21 de agosto de 2009

O último passeio de um tuberculoso, pela cidade, de bonde.

dos salões abertos saem pianos enxotados
a abanar suas caudas
há luzes que brilham do farol lugar-nenhum
há crianças e há babys
há mademoiselles
há mulheres
e há marias-de-papel

das janelas fechadas
dos sorrisos abertos
dos salões
dos comércios

vêm choros, chorinhos
vêm gritos
sussuros
ulular de crianças

há pretos
há brancos
há homens de cara amarela
e mulheres de pele azul

nas ruas
nos tetos
há quem flane
no fora
no dentro
há quem inflame

fogo
chuva
vento e riso
dos palhaços circenses vendedores de jornal
(Extra! Extra! Jesus nasceu! Ide fazer os versos de circunstância!)

dança e coro
oração
modinha
coração bate
no fox-trotar dos cavalões

e
gaita
e chuva
e miado e ganido e gargalhada a balançar:
sacolejo sacolejo

dos anti-aquários salões
vem o refrão do amanhecimento
entoado no sorriso
de alguém ébrio que nada bebeu do licor da vida
e se atirou




* Título do primeiro poema em versos livres de Oswald de Andrade, em 1912. O autor o escreveu e o rasgou. O poema cometido acima, é, pois, uma humilde homenagem.

3 comentários:

ítalo puccini disse...

tais produzindo bem poemas, hein?!

foi bom voltar pra cá.

parabéns.

Unknown disse...

alvaro

Áquila Lopes disse...

Salve