parimos para perdê-los
os temos para não tê-los
nascidos e não conhecidos
por eles tememos
tão logo os temos
por eles morremos
por eles perdidos pedimos
por eles, por eles.
"O que afinal não tem importância mas assusta os pássaros" - Max Martins
eu que sou tão estabanado
que preciso de mim tantas vezes
para trocar uma lâmpada
eu vou correndo contar pra você
com a troca daquela fechadura
eu que nada sei de pontas e parafusos
te liguei e disse: eu juro!
agora ninguém mais me invade
senhor que sou de meus próprios apuros
como a devolução daquela carta mal endereçada
da Islândia por uma foca desfocada
achei os meus meios de se entender
com os leões-correios
e sem muitos enleios fi-la chegar
ao correto despenhadeiro
Tem dias em que aprendo algo e não lhe conto...
que a coisa
nova aprendida
é justamente a descoberta solitária
dessas jazidas
de vida
Eu tô... eu tô!... eu tô há anos
pra te contar sobre
uma certa joaninha
e adivinha!!!!
ainda me lembro bem do
rosto dela como se fosse amiga minha
(isso vai assim à pressa escrito
porque não ligo e lhe amigo)
de dentro da minha festa
te mando um beijo na testa
e uma palavra sussurrada no fundo do umbigo.
que bom que você veio!
hoje tá mais legal o recreio...
ontem a tarde foi lenta e vazia
e até o lanche que a tia me deu
tava sem gosto e sem recheio!
que bom que você veio!
hoje o filme não fica pelo meio...
ontem me bateu uma preguiça
dormi logo no começo
mas contigo o filme passa ligeiro!
que bom que você veio!
hoje não fico de fora, de escanteio...
ontem, sozinho, fiquei horas na TV
bora pro parque, bora pra praia,
jogar pique-esconde, soltar pipa no barreiro!
cigarro devidamente pisado
as chamas do cu controladas
é hora de fazer pose charmosa
e penetrar por entre cortinas
para ter seu corpo esquadrinhado
pelos que estiverem no palco
não se pode confiar em ventiladores
nem em alheios pudores
venha com pouca roupa agora
que há tempo se mostrar na ágora
na falta de água é melhor se levantar
discretamente - nem pensar tossir!
tossir é sempre pior que, ops!
deixar o fogo no rabo
pegar no tecido barato do forro e
encerrar a peça ali em meio ao ato
como foi a peça, meu amor?
oh, que delícia de encenação!
no palco um teatro de restos
na plateia rostos perdidos sem rastro
o fogo sem lastro de mão
em mão roubado
e o coro, naturalmente, comendo.
A: ontem não sonhei com você
sonhei foi com Canajurê
com praias compostas por outras praias
feito sonhos feitos de outros sonhos mais antigos
no sonho um pescador dizia: essa é a praia do pampo, amigo
Canajurê é outra, logo ali mais um tanto
confundindo a geografia das minhas memórias
já não sei, já não sei bem onde vivemos as histórias
eu e você somos praias distantes,
com suas marés em distintas trajetórias.
eu tentei, eu bem que tentei
e explicar aos outros não sei
por que nosso encontro
acabou em tempestade
o que eu queria e já tantas vezes
te disse era te amar até mais tarde...
por que, por que não conseguimos
semear a liberdade?
B: Você começa a falar e a angústia me invade
o amor que era pra ser leve,
leve feito floco de neve
no fim foi todo lava
que ferve, emerge,
lindo de se ver ao longe
mas que dói, na pele,
de quem se nele se atreve a mergulhar
e me deixa assim,
caminhante sozinho
nas areias de uma praia perdida
a liberdade não foi semeada
porque semear e amar são trabalhos
e o trabalho pra ser livre
não pode beber em certas águas
não pode ser refém da cobrança, do excesso e da mágoa
para o trabalho ser livre ele precisa querer
antes de lucrar, alimentar
antes de render, prover.
A: mas eu alimentei!!! só os deuses sabem
sabe quanta energia eu pus nessa tarefa
nessas 12, 30, 200 tarefas de amar
e eu posso provar, olha aqui,
olha aqui, e olha mais aqui!!
B: eu vi, eu vi, eu bem que te vi
eu te amo, mas não é sobre isso. é sobre não se
render a uma lógica que nos ensinaram
desde sempre: a de querer por cada gesto,
um outro gesto, como se o afeto tivesse roteiro.
roteiro de amar é não saber.
o amor não pode seguir a lógica do dinheiro
o amor não pode ser esse bem durável
de que a gente tem para sempre a posse
o amor não é um pedaço de terra cercado
o amor é toda a terra
ou seu nome é Gaia ou não é amor.
amor... Plantei flor e brotou... a vida está na água, rapaz.
A: Eu juro que entendo,
meu amor por ti é tão grande
que vou aprendendo pelo caminho
enquanto faço as trilhas da sua praia
mas pra mim é tudo muito difícil
esse amor é tão livre às vezes...
sem posse, sem garantia... que parece não ser nada!
B: é que não somos terra para ser posse,
mas posso ser abrigo, posso ser morada.
se a gente cuida, a gente faz uma longa longa longa caminhada
com gosto de pra sempre. o que não podemos é assinar um contrato.
novas regras da física. a contagem do espaço e do tempo precisa ser diferente.
aquele amor que a gente tinha era vidro e se quebrou.
quem sabe um dia ele se recicla
como as ondas reciclam outras ondas
como os sonhos reciclam outros sonhos.
eu amo você, adeus.
Cachorrada sem mancada
sem neurose e sem roubada
se a gente troca as cartas e fitas tudo
não sobra qualquer furada
caminhada combinada
te amar vário e sem mistério
devagarinho eu me emaranho
feito rizoma e micélio
sem pressa eu te ganho
e com afeto e cadência
te tiro do sério
a minha vida por um fio
meu corpo em permanente
estado de cio
safado abano o rabo
desfilando pela calçada
sem me preocupar se você viu
porque aqui é cachorrada
liberdade concedida
habeas corpus pra safada
uivar na madrugada
Porque tudo isso é sobre o tempo
passando e mais nada
passar pelo teu corpo
como o vento, em lufadas
ainda tenho as costas arranhadas
da noite passada
eu fico mais bonito
com tua música à minha volta
o meu cheiro de flor combina
com a da tua pele pelada
sou feliz com ou sem você
mas sou mais criativo
sob a tua sentada
senhora cachorra
um beijo grego (no seu Rabo)
de duração prolongada
sem piada, que os gregos é que
sabiam fazer uma boa cachorrada
sem neurose sem roubada
cachorrada sincera compartilhada
cachoeira límpida na mata fechada
amor com raízes e sem hora marcada
te quero agora e mais nada
amor sem coleiras
sem calculadora, sem relógio
sem régua, sem comparações
sem troféus nas prateleiras
que você possa, quando quiser,
lutar em outras trincheiras,
que você possa, quando quiser
encontrar água e sombra em mim
e descansar à minha beira:
se tiver ocupado no sábado
estarei on segunda-feira
Porque tudo isso é sobre o tempo
passando e mais nada
passar pelo teu corpo
como o vento, em lufadas
ainda tenho as costas arranhadas
da noite passada
eu fico mais bonito
com tua música à minha volta
o meu cheiro combina
com o da tua pele pelada
sou feliz com ou sem você
mas sou mais criativo
sob a tua sentada
ombros largos feito montanha
desço seus braços em estado de
formigamento
cordilheira a noite inteira
a lhe devorar aos pouquinhos
o firmamento.
cai a chuva toda feita de espinhos
delicado, ele foge de cada gota
como se fossem sempre outras
pequenos barulhos lhe assomam
e eu, meu rosto de homem outro,
anuncio amor com os pés cheios de guizos
o esforço para não lhe ferir, no quarto,
os vestíbulos.
fracasso, feneço e tropeço à sua beira.
cordilheira a noite inteira
o melhor que faço é me fazer formiga
agora grito grito e não sou mais
ouvido nem firo
com paciência, reinício meu retiro
coloco o amor por ele nas costas
oitenta vezes mais pesado
do que meu próprio amor
e retomo pelos tornozelos
o desejo em ferrões
os zelos sob a forma
de deslizes e atropelos.
será que tem câmeras nessa sala mofada?
certamente não... para que vigiar o filme?
que outro lugar podemos nos comer
de forma barata sem dar na vista?
(o filme está preso, diz o policial
ao projecionista)
vinícius de moraes falava
de um cinema dos olhos
abro o zíper, abaixa a calça
imorais fazendo um
cinema das mãos
(o filme está preso, diz o policial
ao projecionista)
seu Antônio deitado no piso
da sala de projeção
peito nu para afastar o calor
(erótico ao extremo, o cinema ferve
a sala de projeção)
queimam os cinemas
e as cinematecas
de vez em quando
feito meu rabo às
sextas-feiras
da cadeia o filme foge uma hora
com ajuda dos comparsas
o grande risco, no entanto,
antieros, antiheroi, o mofo
vai comendo pouco a pouco
os rolos, as histórias,
o meu e o teu corpo
volto a tomar meu medicamento
minha resistência a amigar-se com outra droga
meu ódio à sensação de embotamento
ponho de lado por um tempo
em prol do casal de noias
Diagnóstico & Tratamento
volto a não ler bulas
volto a promover misturas
não recomendadas pela ciência
abro mais uma garrafa de vinho do porto
desviando do abuso e inconsciência
comemoro o fato de que não estou morto
tô vivo e isso não é pouco
comemoro pequenas alegrias e dias
enquanto a paz plena não chega
a saúde mental saiu para comprar um cigarro
e ainda não veio
o fato de que tudo mudo e gira o tempo todo
acerta minha bike psicodélica em cheio
as pessoas dizem:
é preciso cuidar com a
banalização das doenças mentais
dizem isso com a maior desfaçatez
e sem mais
voltam a submergir em suas redes sociais
é preciso cuidar de um SUS que não satisfaz
um diagnóstico por vezes é caro, custoso, lento
corta pra minha mãe acordando cedo no relento
pra conseguir um médico que lhe cuide dos mil problemas
por ser pobre, mulher, idosa
precisando mentir sentir dores fortes
em pleno outubro rosa
porque do contrário
medirão sua pressão, e a pegando pela mão
a convidam a tentar consultar outro dia
é esse o sistema de que dependo
e por isso que não entendo
quem perde tempo fazendo fios e reels
cagando regra moral sobre saúde mental
enquanto o conselho municipal
de saúde vai ficando vazio
lá tiktoker de saúde não brota pra dar um pio
Eu quero saber
se a bupropiona
funciona
se a ritalina mais atina
que desatina
se a libido pode vir
em comprimido
se posso misturar vida
com drogas e drogas
assim por tantos anos
sem graves danos
se o doutor que as prescreve
em vinte anos se atreve
a fazer consigo o inventário
de efeitos colaterais
a quem interessam
poemas sonoros e virtuais
o ser e tempo da poesia?
certamente não ao poeta
paciente na sala de espera
de sua agonia.
Eu quero saber que horas chega a minha paz
Eu quero saber
quando vão banalizar política pública
quando as bobagens que nas redes e ruas são escutadas
serão pela escuta verdadeira confrontadas
por que isso sim curaria
mais escuta, mais costura,
informação, acolhimento, terapia
e enquanto a paz não chega,
vale o conselho da mãe da WD,
vai, seja forte, e volte viva
eu sou maria gladys, você helena ignez
a vida chama às oito, mas só colamos às três
eu sou rato fudido, vc é rata fadada
arte improviso, pixo na praça
isqueiro roubado, cerveja barata
cinema de margem, desejo fumaça
feminino plural, sexo vampiro
quando ninguém mais espera
trilha arromba cena, no herói me atiro
quando ninguém mais ousa y quer
roubamo o cofre das vanguardas,
comemo o cânone de colher
vc uma homem eu um mulher
pra nois nenhum kikito
pra nois nenhum pouquito
desses grammys gremlins jabutis
os mil y outros quelônios
que esses demônios criam
para se sabonetear eu y tu
na cadeia eu y tu sem nada
escrito no lattes em nossa
novela sempre fora do ar
eu y tu sarrando y sarnando
modo cachorrada chanchada
sem osso sem moral sem paga
nos matam nos julgam nos apagam
a gente vai e mais grita se esfaqueia
droga barata injetada na veia y rodeia
y borra y apaga y goza outra vez
você maria gladys, eu helena ignez
saber o que mallarmé
comia para lhe conter a
azia já não dá mais pé
o que michaux queria do poema
não é tão relevante ao poeta
quanto saber o valor do michê
o poeta quer saber
se a bupropiona
funciona
se a ritalina mais atina
que desatina
se a libido pode vir
em comprimido
se pode misturar vida
com drogas e drogas
assim por tantos anos
sem graves danos
se o doutor que as prescreve
em vinte anos se atreve
a fazer consigo o inventário
de efeitos colaterais
a quem interessam tais carestias,
poemas sonoros e virtuais,
o ser e tempo da poesia?
certamente não ao poeta
paciente na sala de espera
de sua hipocondria.
Meu cravo encarnado, meu manjericão
Dá 3 pancadinhas no meu coração...
vai embora o velho amor
no mesmo trem desce outro novo
cansado de vai e vem me faço nuvem
e eu chovo eu chovo e chovo
Vão rodando vão se amando
O amor velho e o amor novo
Vai girando meu planeta
Entre o sol e a lua
O que quer que eu peça ao vento
acabo sempre na mesma rua
Na mesma rua!
Na mesma porta mesma cama
meus versos se enroscando
pelas mesmas costas nuas
- Ah, não! Amor velho, não!
Eu não quero o teu amor
Já não quero essa roubada
Eu não quero o teu amor
Eu amo mesmo a cachorrada
Vem chegando novo amor
levo ele então pra roda de Ratoeira
Pra comigo a dois trovar
Tecer o canto, o rolê das rendeiras
Pq além de fazer verso
homem tem que saber fiar!
Vem chegando novo amor
levo ele então pra roda de Ratoeira
que resiste na Caeira
Pra fisgar sua atenção
Mas ele me escapa na Capoeira
por uma fresta no meu coração
Ele sempre tão envolvente,
chamando nas ideia divergente
Com seus mil corres, lutas e fitas
Fora as responsa fora o batente
Fora essa foda em frações capitalistas
Foda-se esse amor monoculturado!
A plantar organicamente amor no mundo
eu e você lado a lado
Te amar no Moçambique,
Te amar no Campeche,
Te amar na Galheta
Ser pescado por teu pau na minha boca
Navegar nas águas da tua buceta
Foda-se esse amor monocultivado!
Esse amor mídia que se faz
hoje no presente pelas redes
É muito mais careta
que o que se fazia
Em outras redes em
Em anos passados
Hey, Te amar no Carianos
por muitos e muitos anos
Te amar no Rio Vermelho
fodendo igual dois coelhos
Te amar no Monte Verde
Eu e tu contra a parede
meu cravo encarnado, meu manjericão
três tapas bem dados nesse rabão
meu galho de malva, meu buquê de flor
te encontro na esquina entre o prazer e a dor
Ah, não! lá vem ele, o velho amor
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
já não sou mais o mesmo
meu corpo fora de lugar
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
cola então no meu ouvido:
me aperta forte vou gozar
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
supero o ranço que de ti tenho
e enfim me ponho a te escutar:
"falaí cuzão, se não falou
que queria falar?"
"vc vai me ouvir, vc vai guardar bem?"
"vou, e te dou uma só estrofe:"
meu cravo encarnado, meu manjericão
dá três pancadinhas no meu coração
meu galho de malva, meu buquê de flor
nascestes no mundo para ser meu amor...
vai embora o velho amor
no mesmo trem desce outro novo
cansado de amar me faço nuvem
e eu chovo eu chovo e chovo
vai embora o velho amor
vai de jegue, a trote lento
e por isso me atormento
vai embora o velho amor
vai a jato, vai de avião
mergulho então na cachorrada
embarco na carreta furacão
Vão rodando vão se amando
O amor velho e o amor novo
Vai girando meu planeta
Entre o sol e a lua
O que quer que eu peça ao vento
acabo sempre na mesma rua
Na mesma rua!
Na mesma porta mesma cama
meus versos se enroscando
pelas tuas costas nuas
Vem chegando novo amor
chamo ele então pra roda de Ratoeira
Pra comigo a dois trovar
Tecer o canto, o rolê das rendeiras
Pq além de fazer verso
homem tem que saber fiar!
Vem chegando novo amor
Chamo ele então pra roda de Ratoeira
que resiste na Caeira
Pra fisgar sua atenção
Mas você me escapa na Capoeira
Você Me escapa feito um rio
a cortar meu coração
Você sempre tão envolvente,
chamando nas ideia divergente
Com seus mil corres, lutas e fitas
Fora as responsa fora o batente
Fora essa foda em frações capitalistas
Foda-se esse amor monocultivado!
A plantar organicamente amor no mundo
eu e você lado a lado
Te amar no Moçambique,
Te amar no Campeche,
Te amar na Galheta
Ser pescado por teu pau na minha boca
Navegar nas águas da tua buceta
Foda-se esse amor monocultivado!
Esse amor mídia que se faz
hoje no presente pelas redes
É muito mais careta
que o que se fazia
Em outras redes em
Em anos passados
Hey, Te amar no Carianos
por muitos e muitos anos
Te amar no Rio Vermelho
fodendo igual dois coelhos
Te amar no Monte Verde
Eu e você contra a parede
meu cravo encarnado, meu manjericão (ágil, mesmo tom das outras estrofes)
três tapas bem dados nesse rabão
meu galho de malva, meu buquê de flor
te encontro na esquina entre o prazer e a dor
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
já não sou mais o mesmo
meu corpo fora de qualquer lugar
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
cola então no meu ouvido:
me aperta forte vou gozar
chega depois de muitos anos
com um segredo pra contar
supero o ranço que de ti tenho
e enfim me ponho a te escutar:
"falaí cuzão, se não falou (Usar voz / posição no mic pra indicar novo personagem)
que queria falar
falaí, te dou uma estrofe:"
meu cravo encarnado, meu manjericão (em cantilena, reduz o ritmo nos 2 versos finais)
dá três pancadinhas no meu coração
meu galho de malva, meu buquê de flor
nascestes no mundo para ser meu amor...
eros cura a depressão?
as várias mensagens por
responder e as fotos
por curtir dizem: não
hoje não, Hades,
voltes mais tarde
que não saio de casa:
a pia está cheia,
o drive está cheio,
pendurado no varal
meu par de asas.
eros cura a depressão?
o trabalho que dá abrir-se
em poemas, sessões de terapia,
conversas, esquemas, receituários,
o afeto sempre a mordiscar
o esmilinguido salário,
o leitor sempre com
um conselho ligeiro à mão,
não não não não!
tem horas que eros
é um baita cuzão
e o depressivo faz
o papel de otário.
por que se demora na tristeza,
ele não vai trocar o disco?
por que ignora a face psicossocial
de sua enfermidade
para enfim curá-la,
ela não tem essa vontade?
por que insistem em ladainhas
pirão ralo d'água
solidão e farinha,
por que não vivem
o agora, o hoje,
por que não dizem:
não choro, não saboto,
não reclamo, nem de mim nem de você,
pernas para que te quero, Eros!
hoje só quero meu gato ao meu lado
quem te viu, quem te vê, Psiquê!
online hoje apenas para
skincare e autocuidado,
hein, hein? por quê?
eros cura a depressão?
sim! e não.
quando se encontram na rua
de madrugada
voam garrafas
e comprimidos
e saem os dois na mão.
no outro dia, de ressaca,
um se levanta atrasado e vai trabalhar,
e outro confere discretamente
o celular, deixa um ou dois likes,
e depois mete o pé.
meu poete preferide é ana cristina césar.
descobrir seus livros foi uma paixão avassaladora, em nada diferente dos grandes amores que tive de carne e osso, porque eu não sei separar muito bem os afetos em prateleiras, os vivos e os mortos, os próximos e o distantes - acho besteira. como eu, ana c. amava cartas, poesia. como eu, ana c. estudou Letras e lutava contra a depressão. hoje tenho 32 anos. ana c. tinha 31 quando partiu. ana c. cadê você?
meu poete preferide é a belaisa, que acabou de se apresentar/que ainda vai se apresentar. gosto do jeito que ela junta & bagunça as palavras, acho que ela envolve mto bem a gente numa trama quando fala. e aí ela ainda fala com aquela voz dela... ai.
meu poeta preferide é meu filho téo. ele, como toda criança que tem seu direito ao amor e à escuta atendidos, diz poemas maravilhosos. ele tem 4 anos e disse que quando fizer 44 vai ganhar um patinete de aniversário.
meu poete preferide é a Suellem, que não sabia, até outro dia, que esse slam iria ocorrer.