23 de julho de 2010

sobre perder livros

eu acho uma coisa desagradável, sabe? e olha que eu perco bastante.
digo assim, meio duvidando, pois mais de uma vez, em resposta a um choro meu, amigos-leitores recomendaram-me não ficar chateado, e tentar olhar as coisas de outra forma. afinal, se você perdeu um livro, é certo que alguém achará. e assim, o livro não se perde, muito pelo contrário, vai se multiplicando por aí. minha razão está aqui do meu lado e mandou que eu escrevesse que isso é muito bonito e faz sentido. porém, há uma coisinha aqui em mim (não sei onde fica, uns dizem coração, mas acho que é por preguiça) que é bem cética e egoísta: diz a tal parte que esse papo aí de leituras flutuantes, de passe-adiante-um-livro, é muito bonito, dá uma baita campanha, mas longe daqui, pois essa parte tem uma raiva danada de perder livros. enquanto razão e não-razão (nome temporário para a dita parte do meu pensamento) discutem aqui, vou lembrar uns causos envolvendo perdas de livros. pois dia desses perdi um livro. Aldabra: a tartaruga que amava shakespeare, um romance. era presente da daia, e fazia poucos dias que eu havia recebido como presente no dia dos namorados. só perdi o livro, pois a namorada, conhecendo-me, perdoou tal falha. vai que daí fui atrás de tudo que é lugar atrás do livro. várias autarquias (frequento-as muito, por trabalho): e lá fui em cartórios, prefeitórios, capitólios, bancórios e sindicatórios. e num cartório X, perguntei à atendente. Por acaso não havia um livro esquecido por ali? Não, moça, não é livro-registro, com balancetes e anotações escriturárias. livros normais mesmo. desses pra gente pensar um pouquinho. e ela disse, sim, e eu tava quase alçando um gozo livresco, quando ela - olhando por debaixo do balcão - disse que não era esse tal de abracadalbra. Aí eu pensei puta que. a puta tava quase parindo, mas antes disso ela mostrou-me o livro que lá estava e era.... poemas completos do fernando pessoa! e daí que era? e daí que eu tinha perdido esse livro fazia 1 ano! Nem esperava encontrá-lo mais. Depois de um papinho burocrático, normal para o lugar, consegui reaver o fernandinho. e eu podia contar a história do dia em perdi "Solte os cachorros", da adélia prado. E de como encontrei ele, tempos depois, na agência dos correios. Poderia contar de como sumiu o meu "veronica decide morrer", mas esse é do paulo coelho, e como a maioria dos meus amigos detesta-o, não vou investigar muito a morte da veronica. ah, eu acho que não falei, mas a explicação pra perder tanto livro é que além de levar livro pratudoquélado, eu sou muito, mas muito esquecido. se fosse religioso, deveria orar todo dia pra são longuinho por ter conseguido reaver o "tempo consequente", livro de poemas de um poeta piauiense (difícil de achar que olha!) que peguei da biblioteca e esqueci no balcão do banco, por um bom tempo, sem que alguém tivesse levado. A tal parte do meu pensamento, a não-apresentada parte, voltou aqui pra pitaquear: segundo ela, só não levaram porque era poesia, e vinda lá de um poeta desconhecido. se fosse 'tamanho 44 não é gorda' ou 'crepúsculo' certamente alguém teria levado. aí é outra história. e vou parar de ficar lembrando desses achados e perdidos, que já falei muito e essa crônica pouco disse. a razão, fundada no bom senso, está aqui relembrando outro caso: Crime e Castigo, do Dostô. Já falei sobre isso noutro blog, lembro bem. Ouviu, razão? Não vou me repetir. Essa crônica tem que acabar.

RAZÃO: pode acabar, é até recomendado, rapaz. mas antes deixe claro a quem resistiu e chegou até a presente linha do texto, que você - passada a raiva -ficou contente ao pensar no possível destino do romance russo que deixou naquele ônibus centro-
univille.

NÃO-RAZÃO: Seja sincero. Você ficou é com uma puta raiva e praguejou contra o maldito que achou o livro tão querido. E digo mais! Você ficou imaginando os destinos do volumoso russinho. Claro, na certa numa hora dessas está servindo de apoio pra mesa da cozinha da dona maria, que antes mancava, e agora tá que uma beleza, reparou vizinha? Ou então.. lembra aquela porta que batia na casa da seu onofre? sim, aquela da sala de estar, que batia fazendo um barulhão e chacoalhava o retrato de sua santa mãezinha. pois é, dostoiévski e sua escrita firme agora seguram a porta de jacarandá. fala sério, não era nisso que você pensava?

EDUARDO: recuso-me a manifestar-se mais em tão ignóbil crônica, que tá parecendo um monológo narcisista, banhado por reflexões "metatísicas"

ABER-RAZÃO (novo nome que acabei de dar para ela): bicha! não digo mais nada.

Razão: isso aí, meu rapaz, dê-me ouvidos. é preciso ser paciente com as faltas, e tomar mais cuidado com as suas coisas. coloque uma moral ao fim desse texto, uma frase de efeito ou um grande FIM mesmo, que ninguém vai reparar nas falhas. Ou então, pergunte a quem lê, se já perdeu um livro. que diga qual foi e se ficou com raiva. ou se foi racional e aceitou o ocorrido.

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pois então, diga-me, que estou curioso FIM, você por acaso já perdeu um FIM?
FIM FIM FIM e que livro era esse? sentiu FIM ou raiva? FIMFIMFIM.


PS desnecessário(como é todo PS):

E a aldabra, a tal tartaruga que fugiu com o shakespeare? Achastes?
Devem estar se amando nas mãos de um filho da, digo, de um bom leitor que dele cuidará. tenho certeza.

11 comentários:

Daiane da Silva disse...

Tua Aldabra tá voando nas mãos de vários leitores lá na biblio pública. hehe :x

Eduardo Silveira disse...

Ah, se for assim..

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tudo bem.

Eduardo Silveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ítalo puccini disse...

aaaah, eu lembro de uma ou outra postagem sobre a arte de perder livros!!! hahaha. ficcionalizasse isso. achei ótimo! seu maluco! haha.

abração!

Aninha Kita disse...

Genial, genial!
Nossa, não me lembro de ter perdido nenhum livro. E nem sou tão boa de memória, guarda-chuvas e canetas minhas há milhares no "mundo dos objetos desaparecidos". Mas, livro eu tenho um cuidado todo especial, acho que nunca perdi não, sem dúvida assinaria embaixo desse seu pensamento "cético e egoísta". rs

Por outro lado meu livro favorito só conheci graças ao descuido de algum leitor da biblioteca pública, minha tia achou e anos depois me entregou, eis que me encantou. "Só o amor é infinito" de Lauro Trevisan.

A "companhia" de ônibus não deve ter achados e perdidos? Seu livro não tinha nome? O melhor mesmo é entender que teve fim, mesmo que precoce e dolorido.

Beijos!
Ana

P.S.: Eu não julgo "ps" inútil. haha Mas, só queria dizer que sou encantada por "Verônica decide morrer".

Eduardo Silveira disse...

não gosto da ideia de escrever o nome nos livros. daia sugeriu um carimbo. hummmm. quem sabe. :)

MCris disse...

sei por experiência própria que tanto o livro da silvana gandolfi quanto o do dostoievski podem mesmo ser objetos de amor intenso; podem tb provocar mudanças na vida de uma pessoa. tomara que aconteça com a pessoa de sorte que encontrou cada um deles.

Sobre o dilema do nome no livro, já pensou num ex-libris só teu?

.

Eduardo Silveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Silveira disse...

é uma boa ideia. :)

Moni Saraiva disse...

Entendo-te.

Perder, assim, de bobeira, acho que não. Mas de outra bobeira - emprestar - váaarios.

O pior é só lembrar que emprestei, e de certo, a um irresponsável e desonesto, que nunca devolveu... Um desses, foi uma edição especial do Cem Anos de Solidão, com capa dura, e dedicado por um amigo extremamente querido... Não faço ideia de onde ande...

O pior? Eu ainda empresto. Acabei de passar quase dois meses cobrando uma criatura pelo meu "De amor e de sombra", da Allende, tb com capa dura, presente de sebo, dedicado por uma amiga também...Mas ufff...esse eu recuperei...

Minha mãe diz: quem empresta, não presta... Não me importo. Só quero de volta...rs

Beijins!

Eduardo Silveira disse...

isso é outra coisa horrível, Moni. tem que confiar mt para emprestar!