7 de abril de 2019

rascunho acaze nº boom

eu sou poeta
encaro sem enfado
a página em branco
e digo: hoje não tenho nada a dizer

amo o silêncio
e aceito a falta de imaginação
como parte do fado.

escolha a palavra com cuidado
com peso redobrado
uma por mim
outro por cada polícia
que não a utiliza
antes de no pobre atirar

eu sou poeta
leio os gregos do jeito que posso
com todas as crises e limites
e toda minha ignorância
imagino os africanos
os poemas somente cantados
para sempre presos
na borra do café

sou muito amigo daqueles que
por aqui nunca serão traduzidos
dos que pensam em versos de pé no ônibus
e esquecem ao primeiro beliscão do patrão

acredito sobretudo nos que se movem por paixão;
antes de qualquer ofício, nome ou diploma
o afinco e amor pela forma
do bolo, dos pães, dos poemas, dos raps,
das vendas, plantações e matemáticos sistemas
sou amigo do Michelangelo dos portões eletrônicos
e amo a obra completa do X-salada
(aquele ali ao lado da danceteria)

o bardo vaidoso talvez dissesse,
"eu trabalho com a linguagem,
e como poucos outros
posso conter o mundo em mim"

o bardo vaidoso é o fura greve da arte;
alguém precisa contar a ele
que foda mesmo só arquimedes
e sua alavanca
o resto é literatura...

eu sou poeta
acaze é poeta
jesus cristo era poeta
e amava o silêncio
      - não mais que o vinho o pão os peixes & maria madalena
mas amava

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