2 de fevereiro de 2023

Cachorrada II

em "Betsy", de rubem fonseca,

a voz narrativa oculta o binário

homem-animal em prol de um bios

comum: acordo e me refestelo

(preguiçosamente!) na cama

com medo das feridas que há

para se lamber ao longo do dia.


em "Clau", de liniker,

o jogo é breve - por um instante

todes comemos escondidos

alguma coisa de nossas mães;

passado o pito, volta o cão 

na palavra 'você'; só não voltam

pra perto você, Betsy e outras nuvens

choradas nas caixas de luto e afeto.


que cruzamentos haveria

entre o queer e o animal?

se pergunta gabriel giorgi

parece que em mim também

se apetecem travessias singulares

em tardes de praia limiares

uns olhos que eram negros

um, dois, téo:

agora são mais castanhos

o pelo que era negro e escorrido 

o meu cheiro preferido

um, dois, téo:

aqui se crispa entre as mãos

a palavra você, entãose afasta

guapeca, guaipeva,

sem rastro, sem choro,

sem olhar para trás.

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