22 de fevereiro de 2012

faça de conta que isso é um telegrama imenso: se faltarem explicações, se palavras forem cortadas, foi para deixar mais barato. telegrama imenso, haicai de três folhas, trevo de cinco dedos e oh meu deus, nunca consigo dar as respostas que você quer, sempre te ofereço esse buquê de saídas, portas que levam a novas perguntas, e assim passam-se as horas e os dias e parece que nunca saímos daquela conversa no telefone, vc me dizendo o quanto-me-gusta-and-how-disgusting-is-it, e eu ali coçando a ponta dos meu dedos, essa arte que vc sempre ignorou, e eu ali dizendo sim, também te gosto, sim, meu nome é amália, e eu agindo como se do outro lado estivesse um atendente de telemarketing qualquer, e talvez seja um pouco disso, talvez do outro lado vc me convencesse, por meio de elogios e anedotas a comprar algo que não queria, e eu não sei meu cpf, aguarde na linha um instante, sim?
e vc aguardou, e guardou isso na testa como um troféu, veja como sou paciente, como se isso garantisse qualquer coisa: amor não é maratona, querido. e vc me pergunta na carta se sei o que é o amor: se soubesse estava longe e rica, vc sabe. não o entendo e não sei como se chama: o que sei do amor é aquilo que ele não é, e isso sempre me bastou
te deixo uma lista:




eu não sei, claro que não sei. como não sei o que me move a te escrever e procurar duas ou três respostas que acalmem essas 18 perguntas (eu contei) que vc manda na sua cartinha. gosto de vc e te quero bem, e é uma pena, eu tenho vontade é de escrever carta maldosa e sarcástica, sempre sonho com brigas homéricas, sonho com gente puxando briga comigo por carta, irmãs e amigas, só para eu poder mandar algo à altura. mas isso quase não acontece: a maioria é gentil, como vc é, um poço de gentileza, um poço seco de gentileza cravado num deserto de gentes. o mundo é gentil. falsos ou sinceros, o mundo borbulha de gente bacana, bonita e gentil. seu pária, não é disso que preciso. 
(acho que com essa última frase eu respondo 4 ou 5 das tuas perguntas).
tua carta toda é um convite a olhar pra trás e ver o "que deu errado",
embora eu não goste desse teu jeito prático de ver os erros:
amor não é carro que vc levanta o capô, mexe no motor e logo encontra
as falhas. [o amor não é tanta coisa, me lembra meu avô que saía 
de madrugada pra jogar cartas e voltava seis da manhã para uma 
chuva de imprecações de minha vó, a dizer vc não é uma formiga,
um cocozinho de barata, vc é menos que areia, seu puto, mas isso
é uma história velha e vc chegou num ponto que não quer mais ouvir
minhas histórias. vc quer saber onde tem erro, vc quer okays
e continências, ok, vamos lá], vamos à sessão espírita, pq nisso acredito: isso de olhar pra trás é ver nossas vidas passadas:
à cada dia nos reinventamos,
somos outros no dia seguinte,
então pare de olhar pra trás e me apontar: aquela não sou  eu.
é fotografia, carcaça alegre de cobra,
um casaco que larguei no banco da praça
porque o calor estava imenso
como este telegrama
Sim, houve alegria
E dias toscos, noites sem sentido e algum sexo,
E discussões mornas e dias em que a luz acabou, e tardes de chuva, piadas sem-graça que seu tio contava nas vezes em que te visitei. Houve milhares de eventos e cada um deles tem um pedaço perdido, e se unidos talvez explicassem porque estamos assim um contra o outro:
teu nome num lado da carta e o meu nome na outra
Mas não dá para montar, o tempo vai roendo, imperturbável, essa porta que um dia escancaramos naquela conversa de telefone. Nossos erros, como o amor, não tem nome, bebê. Faça de conta que a vida é um telegrama imenso, repleto de palavras e ainda assim cheio de lacunas. O que não entender, invente pt saudações

5 comentários:

Anônimo disse...

vou te guardar num potinho

Enzo disse...

"só love, só love
só love, só love
só love, só love,
só love,
só looo ve."

Eduardo Silveira disse...

ninguém me leva a sério nesse blog.

Senhora D disse...

Eu levo.
Até demais, penso.

Eduardo Silveira disse...

;)
;)
;)