20 de abril de 2009

O rio insone

Anoitece
O rio, cravado na paisagem
está imóvel como se dormisse.
E quem passa por ele diz que dorme.

Amanhece.
E lá está o rio cravado na paisagem como um cacto.
E por ser dia
quente
úmido
(vivo!)
dizem que o rio está morto.

Mas ele está vivo. Vivíssimo.
tão vivo quanto a luz do dia.
tão cravado na paisagem como a luz do sol.

O rio insone não dormiu.
Não tem dormido.
Não dorme.
Passa noites em claro; inerte.
Velando
a urbe ciliar
a urbe maxilar
ocular
tentacular
ocular dorsal glútea
sanguínea
sexual
urbe mental.

Urbe,
criança grande e doente:
difícil crer que ela é a filha; a filha que apodrece no leito,
aos cuidados do rio insone, que a vela.

Sim, é a urbe,
a filha-frágil
a sofrer no leito
no leito morto e vivo
do rio insone.

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