27 de setembro de 2011

poema de Rubens da Cunha


El perro

I
a casa cercada por cachorros

por dentro
un perro se remorde

remorso ancestre

dos tempos em que
as quatro patas
sabiam a terra

sabiam os pelos da barriga,
do sexo, das costas.

II
a casa cerrada para os cachorros

à porta,
olham para o bípede
ladram ao traidor

el perro se ressente
senta-se no sofá
e escreve um poema elevado

homem que é

24 de setembro de 2011

eu nao
fosso

pazer nada, honey
ou sera que eu
tenho esse foder?

carlito azevedo, via facebook dele.

* Um dia ainda gostaria de refletir um pouco sobre essa espécie muito única de idiotia que nos toma diante de uma prateleira de sebo e que é capaz de nos fazer dispensar certos livros incríveis, a preço ótimo, e cuja falta só começa a nos doer quando chegamos em casa. Muita noite de insônia já passei torcendo para que o dia seguinte chegasse logo, pra o trânsito estar bom, para a loja já estar aberta, para ninguém ter reparado naquele livro ali. Quase sempre o livro não se encontrava mais por lá. Um pouco dessa idiotia, suponho, vem do fato de uma boa estante de sebo transmitir contínua e subliminarmente para o seu cérebro a informação de que nada é impossível, nada se perde

18 de setembro de 2011

Limericando

Começo a deter-me no estudo dos limericks, um dos gêneros poéticos que pretendo usar no meu projeto de estágio ano que vem. é um gênero de poesia humorística típico da cultura inglesa. poemas de cinco versos, com um esquema de rimas fixo (A/A/B/B/A), cujo conteúdo era geralmente obsceno ou satiresco, e que é uma expressão do nonsense, algo que adoro.

para dar uma aquecida, um limerique da tatiana belinky, que é a autora que mais cultiva esse gênero por aqui. É preciso observar que aqui no Brasil - e noutros países também - o limerick tornou-se, quase que totalmente, um gênero para crianças, sendo que sua origem está na 'cultura adulta' inglesa, como velhas anedotas obscenas.

ei-lo:

A vaca que botou um ovo
Deu grande alegria ao povo
Mas certo petiz
Torceu o nariz
Dizendo - Isto não é novo!

(do livro "Um caldeirão de poemas", organizado por tatiana belinky. Ed. Companhia das Letrinhas)

Como é um gênero pelo qual nutro grande simpatia, espero trazer bastantes limeriques nos próximos posts.
se alguém tiver alguma referência sobre o tema limerique, ou nonsense, será muito bem-vinda.
tenho algumas questões centrais a discutir, mas, por ora, apenas pergunto:
vocês gostam do que é nonsense?

17 de setembro de 2011

Ansiedade Lanches

ela não espera.
quem insiste em abrir a noite
na página 19,5?
não espera: fazes da fila tua diversão
uma motocicleta disparada contra as costas, um cheiro de óleo,
o hangar do futuro, onde se guardam verdes frutas, foi incendiado.

quem foi?
quem encheu o copo da noite,
se ainda não passamos da porta da sala?

cresce na rua vazia um bar que embota os olhos,
cinema particular que se inaugura três vezes por dia, como um cigarro,
velha anedota
difícil de se recordar

é o dna da obsessão: horas e horas
de inter
mináveis creditos
um gesto de peixe atirado à lama
ou
um constante canto
para ninar adultos
em sua faminta
espera

11 de setembro de 2011

retiro o que disse
e então duas dores ali aparecem
insetos nus, um par de fetos na lama
a palavra, uma pedra

pois coma:
as mágoas
fazem bem aos olhos
caída e fria na tarde rarefeita
a xícara exibe seu fosso nu,

falta-lhe a forma suspensa,
o não ser tambor, vidro, desespero
ser um objeto vivo, como
são essas paredes

hermético só o breve instante
por isso abra a porta
esqueça o café
e olha teu gozo:
isso que agora escapa é
tudo o que temos

,

8 de setembro de 2011

OK, OK. Chega de postar textos dosoutros aqui, né? Cabá com essa palhaçada.

achei por acaso na net:

O BIBLIÓFILO

Ó ambições!... Como eu quisera ser
Um pobre bibliófilo parado
Sobre o eterno fólio desdobrado
E sem mais na consciência de viver.


Podia a primavera enverdecer
E eu sempre sobre o livro recurvado
Sorriria a um arcaico pecado
A uma medieval moça e qualquer.


A vida não perdia nem ganhava
Nada por mim, nenhum gesto meu dava
Um gesto mais ao seu profundo
E eu lia, a testa contra a luz acesa.
Sem nada querer ser como a beleza
E sem nada ter sido como o mundo

Álvaro de Campos (f. pessoa)

7 de setembro de 2011

esta alma, que sedenta em si não coube,

bocage

4 de setembro de 2011

"COM A MÃO CHEIA DE HORAS, assim tu me
[vieste - e eu disse:
o teu cabelo não é castanho.
Fácil o puseste na balança da dor: era bem
[mais pesado que eu...
Eles chegam de navio e o carregam, eles põem
[o teu cabelo à venda nos mercados
[do prazer -
Tu me sorris bem lá no fundo, e eu choro para
[ti da concha leve da balança.
Choro: o teu cabelo não é castanho, eles
[oferendam essa água do mar, e tu lhes
[dás os cachos dos cabelos...
Murmuras: já preenchem o mundo comigo e,
[para ti, eu sou apenas uma
[passagem no peito:
Dizes: assume a folhagem dos anos - já é
[tempo de te aproximares e me beijares!
A folhagem dos anos é castanha, mas o teu
[cabelo não."

Paul Celan
Tradução: Flávio R. Kothe