a mancheia
n o e s p a ç o f i n i t o & i n f i n i t o
d e u m s a c o d e f e i j ã o
memória daqueles dias
que sequer deixaram marca
a não ser esta:
cravada por vós
com máximas unhas
sobre a carne
lá onde só os sóis espalmados de tuas mãos batem
& assim conheço
em silêncio, via vós
o pelo de aguerridos animais
prestes a desaparecer
viva voz
viva voz
que nunca ouvi e nunca ouvirei
pela boca suas mãos meu focinho
seus cabelos entre os dentes
seus cabelos entre os dentes
sempre esse eterno retorno de tudo à boca
com sabor de apocalipse
há um saber do corpo
a custo e cuspe aprendido
& então sei por que
bailarinas enlouquecem cedo
e médicos bonachões chegam aos 90
abrindo corpos, costurando tecidos
a fornecer dicas das melhores formas
de sugarmos a si e ao mundo por nossos tantos orifícios
memórias do que não tive
porque estava, me lembro, me aprazi
mas na ocasião não pude nomear
& assim lembro
que ontem estive no Louvre
cuja fila infernal nunca peguei nem pegarei
estar contigo:
furar a fila enquanto se carregam
os celulares máquinas dentes todos
& naquele instante preciso em que todo mundo pisca
levantar o saiote de monalisa e surpreender-lhe as coxas