26 de maio de 2018

o amor possível



no instante mesmo em que morre a última das feras,
e em que se revistam meninos à saída da última das festas,
como se juventude pobre crime fosse,
como se caças jovens pobres feras fossem

no instante mesmo em que se violam, mais uma vez,
os direitos dos que amam
e se cortam, dedo por dedo, as mãos e pés rebeldes
de quem insiste em lavrar/dançar

no instante mesmo em que 
doidos doentes drogados
mendigos migrantes marielles
velhos violados violetas 
dormem morrem vazam

dois jovens, um homem e uma mulher,
se amam num beliche  
                                                              - e bem que eles fazem.

não o amor de amantes,
mas o amor possível:
baixinho, em vigília nas torres e trincheiras,
rápido, nos metrôs, nas boleias, nos horários apertados de almoço,
escuro, a portas cortinas fechadas,
as lâmpadas todas apagadas à força
contra os corpos de homens que amam homens
contra os corpos de mulheres que amam mulheres

no instante mesmo em que
caleidoscópica
morre a última das estrelas
e candelária
morre o últimos dos meninos ,
dois homens, duas mulheres
se amam num beliche
                                                              - e bem que eles fazem.

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