9 de fevereiro de 2009

Ausência e presença.

Qual o valor da presença? E o da ausência?
Explico.
Segunda-feira. Na rua temos o familiar barulho produzido por um carro-criança-apito-sirene-grito-espirro-relincho. Eu estou num prédio. Edifício. Centro Comercial. Que seja. O que importa é que estou num elevador de um prédio. Subindo ou descendo? Sei lá! Repito: o que importa é que estou fechado num elevador, protegido da adorável confusão do mundo. Mas não estou sozinho: ao meu lado há uma senhorinha. O elevador às vezes me incomoda. Ele é como a rua, lá fora: pessoas e pessoas que você não conhece, com quem não fala. Mas no elevador a convivência é forçada, por poucos segundos, mas é forçada. Viagens de elevador são rápidas, impossível descobrir alguma característica psicológica da pessoa que está ao seu lado, durante o percurso. O que podemos ver é se a moça é gostosa, ou se o senhor se veste mal, ou se a criança tem o nariz escorrendo. Mas e essa senhora ao meu lado? Como saber quem ela é realmente? Talvez essa curiosidade pareça estranha, eu mesmo não a possuía até aquele dia. Eu aperto o botão de um certo andar. A senhorinha outro. O elevador se movimenta, mas o silêncio que nos envolve parecia estar inerte: não há um único som. Nessa angústia silenciosa, sinto falta dos velhos clichês de elevador:

1- Poderia ter uma mulher super-atraente aqui.
2- O elevador poderia estar lotado, com o povo se apertando.
3- Poderia estar tocando aquelas musiquinhas de elevador (muito tranquilas, e talvez por isso, muito irritantes).
4- Poderíamos trocar comentários metereológicos ("está calor, não? Acho que vai chover...")
5- Alguém poderia soltar um peido. (credo! isso não!)

Não há clichês. O que há é uma senhorinha muito austera, silenciosa, com uma bolsa colorida no ombro esquerdo. O elevador para: um alívio sem razão cai sobre mim. A velhinha vai saindo do elevador, mas antes da porta fechar, me diz:

---Tchau.

E vai. A porta se fecha e eu sigo em minha viagem.
Eu sei o que você está pensando: e daí que uma velha te deu um tchauzinho? Bem, eu fiquei pensando... quando você se despede de alguém, está automaticamente reconhecendo a presença da mesma. E o que é uma presença? Um corpo ao seu lado é sempre uma presença? Talvez, para a velhinha, sim. Ou há algumas características que fazem com que você note a pessoa desconhecida ao seu lado? Penso que quando você se despede de alguém, está fazendo ela existir pra você, mesmo que seja um desconhecido. Onde eu quero chegar? Sei lá, só sei que há tantas e tantas pessoas que cruzam por mim nos elevadores da vida, e que não falam nada. É como se eu não estivesse ali. Não acho que isso é falta de educação. É hábito. Eu mesmo não me despedia das pessoas, até aquele dia em que viajei com a senhorinha da bolsa colorida. Até aquele dia em que eu parei pra pensar no quanto somos distantes e próximos ao mesmo tempo. Problemas, histórias tristes, causos engraçados: Histórias que se encontram a toda hora, que se cruzam, mas que ninguém vê, por que somos silenciosos, temos pressa e a vida é muito curta para engatilhar conversas com desconhecidos.

--- Tchau pra você também.

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom