I
tirar o dia de folga e dizer ao corpo:
só anote os recados urgentes.
para que ele não esqueça
deixar na geladeira o lembrete:
estou fora não sendo
cama, comida ou vento.
hibernar por dias e deixar
o tempo fazer e lidar com toda a porra
que constitui seu trabalho:
responder a todas
as ligações
da infância aos amores
dos e-mails aos precipícios
não mais voltar até esquecer como se volta
e, se, por acaso...
não se erguer até ouvir,
vindo do corpo, de pé, ao telefone
apenas uivos
grunhidos
rumorejo
II
cansa-se o cansaço de falar de si
(parece que anoitece
mais rápido se ele
não se ensimesmar)
assusta-se o cansaço se alguém oferece ajuda
(parece que respira
melhor se não divide a sala
e o trabalho com outrem)
confunde-se o cansaço
ao resgatar seu antigo estado
(parece que de silêncios
impassíveis e covardes
se faz seu passado)
cansa-se o cansaço
de fazer sentido
(resiste e insiste
no mesmo fim
até que, num instante,
grita muito alto
e some)
III
quando vc chegava em casa, cansada, à noite, contávamos, um a um, todos os mortos do dia
pedíamos uma pizza a cada dia mais longe e por isso mais fria
ora em recife ora guiana ou hungria
ou então,
preparávamos nós mesmos a comida
contando e polindo cada grão antes de por na panela
no banho, juntos, caía ao chão,
por vezes, o sabonete e - rindo -
você partia a fim de apanhá-lo
voltando com ele na manhã seguinte
e aí cobertas,
longas estradas de cobertas nas quais sempre falta uma milha para cobrir o pé
e aí um café feito às pressas
a invadir a cozinha e
em meio à enxurrada
um último lance de mãos a dizer
tenha um bom dia
tirar o dia de folga e dizer ao corpo:
só anote os recados urgentes.
para que ele não esqueça
deixar na geladeira o lembrete:
estou fora não sendo
cama, comida ou vento.
hibernar por dias e deixar
o tempo fazer e lidar com toda a porra
que constitui seu trabalho:
responder a todas
as ligações
da infância aos amores
dos e-mails aos precipícios
não mais voltar até esquecer como se volta
e, se, por acaso...
não se erguer até ouvir,
vindo do corpo, de pé, ao telefone
apenas uivos
grunhidos
rumorejo
II
cansa-se o cansaço de falar de si
(parece que anoitece
mais rápido se ele
não se ensimesmar)
assusta-se o cansaço se alguém oferece ajuda
(parece que respira
melhor se não divide a sala
e o trabalho com outrem)
confunde-se o cansaço
ao resgatar seu antigo estado
(parece que de silêncios
impassíveis e covardes
se faz seu passado)
cansa-se o cansaço
de fazer sentido
(resiste e insiste
no mesmo fim
até que, num instante,
grita muito alto
e some)
III
quando vc chegava em casa, cansada, à noite, contávamos, um a um, todos os mortos do dia
pedíamos uma pizza a cada dia mais longe e por isso mais fria
ora em recife ora guiana ou hungria
ou então,
preparávamos nós mesmos a comida
contando e polindo cada grão antes de por na panela
no banho, juntos, caía ao chão,
por vezes, o sabonete e - rindo -
você partia a fim de apanhá-lo
voltando com ele na manhã seguinte
e aí cobertas,
longas estradas de cobertas nas quais sempre falta uma milha para cobrir o pé
e aí um café feito às pressas
a invadir a cozinha e
em meio à enxurrada
um último lance de mãos a dizer
tenha um bom dia
2 comentários:
bom poema
oq aconteceu com o blog daki dali
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