15 de janeiro de 2012

trecho de uma carta de Flaubert

endereçada ao amigo Alfred Le Poittevin. Carta de Maio de 1945, quando Flaubert contava 23 anos.

"Procuro passar o tempo da maneira menos tediosa, e achei como. Faça como eu: rompa com o exterior, viva como um urso - um urso branco - deixe que tudo se dane, tudo e você junto, mas não sua inteligência. Existe agora um intervalo tão nítido entre o que sou e o resto do mundo, que me espanto às vezes de ouvir dizer as coisas mais naturais e mais simples. A palavra mais banal me deixa às vezes em singular admiração. Há gestos, sons de vozes dos quais não me recupero, e tolices que me dão vertigens. Você já escutou alguma vez atentamente as pessoas falando numa língua estrangeira que você não entendia? Comigo é assim. à força de querer compreender tudo, tudo me faz sonhar. Parece-me no entanto que essa estupefação não é estupidez. O burguês, por exemplo, é para mim qualquer coisa de infinito. Você não pode imaginar o que o apavorante desastre de Monville me causou. Para que uma coisa seja interessante, basta olhá-la durante muito tempo."


tradução de Duda Machado.
"Cartas Exemplares", Editora Imago.


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Morri de paixão.

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