2 de fevereiro de 2023

Cachorrada I


em Copacabana Mon Amour (1970), de Rogério Sganzerla, no minuto 01:09:22, o trabalhador, após matar o patrão, desfila pelo morro, enquanto dois cachorros de última hora tomam isso por um convite à farra geral na América.

em Linha de montagem (1983), de Renato Tapajós, no minuto XX:XX, enquanto um grupo de mulheres confraternizam-se à saída da fábrica, um catioro de rua de pelo preto passa por trás do proletariado e acessa a fábrica para implodi-la.

em Nitrato (1974), de Alain Fresnot, por alguns segundos, em meio ao inventário do abandono, surge, na tela, paulo emílio salles gomes, gato ao colo, a falar sobre bichanos e por isso o cinema não acaba a despeito de tantos atentados dos nossos caudilhos.

Na abertura de La teta asustada (2009), de Claudia Llosa, os perritos observam as tradições peruanas dispostas à mesa e torcem para que o Capital lhes deixem alguns nacos.

em Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2018), de Renée Nader Messora e João Salaviza, os cães do povo Krahô, que nunca viraram latas na vida, celebram, entre os vivos, os mortos, cientes de que são parte igual da natureza - a serem chorados e amados também, por que não?

em A carrocinha (1955), de Agostinho Martins Pereira, Mazaroppi vive a fábula reencenada em cada esquina brasileira: o Novo Poder tem uma idade, uma cor e um gênero e odeia perritos de rua tanto quanto odeia pobres. Os próprios cachorros oferecem ao povo a saída (feminina) para nossos problemas américos: a tomada das ruas (femininas), donos que somos de nossas guias (explosões).

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