Feito fumaça num quarto fechado
Você tomou conta dos quatro cantos
Acende um cigarro, queima a brasa
Eu sou o quarto, tu a fumaça (cantado)
[tosse e afasta a fumaça com os braços
como se espanasse uma nuvem de fumaça pra fora do quarto]
De novo sinto o cheiro de amor no ar:
cebola & alho, o par perfeito, bem picados,
numa panela a refogar.
Batata Laranja, Abóbora Cabotiá
Batata Rosa, Gengibre, Alface
As frutas e legumes compõem
seu prato, decoram sua casa;
há um aroma vegetal por seu corpo,
seu sexo, sua face.
Cheiro de alho nas mãos dela
uma nova forma de se preparar berinjela
ela vai e vem
de um lado a outro da cozinha,
à procura de uma certa faca,
uma seda, um abridor, uma tigela.
Chá de Malva, Hortelã
Azedinha, Ora pro Nobis, Salsão
Ele conhece as pancs,
e está sempre a aprender uma nova receita
macarronada de palmito,
pasta de amendoim caseira
pesto vegano de manjericão
ele macera bem os ingredientes
pra logo mais nos macetarmos entre a gente
nus pelo chão
Não bastasse todas as coisas
em que se esmera
sabe ainda fazer
delícias com nabo
legumes com quem
não tinha me amigado
conversam comigo
em seu refogado
lugares de sabor
em que nunca tinha estado:
saio dali sem nunca mais vê-lo
mas levo comigo o seu tempero
As cenouras de molho
pra durarem mais
beck bolado com alecrim
pra ficar rapidim em paz
os grãos no remolho
pra remoção de fitatos
a fumaça subindo da cozinha
em direção ao quarto...
Outra vez sinto o cheiro de amor no ar:
Bethania e Itamar, o par perfeito,
servidos sobre a cama e sobre a mesa
A louça lavada, a roupa amassada
chocolate 80% cacau ou eu, escolha a sobremesa
seus ombros largos me envolvem
suas coxas me prendem
e chapo no cheiro de flor que seu corpo tem.
ei! te amar ainda
num mundo repleto
de gente linda
e carente de toque e afeto
me causa muito embaraço
por isso escrevo, traço e retraço
teu rosto em mil poemas
preferiria tretas e esquemas
suco de umbu, sorvete de pitaya
preferiria tardes de chapo
sem olhar para o relógio
eu entrego o meu corpo, é lógico!
para novos cultos, em novos altares
eu juro que mergulho fundo pelos ares
e o amor agora, o amor hoje
corre indiferente a esse Amor, Ainda
que por dentro me arde
e como se não bastasse
ainda me enche de embaraço
eu tô tentando te manter no peito
mas a fumaça ocupa muito espaço
Sinto de novo o cheiro de amor no ar.
Na sua cozinha há sempre um aroma novo
de plantas a emergir das panelas
ela vai e vem
de um lado a outro
da minha vida
e os meus poemas...
têm o cheiro dela.
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