I
viagem ao centro do quarto:
acabo de comprar mais uma passagem secreta
para atravessar a nada
esse vestíbulo
vocábulo perdido,
este quarto será eternamente do filho
ainda que filho não seja mais,
para sempre da palavra filho
para sempre gesto vago nas festas, estátua nos retratos
filho agora é homem feito
pedra
no meio do quarto,
II
viagem ao núcleo
da família:
furioso o penitente escava
es (cava) lo
atrás da porta trancada
a sete chaves, dentro de outros sete molhos
a tremelicar sob a lâmpada,
como se raios escuros de um sol inverso
penitenciária do desejo,
vou te contar como eram aqueles tempos em quadrilha
eu era jovem
e queria
contar às ondas onde se escondem os portos
III
do meu vô guardei arte de rimares
"o que passou passou/azar foi seu"
meu avô deitado
sob as cobertas dizia: estou fazendo malabares
só vivia deitado meu avô
faquír dos ossos de minha vózinha
um dia ele sumiu
foi viajar
disse meu pai
azar o dele,
me ocorreu
IV
tá comigo tá com ateus, taxei o bordão
a bordoar a cara gorda de minha tia rezadeira
anjo da guarda, meu bom amiguinho
guia esse minino
quantos cavalos no sonho
faltam-me dedos
para escavar
7 de junho de 2011
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2 comentários:
III = lindo.
Hoje reli essa postagem mais uma vez. E gostei mais ainda.
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