31 de outubro de 2019

preciso ser breve, essa página aqui foi tudo que consegui. o meio de um livro de poemas não é o melhor jeito de isso chegar a você mas é só o que pude fazer. agora que já não podemos nos encontrar nos antigos espaços
& falamos aqui desse pós-mundo

apesar do teu nome, da sua etnia, do seu local de origem, apesar de sua conta bancária e arcada dentária e programas de tv preferidos e práticas íntimas e posições ideológicas e formas de retirar o cheiro que o corpo suado exala sobretudo em quentes sábados de esperas infundadas
                                    gosto de ti
há os crimes e toda sorte de deslize moral.
tanto tanto que gosto de ti
há a padronização programada de tudo
do botão da roupa ao desejo de fuga
acima e abaixo disso gosto muito de ti
há a linguagem e tudo que ela não pode abarcar e que mesmo assim existe
a despeito das questões biológicas
do vírus que, sem célula, consegue rir em nós
pelos teus ossos me sinto atravessado
respiro mal à noite
faleço às vezes pra ser carregado por ti por muitos meses depois quando acordo não agradeço


*IMPORTANTE*da próxima vez voltarei no verso do rótulo do requeijão que você sempre compra desculpe o trabalho foi o único plano que consegui pagar na agência existisse amor diria que a amo muito

2 comentários:

lua disse...

por exemplo, esse poema aí. como pode ter sido escrito antes dessa quarentena?

Eduardo Silveira disse...

também me perguntei isso