17 de março de 2023

Felice II

volto do teu sonho 

ouvindo som alto

em vez de tomar a avenida dos passos

entro na chuva e me perco

nas curvas da estrada do salto

sabia que me perdia

pois a voz do rádio

aos poucos sumia

que há por aí, em tuas antenas?

o chiado do rádio 

o chilreio dos pássaros

o peito lleno de penas

um cheiro do passado

em retrogosto renovado 

com os pés molhados

retiro sapatos que não

consigo mais vestir

e ainda me deixam bonito

no espelho encaro 

essa nova versão

de mim sem paixão

e por respeito estendo

a mão para minha imagem dissonante

e é então que

errante por horas de folha e breu

uma árvore caída me diz:

é preciso voltar

se estirar na grama a pensar

que bicho me mordeu

que bicho sou eu

que há por aqui, em minhas antenas?

o chiado distante aos poucos

se torna uma estranha cantiga

que há muito não ouvia:

familiar e fugidia

me atira em outro dia

e aos poucos me guia 

pra fora da chuva.

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