15 de novembro de 2022

Se eu sei cantar o amor

se sei o nome de cada músculo da face do meu amor e o melhor modo de acaricia-los

mas recebo com desconfiança suas conquistas

com medo de vê-lo voar para longe

de minhas mãos covardes,

... Então...  não há liberdade.


Se eu esquecer o fato elementar

De que vivo provisoriamente

Sobre terra indígena

E que o sonho da casa própria para meu filho

É um sonho branco e desmatado

Então... então, não há liberdade


Se eu largar tudo,

Jogar trabalho e família pro alto

viajar loucamente pelas estradas

mas nunca deixar de avisar

meus seguidores da ousadia

das minhas dores de algoritmo

Então, não há liberdade.


Se e quando eu chegar aos 84 anos...

Não estiver com o desejo de 

aprender uma nova língua

de aprender um novo trampo

de dar bananas ao capital

de novamente me apaixonar por um estranho

Entao, então não há liberdade.


Se eu criar um parque lindo e amplo

Para as pessoas da cidade

Mas não garantir comida barata

e transporte público de qualidade

para quem mora nas margens

poder viver a cidade

Então que se exploda esse parque de merda 


Se sempre saem versos loucos e livres de minha lavra

mas nunca uso o poder da palavra

para pedir Liberdade aos irmãos

trancafiados sob um sistema injusto

Então... então sou um grande covarde.


Se eu nunca de fato me engajar na luta

Se eu falhar em convencer cada companheiro

que se acha pouco criativo

que se acha sem graça

Que se acha azarado ou perdido

que cada um a seu modo modo fortalece a luta coletiva, que precisamos da criação e beleza de cada um, de cada um.

Então, poderei vencer batalhas, poderei obter algum destaque

Mas ao fim não haverá liberdade.


Se tarde da noite eu concluo tudo isso

E delicadamente me abstenho de ligar para o meu amor

E lhe contar como cresci e amadureci longe dele,

E contar como sobrevivi ao enterro dos meus erros... ah...


Se eu respeitar a distância e o silêncio

o tempo e o vento

Se eu amar esse alguem a ponto de amar o vento que o leva leva leva leva leva leva

para bem alto e aprender a me amar e amar

o velho amor em novos rostos e nomes

Aí... talvez.. para esse velho amor, seja muito tarde.

Mas dos sonhos de cinzas e chamas que lembrarei essa noite

certamente emergirá o pássaro azul da LIBERDADE.


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