acontece há muitos séculos, no fim de cada dia:
eles entram e se instalam
quase sempre no fundo do ônibus
onde cantam, dão cambalhotas
riem e ouvem música alta em seus celulares.
o ônibus é um grande burro amarelo
que aos trancos leva muitos outros burrinhos cansados
e mais as três ou quatro hienas
muito vivas e coloridas.
embora o ônibus leve todos os bichos para a mesma direção
as jovens hienas, rindo, vão no sentido contrário
do sono e tédio dos animais mais velhos
e riem tão alto
e vão com tanta energia para o lado oposto da vida
que é difícil entender como o carro
não se parte ao meio.
partisse o ônibus ao meio
certamente perderia-se
a maior parte dos burros n'água
e as hienas ririam
ririam inda mais alto
a ver no incidente
a primeira aventura da noite.
24 de dezembro de 2013
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Um comentário:
"Fortemente inspirado em Beatles e Life of Pi, Eduardo Silveira compõem este poema em uma tarde ensolarada de dezembro de 2013, enquanto visita o cottage da amiga Eliane Pascolatto Garcia na zona rural de Joinville. Tanto o trajeto de ônibus até o cottage quanto as noites parcamente cinéfilas do bibliófilo influem nesta composição prosaica e um tanto antiquada, mas de relevância para o autor."
Bruna Silva in 'Um non-sense cheio de razão: vida e obra de Eduardo Silveira' (editora Letrasmática, 2068)
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