
O que é então que se manifesta nelas?
Todo o mundo lá embaixo...
E eu não pulo! E eu não pulo!
Sinto tudo o que poderia ser sentido nelas.
-- Nelas quem? São as idéias?
Não, meu querido, romance errado...
Elas... elas são as pernas.
(Início de 2008)
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