Se eu sei cantar o amor
se sei o nome de cada músculo da face do meu amor e o melhor modo de acaricia-los
mas recebo com desconfiança suas conquistas
com medo de vê-lo voar para longe
de minhas mãos covardes,
... Então... não há liberdade.
Se eu esquecer o fato elementar
De que vivo provisoriamente
Sobre terra indígena
E que o sonho da casa própria para meu filho
É um sonho branco e desmatado
Então... então, não há liberdade
Se eu largar tudo,
Jogar trabalho e família pro alto
viajar loucamente pelas estradas
mas nunca deixar de avisar
meus seguidores da ousadia
das minhas dores de algoritmo
Então, não há liberdade.
Se e quando eu chegar aos 84 anos...
Não estiver com o desejo de
aprender uma nova língua
de aprender um novo trampo
de dar bananas ao capital
de novamente me apaixonar por um estranho
Entao, então não há liberdade.
Se eu criar um parque lindo e amplo
Para as pessoas da cidade
Mas não garantir comida barata
e transporte público de qualidade
para quem mora nas margens
poder viver a cidade
Então que se exploda esse parque de merda
Se sempre saem versos loucos e livres de minha lavra
mas nunca uso o poder da palavra
para pedir Liberdade aos irmãos
trancafiados sob um sistema injusto
Então... então sou um grande covarde.
Se eu nunca de fato me engajar na luta
Se eu falhar em convencer cada companheiro
que se acha pouco criativo
que se acha sem graça
Que se acha azarado ou perdido
que cada um a seu modo modo fortalece a luta coletiva, que precisamos da criação e beleza de cada um, de cada um.
Então, poderei vencer batalhas, poderei obter algum destaque
Mas ao fim não haverá liberdade.
Se tarde da noite eu concluo tudo isso
E delicadamente me abstenho de ligar para o meu amor
E lhe contar como cresci e amadureci longe dele,
E contar como sobrevivi ao enterro dos meus erros... ah...
Se eu respeitar a distância e o silêncio
o tempo e o vento
Se eu amar esse alguem a ponto de amar o vento que o leva leva leva leva leva leva
para bem alto e aprender a me amar e amar
o velho amor em novos rostos e nomes
Aí... talvez.. para esse velho amor, seja muito tarde.
Mas dos sonhos de cinzas e chamas que lembrarei essa noite
certamente emergirá o pássaro azul da LIBERDADE.
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