28 de janeiro de 2014

                                                                                                                                        para a ale

I

alguns turistas tolos da vida dizem
ih
na bahia
o ano
só começa
depois do Carnaval.

mas de que bahia se fala
quando se fala da bahia?
no pelô
o ano não começa
num termina
tem seu próprio tempo
como ocorre
nos lugares mto mágicos
(ou mto devastados)

II

pelô
amor
de
deus
lourinho

ih,
na bahia?

ai de ti,
haiti.

III

capoeira violenta
no meio da tarde
sem mto motivo
sem qualquer berimbau

IV

se tivesse
partido numa barca
ou mesmo se finado em tempestade
inda dava uma canção bonita
mas ele se foi numa linha
salvador-são paulo
numa tarde quente
sem nenhum adeus
e mais ladeiras
que o habitual

V

Dois cotovelos no meio do peito
os seios da prostituta
são qualquer coisa
sem surpresa e erotismo
vara de condão há mto
sem mágica
sóis de toda hora
guizos
boias
brinquedos

VI

é assim
meto onde e quando
todos ri
ninguém se mete

VII

viero
tombaram as ladeiras tudo
falaram em patrimônio
maravilha
riqueza
e aí me despejaro?
num entendo

VIII

mordida no ventre
caco de vidro no peito
raspa de bala na bunda
pelo corpo eu trago marcas
que não guiam a tesouro algum.
farol sem história
e razão de ser
a cicatriz é um bicho estranho
que às vezes acaricio
por mais não ter o que fazer.
não devia estar ali
não tem serventia
mas ali está e
até o fim vai estar.
sou cicatriz do mundo?
se sou, quem lhe feriu?

IX

é sempre tempo de
carnavais fora de hora
de chorar pitangas
e depois comê-las
de dores e dorivais

X

- Axé, meu rei.
- Axé mais.

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