21 de fevereiro de 2023

Demi II


Mexa comigo porque ando só.
Em amores perros me consumi
e renasci das cinzas desse pó
da zona cinza em que o amor
demi nasce e não se encerra
renasci mais forte, mais seguro,
mais gostoso, melhó...

Mexa comigo porque ando só
forjado em rebeldia e fogo no rabo
me faço demiurgo
e pela noite te procuro
de bar em bar,
de ave em ave,
nos motéis em São José
nas piscinas naturais da Lagoa
onde sinto medo e já não dou mais pé
ali também, pessoa, te procuro
meu corpo arde sobre camas estranhas
os sentidos do amor eu apuro
adivinho de sonhos e de sanhas
desejo extraído de entranhas
me abro em relações sem senhas
a ali me aventuro (e ali te procuro)

contrasenso amar um único fruto
que uma, hora, como tudo!
se corrói, por sua natureza,
muito antes amar a madureza
os frutos e seu processo
nosso amor em contínua negação
da ideia de progresso
sem medo de dizer
RETROCESSO!,
volto, me expurgo,
saio sozinho pela noite
mergulho no escuro
de encontro ao passado
eu e você lado a lado
de olho no futuro que não
cessa de nos acontecer

Mexa comigo por ando só
a cachorrada poliamorosa
não dispensa um xodó
o que se leva dessa vida
é o que se come o que se bebe
o que se fuma e o que se goza
o que se, namora, enfim, e só!
Por isso venha sem dó
com vinho e com massagem
para lamber os cantinhos do corpo
e não deixar crescer ali o pó
para envolver tuas coxas
às minhas axilas e inventar
marinheiros que somos 
um novo tipo de nó 
Mexa comigo, que eu deixo,
consentimento e com sentimento,
que é como se viramos
no vale demissexual
venha que ainda é carnaval
e é um desperdício eu e vc 
nesse samba de uma nota só
mexa comigo, que eu deixo,
mexa comigo porque ando só.

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